sábado, 30 de janeiro de 2010

Um tesouro musical*

Pesquisa traz à luz uma surpreendente coleção de órgãos barrocos em igrejas brasileiras. São instrumentos de valor histórico inestimável.
Marcelo Bortoloti
Peça rara: Catedral de Mariana: o órgão, de 1710, é de fabricação do alemão Arp Schnitger.
Entre o fim do século XVII e meados do XIX, surgiu na Europa uma preciosa coleção de órgãos de igreja que, até hoje, se distingue pelas dimensões monumentais, pela riqueza de ornamentos e pelo som, de nitidez incomparável. De valor inestimável para a arte sacra e a música erudita, tendo sido uma das principais ferramentas de trabalho de compositores como o alemão Johann Sebastian Bach (1685-1750), esses órgãos barrocos formam um surpreendente acervo no Brasil – tesouro pouco conhecido que, só agora, começa a vir à luz. O mérito é de uma pesquisa conduzida na Universidade Sorbonne, que catalogou os exemplares existentes no país. A lista não é extensa. De uma centena deles de que se tem registro no século XVIII, sobraram apenas quinze, dois dos quais em funcionamento. A coleção, modesta se comparada à de países europeus, chama atenção pelo exagero de pinturas e entalhes recobertos de ouro e ainda por uma peça que a torna singular: um instrumento de 1710 assinado pelo alemão Arp Schnitger (1648-1719), espécie de Antonio Stradivari, o célebre construtor de violinos, no mundo dos órgãos barrocos. Não há mais que trinta desses Schnitgers em uso. O do Brasil enfeita a Catedral da Sé de Mariana, em Minas Gerais, à qual foi doado em 1753 por dom José I, rei de Portugal. Restaurado, ainda se presta a belíssimos concertos de música barroca.
O atual trabalho ajuda a lançar luz sobre a história desses órgãos no Brasil – e também sobre a própria história do país. O propósito original ao trazê-los da Europa para a colônia era animar missas e arregimentar fiéis. "Esses instrumentos vão funcionar melhor do que as pregações", escreveu ao rei o bispo de Salvador, dom Pero Fernandes Sardinha, em 1552, imbuído da missão de catequizar índios. No Brasil imperial, os órgãos barrocos se popularizaram, a exemplo do que ocorria àquele tempo nas cortes europeias. Na cena da coroação de dom Pedro I, em 1822, retratada por Debret, aparece ao fundo o órgão no qual se executou, naquela ocasião, composição de José Maurício Nunes Garcia, um dos grandes nomes da música barroca no Brasil (sim, houve uma profícua produção do gênero no país, ainda que com o previsível atraso e influências do classicismo). Tal órgão, do qual só permaneceu uma parte da caixa ricamente decorada, pode ser visto na antiga Catedral da Sé do Rio de Janeiro.
Nenhum instrumento produz, sozinho, acordes tão ricos quanto os órgãos barrocos. Seu princípio de funcionamento é o de um instrumento de sopro, mas, no lugar do pulmão humano, se faz uso de foles que enviam o ar, simultaneamente, a dezenas de tubos que emitem o som. É como se fosse um conjunto de flautas gigantes, com até 10 metros de altura. "O que distingue os modelos barrocos é que nenhum outro permite escutar com tamanha nitidez tantos acordes ao mesmo tempo", afirma a especialista Elisa Freixo. Seu mecanismo garante que o ar chegue imediatamente aos tubos quando o teclado é acionado, processo que leva até meio segundo nos demais modelos – suficiente para a perda de limpidez do som. Eles também se diferenciam pela concentração de finíssimos tubos, de onde saem tons de um agudo extremo. Os órgãos fabricados mais tarde privilegiaram sons mais graves e difusos – o que os adequava a uma nova função, a de integrar orquestras.
Países como Espanha e Portugal, donos de valiosas coleções de órgãos barrocos, já se dedicam à conservação desses instrumentos há um século. "No Brasil, predomina o descaso", diz o brasileiro Marco Aurélio Brescia, à frente da pesquisa da Sorbonne. Ele ficou chocado, por exemplo, ao encontrar na cidade mineira de Bom Jesus do Amparo destroços de um órgão barroco do século XIX, obra de um artesão local. Com o que sobrou, ainda é possível reconstruir o maquinário original. De outra preciosidade da coleção, o órgão do Mosteiro de São Bento, no Rio, só ficou de pé a caixa original – até hoje lá –, boa amostra da imponência barroca. Mesmo que com atraso, o inventário dessas obras é o primeiro passo para a conservação do tesouro que restou.
Fonte: revista Veja – Edição 2.150, de 03.02.2010.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Propaganda institucional

Durante todo o ano de 2009 e o inicio deste ano de 2010, a Câmara Municipal de Mariana fez matéria publicitária paga em todos os meios de comunicação de Mariana e da região dos Inconfidentes.
Um fato interessante acontecia. As matérias institucionais veiculadas não davam nenhum destaque às atividades legislativas da Casa nem sequer destacavam as atividades parlamentares dos vereadores. A Câmara pagava meia pagina de jornal, quando não era uma, para dar recados que todo mundo já sabe, sem a menor importância política, social ou interesse público.
Alguns exemplos: “Não se esqueça! Reuniões ordinárias da Câmara de Mariana. Todas as segundas-feiras a partir da 19 horas”. “Caro cidadão, a Câmara de Mariana estará em recesso parlamentar durante o mês de janeiro, portanto, não haverá reuniões ordinárias neste período. As reuniões voltam a acontecer, normalmente, a partir do dia 1º de fevereiro, todas as segundas- feiras, às 19 horas.”.
São informações que poderiam ser divulgadas de graça, que se tornaram matérias pagas e que custam muito caro aos cofres públicos. O espaço publicitário pago não é aproveitado para melhorar a imagem do legislativo nem das atividades de seus parlamentares. Usar espaço publicitário pago para dar esse tipo de informação, no meu entendimento, salvo melhor juízo, é jogar dinheiro público fora. Urge, pois, usar o espaço publicitário pago com informações de maior interesse público, político e social.
Conclusão da historia: o poder executivo não soltou grana para a imprensa. Por causa disso, durante todo o ano de 2009, o prefeito apanhou feio qual um cego em tiroteio. Já a Câmara Municipal e seus vereadores foram amplamente poupados e elogiados. Também pudera: com dinheiro público no bolso e regabofe natalino, nao há imprensa que resista a tamanha generosidade parlamentar!...