O carnaval e a imprensa*
Por uma questão de bairrismo, marianenses ficam indignados com a postura da imprensa mineira e nacional que faz muita badalação em torno de qualquer evento que acontece em Ouro Preto, em detrimento de outras cidades, também importantes como Mariana, que não recebem o mesmo tratamento da mídia impressa e televisiva. Um sujeito que mostrar a bunda e soltar um peido na Praça Tiradentes vira manchete nacional. Se o mesmo fato acontecesse aqui em Mariana, não passaria de um traque: ninguém ficaria sabendo. Essa obsessiva badalação da imprensa por Ouro Preto se é bom por um lado, é muito ruim por outro lado, pois toda vez que há grandes eventos na vizinha e histórica cidade, como Carnaval, Semana Santa, Dia de Tiradentes, Festival de Inverno e 12 de outubro, muitos turistas farofeiros, baderneiros, marginais e consumidores de drogas não perdem tempo: vão fazer “turismo” em Ouro Preto para desespero da tradicional e conservadora família ouro-pretana.
A imprensa nacional fala muito bem do carnaval de Ouro Preto, mas não conta que a cidade, nesses quatro dias de folia, vira uma imensa latrina carnavalesca. É fedor de bosta e urina por toda a cidade, a ponto de a prefeitura ser obrigada a dar um banho nela durante e após o carnaval. A sujeira que também aconteceu aqui em Mariana é fichinha perto do que aconteceu em Ouro Preto e, por causa disso, a elite marianense já há muitos anos foge do nosso carnaval preferindo ir para a praia. Esse negócio de querer que a imprensa badale o nosso carnaval é pura ilusão. Não é bom porque atraem, como Ouro Preto, muitos turistas de quinta categoria...
*Matéria escrita em Fevereiro/2005
Blocos carnavalescos*
Antigamente, os blocos carnavalescos tinham muita criatividade. Eram fantasias muito chiques, carros alegóricos luxuosos, belíssimas marchinhas carnavalescas. Aquele ambiente gostoso e cheiroso dos lança-perfumes.
Hoje é tudo diferente. Para se fazer um bloco carnavalesco, os espertos organizadores recebem verbas municipais e com elas compram abadás, espécie de bata usada pelos blocos carnavalescos da Bahia, revendendo-as, em seguida, para os próprios componentes do bloco, nelas ficando estampados, não só a logomarca do bloco, como também a de patrocínios diversos, como, por exemplo, de políticos, marcas de cerveja. Transformam as verbas públicas municipais em um lucrativo negócio carnavalesco.
Está pronto, assim, o bloco dos alcoólatras carnavalescos, sem arte e nenhuma criatividade para o delírio dos organizadores que faturam vendendo cervejas e patrocínios.
*Matéria escrita em Fevereiro/2006
Carnaval de ontem e de hoje*
Muitas famílias tradicionais de Mariana, num bairrismo sadio, reclamam, com razão, que a imprensa escrita, falada e televisionada nacional e regional é preconceituosa, pois divulga muito mais o carnaval de outras cidades históricas de Minas Gerais, mas quase sempre esquece propositadamente de Mariana. Quantas vezes belas imagens de Mariana são divulgadas nos jornais e revistas do país como se fossem imagens de outras cidades históricas. O engano dos editores da matéria jornalística só acontece contra a nossa cidade, caracterizando uma contumaz má fé.
Ao contrário do que muita gente pensa, a badalação carnavalesca promovida pela imprensa traz mais problemas que benefícios para as cidades históricas. Essa promoção midiática só atrai turistas farofeiros, sem dinheiro, que ficam hospedados nos campings, pousadas de quinta categoria, em repúblicas de estudantes e até nas ruas onde fazem suas necessidades fisiológicas, causando aquele indesejado mau cheiro nas vias públicas, obrigando a prefeitura a usar, nos quatro dias de carnaval, os carros-pipa para lavar os passeios para tirar a sujeira e a fedentina causadas pelos turistas farofeiros, apesar da existência de dezenas de sanitários químicos colocados à disposição deles.
Até o começo da década de 1970, antes do seu precoce inchaço populacional e de seu crescimento desordenado causados pela expansão das atividades de mineração no município, Mariana tinha um carnaval familiar, artístico e muito criativo. Os blocos carnavalescos do Marianense e Guarany eram belíssimos, fantasias chiques, belos adereços, plumas e paetês e o mágico perfume dos lança-perfumes, confete e serpentina. As marchinhas carnavalescas eram românticas, até hoje, inesquecíveis. Nada de som estridente de trio elétrico tocando funk, axé e baianadas. A nossa verdadeira banda dos farrapos, criada pelo saudoso marianense Niquinho Walter, precisa voltar. Os atuais músicos das corporações musicais de Mariana não podem deixar que o nome da tradicional banda de farrapos se transforme agora em um instrumento para divulgação de música de péssima qualidade com letras chulas e pornográficas e que agridem a sensibilidade artística dos músicos, a moral e bons costumes do povo marianense.
Como não havia badalação da imprensa, só freqüentavam o nosso carnaval os parentes de marianenses residentes em Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília. Todos os marianenses que moravam fora traziam amigos e amigas que ficavam hospedados nas casas de seus parentes. Os bares e restaurantes da cidade ficavam todos abertos para receber os foliões que podiam sentar e beber à vontade nas cadeiras e mesas dentro do estabelecimento com todo o conforto, fazendo aquele gostoso aquecimento preliminar para assistir ao desfile dos blocos carnavalescos nas ruas e depois desfrutar pela madrugada afora o carnaval nos clubes da cidade.
Antigamente, os blocos carnavalescos exibiam um visual belo e requintado um verdadeiro colírio para os olhos e o samba-enredo um deleite musical para ouvidos apurados. Não é essa barulheira infernal de trios elétricos capaz de agredir e desrespeitar as pessoas de bom gosto e sensibilidade musical.
No meu entendimento, salvo melhor juízo, atualmente, carnaval com arte e criatividade no Brasil só existe no Rio de Janeiro, São Paulo, Recife e Olinda. O resto, inclusive nas cidades históricas, é só propaganda enganosa da imprensa. Hoje, basta o folião vestir um abadá, ter um trio elétrico barulhento tocando música funk e axé, muito bebida alcoólica e pronto: está formado um bando de alcoólatras, injustamente chamado de bloco carnavalesco. Haja paciência para suportar tamanha mediocridade!
*Fonte: Blog do Ozanan – 27.02.2009.
Atualização: nos últimos 20 anos, devido à má qualidade do nosso carnaval de rua, a elite marianense foge da folia momesca como o diabo da cruz. Prefere ir para Ouro Preto e outras cidades históricas ou curtir o carnaval na praia, no Rio de Janeiro, Bahia ou Recife. Para conter a evasão de mauricinhos e patricinhas, a grande novidade do carnaval de Mariana deste ano será a apresentação na Mina Del Rey de grandes shows de cantores conhecidos nacionalmente como Luan Santana, 1º de março, sábado; Alexandre Peixe, 2 de março, domingo; Gustavo Lima, 3 de março, segunda-feira e Thiaguinho em 4 de março, terça-feira. Em caráter liminar o juiz Pedro Camara Raposo Lopes suspendeu a cobrança de portaria dos shows que serão realizados na Mina Del-Rei, atendendo a uma ação popular movida por Geraldo Moreira de Oliveira. A decisão judicial provocou um animado foquetório na manhã de hoje no Morro do Cruzeiro.
Em razão dessa decisão judicial, o municipio divulgou o seguinte comunicado
"A Prefeitura de Mariana, acatando uma decisão liminar da Justiça local, vai abrir os portões de todos os shows a serem realizados na área da Mina Del Rey. O município de Mariana reforça que desde o início o projeto é um carnaval auto-sustentável e destaca a preocupação com a segurança dos foliões, devido ao limite de pessoas no local dos shows. A prefeitura pede aos foliões que curtam os shows na Mina Del Rey, evitando confusões para que todos aproveitem a festa. Esclarecemos ao público que todas as pessoas que adquiriram ingressos serão ressarcidas. Quem já tinha adquirido o ingresso deve retornar no local de venda para receber o dinheiro de volta".