sexta-feira, 12 de junho de 2009

Macaquices artísticas e literárias

Na novela das sete, Caras e Bocas, da Rede Globo, há um quadro muito engraçado protagonizado pelo macaco Chico. O autor da novela satiriza artistas plásticos que ganham nos meios culturais súbita notoriedade e a falsa fama de gênios da pintura. A novela conta a história de um pintor medíocre, que não consegue vender seus quadros. Um dia, o pintor resolve levar para o seu atelier atulhado de quadros enjeitados o macaco Chico. Passando sérias dificuldades financeiras, o pintor resolve ir atrás de proprietários de galerias de arte para vender e expor seus trabalhos artísticos, deixando o macaco sozinho no seu atelier.
Quando voltou, o pintor levou um susto danado. Seus quadros foram todos borrados de tinta pelo macaco. Quando foram ver os quadros, os especialistas de arte ficaram deslumbrados com a genialidade do pintor. Já marcaram até a data da exposição numa galeria de arte muito famosa. O pintor medíocre poderá ficar de repente, famoso e rico, graças à criatividade do macaco Chico.
Com as exceções de praxe, no Brasil e no mundo são criados dessa maneira os mitos, os falsos gênios da pintura, da cultura, da literatura e da poesia. O sucesso desses gênios de araque é contrariar o que é já universalmente considerado belo. Querem reinventar a roda e virar moda. Ler hoje jornais e suplementos literários modernos é um suplicio para quem não faz parte dessa escola de malucos que escrevem sobre literatura e poesia de tal maneira hermética que ninguém entende patavina. Egoístas, almejam passar a impressão de que são sábios à moda do macaco Chico.
Com saudade, sinto que já não surgem mais poetas simbolistas do porte elegante de um Cruz e Souza e do nosso sublime vate das litanias, Alphonsus de Guimaraens, parnasianos como Olavo Bilac, o arcadismo dos inconfidentes mineiros Cláudio Manoel da Costa e Tomás Antonio Gonzaga, o romantismo de Gonçalves Dias, Castro Alves, Fagundes Varela e José de Alencar. Atualmente a prosa e a poesia são feitas sem pé nem cabeça, algumas de cabeça para baixo imitando a criatividade do macaco Chico.
Os intelectuais de hoje, com raras e honrosas exceções, são paupérrimos em produções literárias que não provocam repercussão sequer no seu próprio meio acadêmico. São autores de obras medíocres, desconhecidas, que ninguém comprou, viu, leu ou admirou como obra de arte e de bom gosto. Mas são pródigos e criativos em fazer propaganda pessoal enganosa na mídia e nos suplementos literários. Ficam mais conhecidos do que suas próprias obras de araque. Vaidosos, gabam-se pertencer a ilustres instituições culturais desconhecidas, adoram receber medalha, diploma, menção honrosa, mérito legislativo, titulo de cidadão honorário, comendas, serem destaques com direito a badalação jornalística publicitária. São intelectuais especialistas em captação de verbas públicas para bancar pseudos projetos culturais que, na verdade, são desviados para pura promoção pessoal. Como diria o sábio filósofo Chacrinha “quem não se comunica se estrumbica”
Haja santa paciência para aturar a sinistra influência criativa do Chico chimpanzé sobre os intelectuais modernistas do século XXI!

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Academia Mineira de Letras

Para participar das solenidades comemorativas do centenário de fundação da Academia Mineira de Letras estarão visitando Mariana, hoje, a Diretoria e demais acadêmicos para prestar uma homenagem ao poeta Alphonsus de Guimaraens, patrono dessa instituição cultural. A comitiva chegará a Mariana por volta das 10 horas, entrando pela Rua Dom Silvério e Professor Waldemar de Moura Santos e será recebida e recepcionada no Centro de Atendimento ao Turista (CAT) , na Rua Direita, pelo prefeito de Mariana e Presidente da Casa de Cultura de Mariana – Academia Marianense de Letras, Prof. Roque Camêllo e demais autoridades civis, eclesiásticas e acadêmicas.
Em seguida, a comitiva, acadêmicos e demais autoridades irão visitar o Museu Alphonsus de Guimaraens, onde o Presidente da Academia Mineira de Letras, Murilo Badaró irá afixar uma placa em homenagem ao poeta patrono da instituição, com a seguinte inscrição: “Hoje, 05 de junho de 2009, ano do seu centenário, a Academia Mineira de Letras homenageou, em romaria cívico-cultural, seu patrono Alphonsus de Guimaraens, visitando esta casa onde ele viveu com a esposa D. Zenaide e os filhos e faleceu em 15 de julho de 1921. Murilo Paulino Badaró, Presidente da Academia Mineira de Letras”.
Depois desta solenidade, a comitiva da Academia Mineira de Letras e demais autoridades irão visitar a Casa de Cultura de Mariana. Nessa ocasião, a Academia Marianense de Letras irá prestar uma homenagem ao centenário da Academia Mineira de Letras, afixando no hall de entrada desta instituição acadêmica uma placa de bronze com a seguinte inscrição: “Nesta data, a Academia Marianense de Letras recebeu a visita oficial da Academia Mineira de Letras, presidida pelo senador Murilo Paulino Badaró. Este evento integrou as comemorações do centenário de fundação da Academia Mineira de Letras que, em romaria cívico-cultural a Mariana, homenageou seu patrono, poeta Alphonsus de Guimaraens. Murilo Paulino Badaró, Presidente da Academia Mineira de Letras – Roque José de Oliveira Camêllo, Presidente da Academia Marianense de Letras – Hebe Maria Rôla Santos, Vice-Presidente da Academia Marianense de Letras. – Mariana, 05 de junho de 2009”.
Terminando as solenidades comemorativas do centenário de fundação da Academia Mineira de Letras, os acadêmicos e demais autoridades irão visitar o mausoléu de Alphonsus de Guimaraens, no Cemitério Municipal, onde também será afixada uma placa em homenagem ao poeta simbolista, com a seguinte inscrição: "Em 05 de junho de 2009, ano do centenário de sua fundação (25.12.1909), a Academia Mineira de Letras, em romaria cívico-cultural, homenageou seu Patrono o poeta simbolista Alphonsus de Guimaraens falecido em 15.07.1921 e que repousa neste mausoléu mandado erigir pelo então Governador Juscelino Kubitscheck e por este inaugurado em 13.12.1953. "Ad perpetuam poetae memoriam". Murilo Paulino Badaró, Presidente da Academia Mineira de Letras, Roque José de Oliveira Camêllo, Prefeito de Mariana, Raimundo Elias Novais Horta, Presidente da Câmara Municipal de Mariana.

Mausoléu Alphonsus de Guimaraens
Cronologia da construção do Mausoléu no cemitério municipal de Santana em homenagem ao poeta Alphonsus de Guimaraens.
15.07.1921 – Falecimento de Alphonsus de Guimaraens que foi enterrado no cemitério da igreja do Rosário.
16.07.1921 – Dia de Mariana, Alphonsus de Guimaraens é sepultado no cemitério da igreja do Rosário.
26.07.1952 – Por iniciativa do governador de Minas Gerais, Juscelino Kubitscheck, a Assembléia Legislativa aprovou a lei nº 878, autorizando a construção do mausoléu no cemitério municipal de Santana.
05.05.1953 - O arcebispo de Mariana, Dom Helvécio Gomes de Oliveira baixava portaria, a pedido da família Guimaraens, para que os despojos do poeta simbolista fossem transladados para o Cemitério Municipal de Mariana.
30.05.1953 – O prefeito de Mariana, Manoel Leandro Correa, resolve conceder sem qualquer ônus para a Familia Guimaraens a área necessária para a construção do mausoléu.
24.10.1953 – Os restos mortais de Alphonsus de Guimaraens foram transladados do cemitério do Rosário para o cemitério municipal de Santana. Realizou-se, na verdade, como que um novo funeral, com a presença de autoridades civis e eclesiásticas e pessoas da família do poeta. Oficiou as exéquias o Cura da Catedral da Sé, Cônego Oscar de Oliveira. Depois da bênção de suas cinzas, a urna mortuária do poeta foi depositada no novo jazigo em Santana. Lavrou-se uma ata assinada pelos presentes e familiares.
13.12.1953 – Inauguração oficial do mausoléu, com a presença do governador Juscelino Kubitscheck. Na ocasião, discursaram o governador e o poeta Augusto Frederico Schmitd e os filhos do poeta homenageado. A frase insculpida no mármore do mausoléu tem a seguinte inscrição: “A minh’alma é uma cruz enterrada no céu”.
Fonte: Dados extraídos do livro Alphonsus de Guimaraens, de autoria de seu filho Alphonsus de Guimaraens Filho, que tomou posse na Academia Mineira de Letras em 1946 e foi o primeiro acadêmico a tomar posse na Academia Marianense de Letras, em 28.10.1962, no dia de sua fundação. Faleceu no final do ano passado aos 90 anos.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Mariana esquecida

Rafael Arcanjo Santos

A veneranda cidade de Mariana, que pleiteia o titulo de “Patrimônio Cultural da Humanidade”, precisa ainda melhorar o seu núcleo histórico, hoje já devidamente delimitado. Na verdade, não só o núcleo histórico, mas toda a cidade de Mariana merece um cuidado maior da atual administração pública municipal.
Com as constantes chuvas, que se prolongaram até abril, a cidade demonstrou grande vulnerabilidade na sua estrutura física, sobretudo naqueles logradouros que foram mal revitalizados. Assim pode ser vista a histórica cidade: ruas esburacadas, algumas até afundando; os passeios irregulares e cheios de saliências e buracos; alguns casarões em estado de ruínas; obras inacabadas. As obras em andamento caminham lentamente. Com relação às igrejas, apenas a do Carmo e a de São Pedro estão em estado satisfatório. A igreja da Arquiconfraria de São Francisco do Cordão (Rainha dos Anjos) já perdeu até a cruz que encimava o templo. A igreja de Santana é a única que sofre lenta restauração. O telhado da igreja de São Francisco de Assis parecia um “barroco vegetal”, tal a quantidade de plantas em processo de crescimento. Com relação a essa igreja, interditada recentemente, a morosidade na decisão de reabrir o templo franciscano para as devidas reformas é um ato de irresponsabilidade daqueles que deveriam ser ágeis na sentença, pois imóvel fechado é sinal de deterioração rápida e de recuperação onerosa.
Infelizmente, não houve sintonia nem entendimento entre a Irmandade Franciscana, o Ministério Público e o Iphan, pois uma identidade de propósitos e um pouco de bom senso e prudência assegurariam o êxito da importante e rápida recuperação do templo, sem necessidade da precipitada interdição, ação prejudicial à irmandade e ao turismo de Mariana. Ainda bem que, mesmo tardiamente, a igreja foi aberta ao público local e aos turistas. A igreja das Mercês está ruindo lentamente, precisando de reforma urgente, em situação deplorável, ainda pior do que a de São Francisco de Assis – e não foi interditada. A Sé Catedral é outro monumento que precisa passar por uma reforma urgente.
As autoridades públicas, o clero e a sociedade marianense, em sintonia, precisam empenhar-se mais na valorização do patrimônio histórico-cultural de Mariana, mas com ações efetivas e eficazes voltadas para a preservação do que ainda resta do valioso legado do século XVIII.
A cidade de Mariana é linda, mas está muito maltratada. Urge trabalhar muito para merecer o tão sonhado e cobiçado titulo de “Patrimônio Cultural da Humanidade”.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Memória político-religiosa

A divulgação por um jornal local de que o arcebispo de Mariana teria enviado uma correspondência ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), segundo o jornal, pedindo para reverter uma sentença contra o prefeito de Mariana, me inspirou a escrever essa memória. Obviamente, em respeito ao leitor, não irei fazer comentários sobre essa misteriosa carta que ninguém viu ou leu, nem mesmo viu ou leu o próprio jornal que divulgou a noticia.
Como São Tomé, e, em homenagem ao tão propalado e nem sempre cumprido dever de respeito ao leitor, eu só acreditarei na existência dela quando tiver o privilegio de ver e lê-la. Responsável, ao contrario do jornal e de outros que deram opinião sobre aquilo que não viram e nem leram, não faço comentários sobre fatos que não conheço.
Na maioria das vezes, o relacionamento entre os nossos políticos e o clero marianense sempre foi cordial, respeitoso e se pautou por ajuda e cooperação recíprocas. As festividades cívicas e religiosas e ações sociais em beneficio da comunidade marianense foram sempre prestigiadas pelas duas partes.
De vez em quando houve conflitos. No começo do século XX, o segundo arcebispo de Mariana, Dom Helvécio Gomes de Oliveira, tinha muita influência política em Mariana. Todo candidato que indicava ganhava as eleições. Quando o Dr. Gomes Freire da Direita e o Desembargador Cristóvão Breyner da Esquerda disputavam a indicação de ser candidatos a prefeito, o arcebispo optou por Gomes Freire que ganhou a eleição.
Porém em 1946, contrariando o arcebispo que não queria que sacerdotes participassem de eleições, o Cônego José Pedro Cota, da Direita disputou e ganhou a eleição contra Dante Guimarães Sampaio, candidato da Esquerda.
Já o terceiro arcebispo, Dom Oscar de Oliveira, manteve neutralidade do clero em relação à política. Mas mesmo assim sofreu perseguição política quando um prefeito da Esquerda, em represália, resolveu desapropriar a mata do Seminário para instalar ali o que seria o bairro Cabanas. O arcebispo teve que pedir socorro ao governador do Estado para que a área não fosse desapropriada pelo prefeito. O padre Simim*, que era militante da Esquerda, também sofreu perseguição por parte da Direita que estava no poder e o mandou prender. O padre José Dias Avelar também sofreu feroz perseguição por parte de um prefeito da Esquerda, enquanto vivo. Depois que o padre Avelar morreu, esse prefeito, talvez arrependido, mudou o nome do Ginásio Dom Frei Manoel da Cruz para Colégio Padre Avelar. Ainda no episcopado de Dom Oscar, atendendo a um apelo eclesiástico, um ex-prefeito da Esquerda deu apoio político eleitoral ao candidato a deputado federal, Elias de Souza Carmo, apoiado pelo clero.
Recentemente, quando Dom Luciano Mendes de Almeida já era arcebispo de Mariana, o Padre João foi eleito deputado estadual com o apoio do PT local.
Foram, portanto, fatos políticos raros e isolados que, felizmente, não comprometeram a cordialidade e o bom relacionamento entre o poder civil e o religioso de Mariana.