terça-feira, 2 de junho de 2009

Memória político-religiosa

A divulgação por um jornal local de que o arcebispo de Mariana teria enviado uma correspondência ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), segundo o jornal, pedindo para reverter uma sentença contra o prefeito de Mariana, me inspirou a escrever essa memória. Obviamente, em respeito ao leitor, não irei fazer comentários sobre essa misteriosa carta que ninguém viu ou leu, nem mesmo viu ou leu o próprio jornal que divulgou a noticia.
Como São Tomé, e, em homenagem ao tão propalado e nem sempre cumprido dever de respeito ao leitor, eu só acreditarei na existência dela quando tiver o privilegio de ver e lê-la. Responsável, ao contrario do jornal e de outros que deram opinião sobre aquilo que não viram e nem leram, não faço comentários sobre fatos que não conheço.
Na maioria das vezes, o relacionamento entre os nossos políticos e o clero marianense sempre foi cordial, respeitoso e se pautou por ajuda e cooperação recíprocas. As festividades cívicas e religiosas e ações sociais em beneficio da comunidade marianense foram sempre prestigiadas pelas duas partes.
De vez em quando houve conflitos. No começo do século XX, o segundo arcebispo de Mariana, Dom Helvécio Gomes de Oliveira, tinha muita influência política em Mariana. Todo candidato que indicava ganhava as eleições. Quando o Dr. Gomes Freire da Direita e o Desembargador Cristóvão Breyner da Esquerda disputavam a indicação de ser candidatos a prefeito, o arcebispo optou por Gomes Freire que ganhou a eleição.
Porém em 1946, contrariando o arcebispo que não queria que sacerdotes participassem de eleições, o Cônego José Pedro Cota, da Direita disputou e ganhou a eleição contra Dante Guimarães Sampaio, candidato da Esquerda.
Já o terceiro arcebispo, Dom Oscar de Oliveira, manteve neutralidade do clero em relação à política. Mas mesmo assim sofreu perseguição política quando um prefeito da Esquerda, em represália, resolveu desapropriar a mata do Seminário para instalar ali o que seria o bairro Cabanas. O arcebispo teve que pedir socorro ao governador do Estado para que a área não fosse desapropriada pelo prefeito. O padre Simim*, que era militante da Esquerda, também sofreu perseguição por parte da Direita que estava no poder e o mandou prender. O padre José Dias Avelar também sofreu feroz perseguição por parte de um prefeito da Esquerda, enquanto vivo. Depois que o padre Avelar morreu, esse prefeito, talvez arrependido, mudou o nome do Ginásio Dom Frei Manoel da Cruz para Colégio Padre Avelar. Ainda no episcopado de Dom Oscar, atendendo a um apelo eclesiástico, um ex-prefeito da Esquerda deu apoio político eleitoral ao candidato a deputado federal, Elias de Souza Carmo, apoiado pelo clero.
Recentemente, quando Dom Luciano Mendes de Almeida já era arcebispo de Mariana, o Padre João foi eleito deputado estadual com o apoio do PT local.
Foram, portanto, fatos políticos raros e isolados que, felizmente, não comprometeram a cordialidade e o bom relacionamento entre o poder civil e o religioso de Mariana.

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