quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

10 Anos: Igreja do Gogô encaixotada e esquecida*


Em 24 de março de 2008 Mariana recebia com bandas de música, Zé Pereira e muito foguete as peças da igreja Santana do Morro, construída em Mariana em 1712 no alto do Gogõ e desmontada e levada para BH em 1970. As peças vieram em várias viagens de caminhão, embaladas, dedetizadas, de onde estavam num galpão da UFMG, resultado de ação judicial proposta em 2004 por marianenses. Faz dez anos que chegaram e foram desembaladas por curiosos, estão a cada dia mais sujeitas ao tempo, poeira e umidade. Recebida com toda pompa e circunstância pelo prefeito na época Celso Cota, pelo bispo Dom Geraldo Lyrio Rocha.
As chegadas das peças vieram como parte de acordo para reconstrução da igreja, do contrário, pra que viriam? Assinado um acordo judicial, a prefeitura de Mariana se comprometia a reconstruir a igreja usando as peças que hoje estão mal guardadas e foram desembaladas.
Dom Geraldo bateu o sino e disse que o sino voltaria a bater no alto do Gogô, no local de origem da antiga igreja. Foi a primeira vez na história de Minas que uma igreja inteira foi devolvida, e de bom grado.
Entenda: em 1712 Dom Jerônimo autorizou a construção da igreja no alto do Morro Santana, facilitando assim as pessoas irem a missa. A comunidade construiu a igreja. Na década de 70 quase todos moradores do Gogô já tinham se mudado para parte baixa e as minas de ouro foram abandonadas assim que a escravidão foi abolida. Dom Oscar permitiu que a igreja Santana fosse desmontada e levada para Belo Horizonte, pois se ficasse sozinha lá no alto seria toda saqueada. A ideia de desmontá-la foi dos donos da Mendes Junior, que a levaram para sua sede onde foi inaugurada em 1971. Porém, com a venda da sede na década de 90 para a UNI-BH, a igreja foi novamente desmontada e levada para um galpão da UFMG, acrescida de peças que foram usadas para completar o conjunto.
Em 2001, o jornal O Espeto publicou matéria sobre a igreja que, em 2004, foi encontrada em BH, inclusive com viagem dos moradores acompanhados pelo vereador Bambu até BH. No mesmo ano, 2004, iniciou-se um abaixo assinado que foi enviado ao Ministério Público com 711 assinaturas pedindo a volta para ser reconstruída no seu devido e antigo lugar. Quatro anos depois, em 2008, houve um acordo judicial onde a prefeitura se comprometeu a reconstruir a igreja. As peças vieram para Mariana. Agora este ano faz-se dez anos que estão guardadas esperando que a prefeitura faça sua parte: dê início a reconstrução.
Parque: também em 2008 foi criado o parque municipal do Gogô por decreto do ex-prefeito Celso Cota, em reconhecimento às ruínas de casas, senzalas, fundição, pontes, minas, etc, que existem no Morro Santo Antonio e Morro Santana. Também não foi efetivado.
Até quando vamos esperar? As peças não estão em local adequado e, pior, nesses dez anos não receberam cuidados!
*Fonte: jornal “O Espeto” n° 421, 1ª Semana de Janeiro de 2018.

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