domingo, 10 de abril de 2016

Assim nasceram as Minas Gerais*

Roque Camêllo, presidente da Casa de Cultura de Mariana Academia Marianense de Letras Artes e Ciências

Mariana
O calendário mineiro é rico em celebrações cívicas e religiosas. Embora seja o Estado sem infância, nascendo adulto e produzindo riqueza quase dois séculos após o descobrimento do Brasil, teve tempo de construir a mais densa história cultural do país.

O fim do século XVII e o século XVIII fizeram de Minas o centro econômico e cultural da colônia. Era a joia preciosa da Coroa portuguesa.
Seu povo se formou a partir de muitos encontros de grupos étnicos que se entrelaçaram no impulso de agredir o silêncio do desconhecido. Superaram terríveis obstáculos como transpor a serra da Mantiqueira, vencer os belicosos cataguazes, passar pelos caudalosos rios Paraopeba e das Velhas para alcançar os ribeirões auríferos.

Com a descoberta do ouro, o fluxo de pessoas se acentuou a tal ponto de esvaziar-se o litoral brasileiro. Grande parte da população portuguesa foi à busca do metal luzente destas montanhas e vales.
Surgiram os conflitos. Os bandeirantes não eram muito afeitos ao trabalho das minas, das quais tinham a propriedade pela Carta Régia de 1694. Muitos as abandonavam, ocupando-as outro grupo, apelidado de forasteiros ou emboabas. Eis a origem da Guerra dos Emboabas, primeiro movimento nativista com larga repercussão na gênese brasileira, episódio que passou por Borba Gata, José Vaz Pinto, Silva Bueno e, de outro lado, os forasteiros, comandados por Manuel Nunes Viana, o vencedor.

Ao identificar um quadro opositor, Portugal procurou compor as forças com a nomeação de Antonio de Albuquerque Coelho de Carvalho, o estadista que harmonizou a terra de ninguém, estabelecendo o império da lei, a força do direito sobre o direito da força. Criou as três primeiras vilas de Minas Gerais.
A primeira foi a Vila de Nossa Senhora do Ribeirão do Carmo em 8 de abril de 1711, que, em 1745, se elevou à categoria de cidade pelo rei dom João V com o nome de Mariana, em homenagem a sua esposa, Maria Anna. À Vila do Carmo seguiram-se Vila Rica (Ouro Preto) e a Vila de Nossa Senhora da Conceição (Sabará).

Eis porque estamos celebrando os 305 anos da primeira vila e capital de Minas Gerais. Homenageando-a, estamos lançando o livro “Mariana: Assim Nasceram as Minas Gerais. Uma Visão Panorâmica da História”. 
É um tributo à “urbs mea celula mater”  e um incentivo para que todas as nossas primeiras vilas o façam também, registrando cada uma sua história, porque só se ama e se respeita o que se conhece. No caso de Mariana, a antiga Vila do Carmo, mais do que nunca, precisa ser amada por Minas e pelo Brasil, após a dolorosa tragédia da barragem de Fundão, no subdistrito de Bento Rodrigues.

Como Mariana foi sempre mãe, entregando-se historicamente ao bem da nação, agora vítima daquele fato, se oferece como exemplo para que tal não se repita. Por isso, esse livro é uma mensagem de amor e respeito às nossas origens, a nossos antepassados que nos legaram princípios inalienáveis.
*Fonte: artigo transcrito do  jornal “O Tempo”, de 09.04.2016

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