quinta-feira, 17 de abril de 2008

Revitalização Polêmica de Praças

Todas as revitalizações de praças promovidas pelo município causaram polêmicas. Uns a favor, outros contra. A primeira praça revitalizada foi a Tancredo Neves. Enquanto perduraram as obras, demorou quase um ano para ficar concluída, houve denúncias, muitas críticas, embargos do IPHAN e do Ministério Público. Depois de concluída, no meu entendimento, a Praça ficou mais espaçosa, os passeios estreitos se transformaram em calçadões, as duas pistas de tráfego ficaram mais largas, e, com maior espaço físico, a praça hoje já pode ser utilizada para eventos populares de médio porte, que anteriormente eram realizados na Praça da Sé e na Praça Gomes Freire. Terminadas as obras, ninguém mais critica a revitalização da Praça Tancredo Neves.
Logo em seguida, foi revitalizada a Praça Minas Gerais. O enredo é o mesmo: denúncias, embargos, manifestações populares contra a reforma da praça. Nesse episódio da Praça Minas Gerais, foi muito importante a participação popular que impediu a estúpida idéia de trocar a grama do adro de São Francisco por pedras. O bom senso da comunidade prevaleceu. Hoje a praça está bonita, sem nenhum obstáculo de árvores ou arbustos impedindo o visual panorâmico das igrejas, da Câmara e do Pelourinho. No meu entendimento, a Praça Minas Gerais e o casario da Rua Direita são os dois mais belos cartões postais e de visitas de Mariana. Hoje quem critica a Praça Minas Gerais é um pintor-escultor que teve a infeliz idéia de propor a retirada do pelourinho dali, naturalmente sonhando em colocar uma escultura dele no lugar.
A revitalização da Praça Gomes Freire foi menos polêmica. Trocaram pedras por pedras, cortaram algumas árvores mais baixas que impediam a visão do casario ao entorno do jardim, os canteiros foram de novo ajardinados e gramados, fizeram uma passarela mista de pedras a vista com seixos rolados, os famosos pés-de-moleque. A nova iluminação melhorou muito o visual noturno da praça.
A revitalização da Praça São Pedro também não teve muita polêmica. Como sempre, demorou e me parece que ainda não acabou. É a demora fazendo jus à fama do padroeiro da praça... O calçamento foi muito bem feito e a praça agora ganhou nova iluminação pública. A iluminação temática na fachada do templo, confesso, não gostei.
A revitalização da Praça da Sé é uma novela sem fim. Parece obra de São Pedro: não acaba nunca. Para saudosistas como eu, sinceramente, a nova revitalização da Praça da Sé me decepcionou. No meu tempo de criança, o visual era bem diferente. O rebaixamento era bem menor e, ao redor do chafariz, que ficava num plano um pouco mais elevado, havia duas escadas de pedras que davam acesso à parte de baixo, que ficava quase nivelado com as ruas laterais. Nunca houve essas escadarias laterais que mais parecem arquibancada. O novo chafariz, dizem, já está pronto, mas ainda há uma pendência com IPHAN. Depois do chafariz já pronto, estão ainda discutindo se vai ou não ser colocado na praça. Uma piada! Nesta história de revitalização das praças, estão envolvidas quatro partes: o Município e o Monumenta, patrocinadores das obras, o IPHAN e as empreiteiras. A demora na conclusão das obras causa muitos prejuízos aos patrocinadores. O IPHAN não perde nada, pois, só entra com embargos. As empreiteiras, que não são responsáveis pelo atraso, só ganham, pois os patrocinadores são obrigados a pagar não só multas pelo atraso, como também terão de alocar mais verbas para a conclusão das obras.
No meu entendimento, respeitando opiniões contrárias, a futura utilização daquele espaço, que antes servia apenas para local de estacionamento de veículos, terá um destino muito mais nobre: será um anfiteatro destinado a apresentações de teatro, concertos, recitais, solenidades cívicas e religiosas. Mas, enquanto as obras da Praça da Sé não acabarem, a polêmica vai continuar: uns a favor, outros contra. E salve a democracia!

terça-feira, 15 de abril de 2008

Briga Política Doméstica

Até as eleições municipais de 2000, a disputa eleitoral em Mariana sempre foi entre as tradicionais forças políticas da Direita e da Esquerda. Em 2004, o quadro mudou. A Esquerda, que estava no poder desde 2001, rachou e lançou dois candidatos: um pela Esquerda tradicional e outro pela Esquerda dissidente. Ambos buscaram o apoio da Direita que se tornou então a noiva cobiçada de plantão. O casamento político se deu entre a Esquerda dissidente e a Direita, de onde saiu, então, a chapa vitoriosa para o cargo de prefeito.
Antes dessa desavença entre os próprios correligionários, a Esquerda era uma facção política disciplinada, comandada por um chefe que todos obedeciam, enquanto que a Direita, facção indisciplinada, todos mandavam nela e ninguém obedecia.
Hoje a briga política acirrada da Esquerda tradicional não é mais com a Direita, mas sim, com os antigos companheiros da Esquerda dissidente. O clima entre eles ficou muito hostil com acusações recíprocas muito pesadas. As atuais lideranças de ambas as partes, que durante a maior parte da vida foram correligionários fiéis, não se toleram mais, tornando o clima político deste ano muito quente. É uma briga de foice familiar entre o coronel dinossauro com seus antigos correligionários. Bom mestre, melhores discípulos!
Mas o fator principal dessa briga fratricida, não tem nada de nobre, mas pura ganância pela posse da cobiçada viúva rica que é a Prefeitura Municipal de Mariana: quem está no poder não quer sair e quem está fora dele está doido para entrar!

Candidatos sem Chances

Alguns internautas, leitores do Blog, me abordam na rua e perguntam: Ozanan, por que candidatos, que não têm nenhum prestígio eleitoral, se lançam na disputa para o cargo de prefeito? Para responder essa pergunta são necessárias algumas explicações sobre como funciona o lançamento de determinado candidato.
Por trás de cada pré-candidato, existem deputados estaduais e federais patrocinando a candidatura. Quanto maior as chances de o candidato ganhar as eleições maior é o patrocínio. Os que não têm a menor chance de ganhar, os azarões, são bancados também, só que o patrocínio é bem menor.
O patrocínio financeiro de hoje dos deputados será pago amanhã com os votos do candidato para as eleições parlamentares de 2010. Os candidatos a vereador, não todos evidentemente, também recebem patrocínio de deputados. É uma aposta arriscada para os deputados que dão a eles hoje um cheque em branco. Se der certo, ninguém perde, todo mundo ganha. Ao contrario, todo mundo perde. É um investimento de risco para ambos os lados. Entretanto, para evitar o golpe do baú eleitoral, os deputados costumam contratar institutos de pesquisa eleitoral para aferir na cidade e nos distritos se os pré-candidatos têm ou não cacife eleitoral. O valor do patrocínio depende muito dessas pesquisas. Quem tem mais votos recebe mais, quem não tem recebe menos.
E o eleitorado, coitado, não sabe de nada!

Restaurantes e Lanchonetes

Durante muitos anos, tivemos que conviver com a precariedade das instalações comerciais de lanchonetes e restaurantes estabelecidos no centro histórico de Mariana. O que existia, e ainda existe, de botecos copos sujos, ou melhor, copos plásticos, na cidade, não é normal. São estabelecimentos que têm espaço reduzido, apertado, sem nenhum conforto, com poucas mesas ou cadeiras para sentar, banheiros mistos e sujos, sem nenhuma preocupação com a higiene, além da infernal barulheira sonora. Esse ambiente acanhado e desconfortável foi feito sob medida para mauricinhos e patricinhas que, por não terem melhor opção para passar as noites e por terem baixo poder aquisitivo, ficam conformados ali nas imediações dos botecos, horas e horas em pé, tomando bebida quente em copos de plástico. Para quem não se importa com barulho, higiene e conforto, aquilo é um paraíso.
Mas, felizmente o quadro está mudando para melhor. Nos últimos tempos surgiram várias novidades agradáveis. Na Praça Gomes Freire, por exemplo, temos a Pizzaria Dom Silvério, o Rancho da Praça, que foi revitalizado. Na Rua Dom Viçoso, teremos, breve, a inauguração de novas instalações do restaurante Lua Cheia. Na Praça da Sé temos a nova lanchonete Kings Burger e a lanchonete e sorveteria Pingüim. Na Travessa São Francisco, temos a Taberna do Conde e o Tambaú. Na Av. Getulio Vargas, o UAI Zé. Na Antonio Olinto, a Cozinha Real. Quase todos são self-service.
Ainda não temos restaurantes sofisticados capazes de atender a la carte turistas endinheirados. Turistas abonados não gostam de freqüentar self-service. São exigentes e gostam de escolher o prato existente no cardápio do restaurante. Como ainda são poucos os turistas Vips que visitam a cidade, infelizmente ainda não temos demanda suficiente para se abrir restaurantes desse porte, pois ficariam vazios e quebrariam os seus proprietários. Por causa disso, esses turistas visitam a cidade e, depois, almoçam e jantam em Ouro Preto ou Belo Horizonte.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Centro de Convenções

São poucas cidades mineiras que possuem um centro de convenções. Existe apenas em cidades mais desenvolvidas que viraram pólo de atração turística. Para quem não sabe, Centro de Convenções é um espaço físico destinado a realizar eventos de médio e grande porte. Nele são realizadas conferências, seminários, simpósios, encontros promovidos por empresas nacionais e internacionais, para tratar de negócios de empresários, banqueiros, ou para reuniões de Chefes de Estado nacionais ou estrangeiros. Nesses encontros de negócios, são atraídos os principais executivos de empresas nacionais e multinacionais. Muitas personalidades de renome mundial participam desses eventos empresariais e que aproveitam a ocasião para conhecer a cidade, movimentando o setor de hotelaria e os restaurantes. Nesse ramo de atendimento ao turismo de negócios, ainda não temos infra-estrutura de atendimento de alto nível compatível com as exigências desses altos executivos. Mas com o decorrer do tempo, havendo muita demanda, os empresários locais poderão melhorar a qualidade de prestação desses serviços essenciais ao incremento das atividades turísticas.
Em Minas, segundo informações que obtive, há cinco centros de convenções que estão no novo plano de ações do governo mineiro: Araxá, Belo Horizonte, Juiz de Fora, Ouro Preto e Uberlândia. Mariana irá entrar, com a construção do centro de convenções, nesse plano no próximo segundo semestre de 2009.
O Centro de Convenções será construído onde hoje se encontra o ginásio poliesportivo que será transferido para outro local. Seu aspecto físico será parecido com o da antiga fábrica de tecidos que existia naquele local. Pavilhões de Feiras funcionarão juntos ou separados, com 1600m2 e capacidade para 1500 pessoas. Haverá ainda saguão para recepção de público com áreas de apoio e café e Teatro com 520 lugares. Já o setor de Convenções possuirá saguão para eventos, dois auditórios para 150 pessoas e seis salas de conferência com 50 lugares cada. O estacionamento público terá capacidade para 85 veículos.
Caso o Centro de Convenções saia realmente do papel, Mariana dará um salto extraordinário na exploração da atividade turística de qualidade e não de quantidade como existe hoje.

terça-feira, 8 de abril de 2008

Imóvel Histórico Desabando


Um imóvel na Rua Direita nº. 65, de propriedade dos herdeiros de Dr. Jésus Campos, começou a desabar. Parte do telhado nos fundos do imóvel já caiu. O imóvel histórico faz parte do mais importante conjunto arquitetônico colonial barroco do município.
Para impedir a destruição desse importante imóvel, o município, há dois anos, o desapropriou. Apesar da desapropriação, o município não tomou nenhuma providência para reformar o prédio. O desabamento iminente da casa poderá comprometer não só a integridade física dos imóveis vizinhos, que também fazem parte do belíssimo conjunto arquitetônico da Rua Direita, como também a dos pedestres que passam pela Rua Direita, uma vez que ainda não foi colocada em frente ao imóvel um tapume preventivo. Com o desabamento, o quintal da casa, cheio de mato, virou um perigoso local para proliferação do mosquito da dengue. Os moradores vizinhos já denunciaram o fato à Vigilância Sanitária do município que, até o momento, não tomou nenhuma providência.
O Ministério Público, o IPHAN e o Município precisam tomar providências concretas no sentido de impedir que mais um prédio histórico desabe sem que as autoridades responsáveis impeçam mais esse dano ao nosso patrimônio colonial barroco.
Fica aí registrado a denúncia do Blog do Ozanan contra o descaso das autoridades responsáveis pela preservação do nosso principal e belíssimo casario colonial barroco. Lamentável!

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Paternalismo Municipal

Venho pesquisando, desde a década de 50, os costumes políticos, sociais, econômicos e religiosos de Mariana. No meu entendimento, entre outros fatores, o paternalismo do poder público municipal é uma peça fundamental na formação desses costumes na comunidade marianense. A primeira manifestação de paternalismo que constatei aconteceu na década de 40, quando o então prefeito de Mariana doou terras do município para a Cia. Minas da Passagem de propriedade de seu sogro. Um imenso latifúndio de terras improdutivas e ociosas que ainda persistem. Até hoje o município é obrigado a pagar desapropriações de terras que já foram suas. Um absurdo!
Atualmente, quase tudo o que se faz no município de Mariana depende de verbas publicas municipais. Não há organizações não governamentais, associações civis ou religiosas, clubes de serviço, associações recreativas, esportivas, educacionais, artísticas e culturais privadas, jornais impressos, inclusive, pasmem, empresariais, que não dependam do generoso guarda-chuva governamental. O município inclusive banca despesas até de vários órgãos do governo estadual na cidade. Durante muitos anos, os correligionários, líderes políticos e cabos eleitorais da Direita ou Esquerda, quando ganhavam eleições municipais, eram dispensados de pagar impostos e taxas municipais Era a famosa anistia partidária. Somente os adversários políticos derrotados nas urnas eram obrigados a pagá-los. Outro efeito perverso do paternalismo municipal foi a doação de milhares de casas populares, apenas por critérios eleitoreiros, provocando precoce inchaço populacional da cidade, gerando, com isso, indesejável violência urbana.
Paradoxalmente, no período de 50 a 70, no tempo que a prefeitura era muito pobre e a coleta de lixo na cidade ainda era feita em carroça com tração animal, a comunidade marianense, por não poder usufruir das benesses oficiais, era muito mais criativa e empreendedora do que a de hoje. Naquele tempo, o Carnaval, a Semana Santa, as associações esportivas, recreativas e sociais, as festas cívicas e religiosas eram bancadas pela própria comunidade. Os blocos carnavalescos sem verbas públicas eram criativos e maravilhosos. Hoje, com verbas públicas, os blocos compram camisetas que são revendidas para os participantes. Sem nenhuma criatividade, os blocos desfilam pela cidade movidos a álcool. Um vexame! As cerimônias religiosas e solenidades cívicas eram maravilhosas. Os clubes Marianense, Guarany, Olimpic, União XV de Novembro, por exemplo, adquiriram patrimônio com recursos próprios. Nesse período de vacas magras, quando a prefeitura, muito pobre, nada podia ajudar, importantes instituições surgiram na cidade: o Ginásio Dom Frei, o Hospital Monsenhor Horta, o Museu Arquidiocesano e a Casa de Cultura, todos criados pela iniciativa privada. Hoje, com o município muito mais rico, qualquer entidade que se torna de utilidade pública municipal, mesmo não tendo nenhum caráter filantrópico, já quer ter uma sede própria custeada com dinheiro publico. Haja dinheiro! Recentemente, numa entrevista concedida a um jornal semanal da cidade, o secretário municipal de Fazenda de Mariana disse que quase metade dos contribuintes marianenses está inadimplente, sonegando impostos. Por causa do paternalismo municipal, nenhum prefeito até hoje teve coragem de cobrar taxa de consumo de água, temendo perder eleição. Resultado: parte da população, sem escrúpulos, se julga no direito de desperdiçar água.
Conclusão, enquanto o paternalismo municipal persistir, as nossas empresas, associações e a sociedade em geral continuarão acomodadas, tornando-se uma comunidade come-quieto. Não produz nada, só dá despesas!

Preconceito Eletrônico

Desde que criei o meu Blog na Internet, em março deste ano, eu tenho procurado pessoas na faixa etária dos 50 a 70 anos para lhes entregar o meu endereço eletrônico de acesso ao Blog. A maioria das pessoas abordadas por mim possui computador e internet em casa. Acontece que a maioria não sabe lidar com o computador e nem sabe acessar a internet. Quem manuseia os equipamentos são seus filhos e netos. Essas pessoas não sabem e nem querem saber usar os equipamentos eletrônicos.
Esse fato me fez lembrar o tempo que ainda trabalhava, quando a empresa começou a informatizar os seus serviços. Estava com 50 anos. Fiquei apavorado com a obrigação de ter que aprender a trabalhar com a novidade eletrônica. Achava que não tinha a menor capacidade de lidar com o estranho equipamento. Dei graças a Deus quando verifiquei que já tinha tempo para me aposentar e ficar livre da obrigação de aprender a manusear aquela estranha parafernália. Só muito tempo depois de aposentado é que superei esse preconceito idiota e posso afirmar que não há uma ferramenta tão confortável e prática como o computador e a internet. Hoje você lê jornais, revistas, livros, interage e bate papo com pessoas, vê e é visto na tela do computador, trocam mensagens, faz operações bancárias, negócios de compra e venda, baixa músicas em CD e DVD, tudo isso e muito mais, sem sair de casa.
Aos velhinhos como eu, sugiro: não tenham medo de ser felizes na companhia do computador e da internet. Para gostar, basta começar!

Os Gaveteiros

(...) Conta-se que, às três horas da tarde, com céu azul, soalheira suave dourando o casario branco lá embaixo, o sino tristonho da Arquiconfraria tocava a meditação das cinco Chagas de São Francisco.
Quantas chagas foram abertas no coração da velha cidade? Quantas chagas!
- Cale a boca, gaveteiro!
Assim, em pleno dia, uma voz misteriosa pronunciava palavras, a princípio, desconexas. As pessoas que ouviam a sinistra voz não entendiam o que estava acontecendo.
- Mas que coisa esquisita e misteriosa. Não vemos ninguém por aqui. Será possível ou concebível fantasmas às 15 horas?
- Valha-nos São Francisco de Assis pelas suas cinco chagas ou mais chagas!
E a voz misteriosa se fez ouvir novamente:
- Conhece você a origem dos “gaveteiros”?
- Pois então ouça:
Mariana, Sabará e Ouro Preto, vilas do Ouro de Minas Gerais disputavam ardorosamente a primazia de Cidade.
Antonio Albuquerque Coelho de Carvalho, em nome do Monarca Dom João V, para serenar os ânimos exaltados, prestes a estourar em guerra civil, propôs, inteligentemente, que cada vila, em prazo de seis meses, que oferecesse maior quantidade de ouro às arcas do Reino de Portugal, receberia as graças de cidadania e também as honras do episcopado.
A original proposta foi aceita imediatamente.
Durante seis meses os mentores das Vilas disputantes se mobilizaram na faina de ajustar maior quantidade do precioso metal.
O tempo corria célere e a campanha se movimentava disputadíssima. Os dirigentes do movimento em Ouro Preto e Sabará usaram de todos os meios de propaganda. Arautos, regiamente remunerados, trombeteavam por todos os recantos os resultados obtidos para impressionar a opinião pública, enquanto Mariana conservava-se em profundo silêncio. Discreta e vigilante.
Esgotado o prazo estipulado, em dia e hora, previamente marcados em reunião ansiosamente aguardada, com a presença do alto mundo oficial, as três Vilas, por seus Delegados credenciados, se apresentaram na Casa de Fundição, em Ouro Preto, para a entrega oficial do ouro recolhido. Foi uma reunião popular, onde predominou intensa expectativa em torno de algo extraordinário, a explodir.
Apurou-se primeiro a contribuição de Ouro Preto, que rendeu oito arrobas de ouro. Em segundo lugar, verificou-se o recolhimento de Sabará, que atingiu cinco arrobas. E em terceiro, apresentou-se Mariana sob intensa expectativa, que aguardava com nervosismo o final da contenda.
Um frenesi de comoção punha em suspense a curiosidade pública.
Conferido o saldo, a contribuição da primeira Vila somou a importância de doze arrobas de ouro em pó, que a malicia dos marianenses soube apresentar, depois de longo silêncio, deixando o desfecho para a derradeira hora.
A decepção foi geral e as duas concorrentes não podendo controlar o desapontamento em torno do fracasso ruidoso e humilhante, sem outro recurso de defesa, recorreram ao sarcasmo, bradando com todas as forças dos pulmões:
- Gaveteiros, matreiros, maliciosos, sabichões, guardavam a língua dentro da gaveta e ajuntaram, sem ninguém saber, ouro a granel.
Derrota humilhante, sem precedentes na história.
O Governador imediatamente assinou o Decreto constituindo Mariana como primeira Cidade de Minas e, ao mesmo tempo, dando-lhe o “Áureo Trono Episcopal” para sede do primeiro Bispado de Minas Gerais.
Daí a origem de um epíteto, deturpado manhosamente, conferido a um povo que criou há mais de 250 a legenda até hoje repetida por todos os povos do universo: “o silêncio é de ouro”.
Esta é a única e verdadeira origem do “Gaveteiro”, que os dicionários deveriam anotar para corrigir tantas aberrações inverossímeis, hipotéticas, fantasiosas, criadas pela imaginação dos eternos palhaços para desmerecer a integridade de um povo que conquistou a glória com muita inteligência, sabedoria e grande dose de malicia. Não houve jamais gavetões nas casas e igrejas para esconder comidas aos visitantes que chegavam. Não era esta finalidade das gavetas das grandes mesas coloniais!
Tudo mais que se conta são pilhérias da gíria, até anotado por um dicionarista menos esclarecido, quando cada um fantasia, a seu modo e espírito, hábitos e costumes característicos de regiões, onde se formam mananciais fecundos da imaginação popular.
E é desse episodio que nasceu, em Mariana, o lema dos mineiros: “Minas trabalha em silêncio” (...).
(Excerto extraído do Livro “Lendas Marianenses”, de autoria de Waldemar de Moura Santos).

Casa de Cultura de Mariana

Rafael Arcanjo Santos

A Casa de Cultura de Mariana nasceu em torno da Academia Marianense de Letras, em 1962, sob a inspiração do saudoso professor, historiador, escritor e jornalista, Waldemar de Moura Santos. Desde 1962, a Academia Marianense de Letras vem cumprindo a missão principal a que se propôs: de consagrar-se à Cultura, Artes e Ciências.
Em 18 de julho de 1969, a Academia Marianense de Letras se instala na Casa de Cultura de Mariana, a primeira fundada em Minas Gerais.
O histórico solar, onde funciona a Casa de Cultura de Mariana-Academia Marianense de Letras, Artes e Ciências, foi edificado em 1730, tendo pertencido ao mestre-de-campo, Rafael da Silva e Souza, que a vendeu posteriormente à Fazenda Real para nela residir o primeiro Intendente, Dr. Antonio Rodrigues de Macedo, nomeado em outubro de 1736. Desta data até 1760, o prédio serviu simultaneamente de moradia do intendente e de “repartição arrecadadora dos produtos de captação, do confisco de escravos, das arrematações em praça pública e tudo quanto entendia com ouro destinado ao erário público”. O histórico casarão foi ainda “Casa da Intendência”, “Casa de Fundição de Ouro” e “Casa de cobrança do quinto do ouro”. No andar superior, sua valorização se destaca pela presença de uma sacada corrida, em que ocupa toda a fachada, com janelas rasgadas, encimadas por elegante seqüência de vergas em arco batido. Possui três belíssimos tetos, ricamente trabalhados, em aposentos superiores, dignos de admiração.
O vetusto casarão quase trissecular, onde está localizada a Casa de Cultura de Mariana, pode ser considerado três vezes histórico: era casa onde se hospedava Dom Pedro II, onde morou o inconfidente Cláudio Manoel da Costa e onde se reuniam os sediciosos de Felipe dos Santos.
A Casa de Cultura de Mariana-Academia Marianense de Letras, Artes e Ciências é palco dos principais acontecimentos cívicos, artísticos e culturais realizados em sua sede social. É uma instituição que sobrevive, ao longo de seus 46 anos de profícua existência, graças ao trabalho abnegado de seu fundador, professor Waldemar de Moura Santos e dos atuais dirigentes: professor Roque José de Oliveira Camêllo, Presidente; Frederico Ozanan Teixeira Santos, Diretor Cultural, além da prestimosa colaboração de familiares do primeiro presidente da Casa de Cultura.
Notável acontecimento patrocinado pela Casa de Cultura de Mariana, de grande repercussão para o desenvolvimento sócio-cultural da cidade, foi a realização do I Encontro para o Desenvolvimento de Mariana, o EDEM-I, em outubro de 1979, vitoriosa iniciativa que reivindicou e alcançou, entre outras aspirações históricas marianenses, a construção da estrada de contorno e a instalação das agencias do Banco do Brasil (25 anos – 1983 - 2008) e da Caixa Econômica Federal. O “Dia de Minas” nasceu, também, nesse histórico solar, por iniciativa do Professor Roque Camêllo.
São partes integrantes da Casa de Cultura de Mariana: “Madrigal Mariana”, grupo coral fundado em 19.03.1971; a Biblioteca “Dom Silvério”; a Escola de Ensino de Violão “Professor Moura Santos”; o Grupo Musical “Uns & Outros” e a Academia Infanto-Juvenil de Letras, Ciências e Artes de Mariana, criada pela acadêmica professora Hebe Maria Rola Santos.
A Casa de Cultura é inteiramente aberta à comunidade marianense: quase todas as entidades e associações mais importantes da cidade utilizam suas dependências para realização de reuniões e eventos, sem ônus para seus promotores. Nela são realizados periodicamente vários cursos profissionalizantes, alem de conferências, palestras, seminários, exposições, concertos e recitais.
A Casa de Cultura de Mariana-Academia Marianense de Letras, Artes e Ciências, pelo acervo de suas brilhantes e indiscutíveis atividades que vem realizando desde 1962, credencia-se à admiração pública pelo esforço, dedicação, coragem, sacrifício e tenacidade de seus principais e atuantes membros, que lutam para elevar e enaltecer os valores artísticos da primaz mineira.
(Extraído da coluna “Cartas aos Tempos”, do “O LIBERAL”, nº. 791, de 31/março a 06/abril de 2008).

terça-feira, 1 de abril de 2008

Pelourinho de Mariana

Um conhecido pintor-escultor de Mariana escreveu um artigo num jornal semanal da cidade propondo a retirada do Pelourinho da Praça Minas Gerais, sob o argumento de que aquele monumento trazia tristes recordações do tempo da escravidão negra, do preconceito racial. O Pelourinho original de Mariana foi executado por José Moreira Matos em 1750 e demolido em 1871. O atual foi erguido na década de 70, na Praça Minas Gerais. No alto ele tem um globo simbolizando as conquistas marítimas portuguesas. O braço esquerdo sustenta uma balança, representando a Justiça, o direito segura uma espada, ou seja, a condenação.
O raciocínio do escultor está na contramão do pensamento de todas as nações civilizadas do mundo que constroem estes monumentos-símbolos justamente para que a humanidade se lembre hoje das atrocidades cometidas no passado e não as cometa jamais no presente nem no futuro.
Na Europa, nos EE.UU, no mundo todo, existem monumentos que fazem lembrar os mortos na 2ª Guerra Mundial. Na Polônia existe um museu sobre o holocausto de Auschwitz onde os nazistas praticaram aquele estúpido genocídio contra os judeus. No local onde os terroristas de Osama Bin Laden derrubaram as torres gêmeas de Nova York existe um memorial em homenagem às vítimas do atentado. O mundo está cheio de monumentos, iguais ao nosso pelourinho, que repudiam o genocídio, o preconceito político, racial e religioso.
Os monumentos-símbolos são como uma espécie de advertência perene ao homem para que as atrocidades cometidas no passado não se repitam e sejam vigorosamente combatidas tanto agora como para sempre São acontecimentos tristes e trágicos que a humanidade não pode esquecer.
Como marianense nato, embora respeitando opiniões diferentes, sou frontalmente contrário à retirada do Pelourinho da Praça Minas Gerais!
Será que o esperto pintor-escultor ainda sonha colocar no lugar do pelourinho uma escultura de sua autoria na Praça Minas Gerais?
Perguntar não ofende!