História ameaçada*
Ana Luiza Faria
Estudo geológico aponta as áreas de risco na cidade de Mariana.
Mais do que formar profissionais em salas de aulas, o papel da universidade é investir em pesquisa e extensão. Na opinião do professor Frederico Sobreira, além de prestar bons serviços à comunidade, isso é fundamental para a formação do aluno, que passa a ter mais contato com a prática.
Sobreira é professor do Departamento de Geologia da Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto e acaba de concluir um Estudo Geoambiental da Área Urbana de Mariana. Financiado pela Fapemig, a pesquisa foi desenvolvida em um ano e meio e contou com a participação de alunos do curso de Geologia. O objetivo do trabalho era identificar as áreas de maior risco ambiental na cidade de Mariana. Ele foi feito primeiramente com base em mapas geológicos, geomorfológicos e de vegetação já existentes. Para enriquecer a análise, alunos e professor fizeram pesquisa de campo para obter maiores detalhes sobre as regiões trabalhadas. Terrenos com as mesmas características foram comparados. Afinal, se um deles já apresentou problemas, as chances deles se repetirem no outro são grandes.
A pesquisa buscava identificar regiões que poderiam ter problemas como inundação, queda de blocos, erosão, rastejo, escorregamento e corrida de detritos – sendo que as três últimas expressões se referem a deslizamento de terra, alterando apenas a velocidade com que isso acontece. Em seguida, o grupo comparou as áreas com as regiões ocupadas na cidade, já que essas situações só são realmente preocupantes se houver população que possa ser atingida.
Concluído esse trabalho, os resultados foram comparados com os registros de acidentes durante os períodos chuvosos de 1987 a 2000. Os problemas relatados pela Defesa Civil e pela prefeitura municipal reforçaram as verificações feitas pelos estudiosos.
Terrenos perigosos
O trabalho final foi entregue à Defesa Civil, Corpo de Bombeiros, Associação de Moradores e ao Patrimônio Público de Mariana. Segundo o professor Sobreira, ele pode ser um forte aliado na prevenção de acidentes. Através do estudo, poderiam ser delimitadas as áreas de maior risco, que mereceriam mais atenção nos períodos chuvosos e até retirada da população dos terrenos mais perigosos. “Mesmo que isso não impeça os prejuízos materiais, pelo menos salvaria vidas”, argumenta.
Sobreira explica que a maior parte das áreas de risco está localizada na periferia da cidade. “Assim como Ouro Preto, o centro histórico é mais preservado e os terrenos têm melhor qualidade, por isso mesmo foram ocupados primeiro”, reforça.
Para o professor, Mariana vem passando por um processo de ocupação desordenada, que aumenta o risco de acidentes geológicos. “Não ficaria surpreso se, em um ano de chuvas mais violentas, acontecessem catástrofes”, afirma. Ele ressalta, no entanto, que esse problema seria facilmente contornável. “Mariana é uma cidade ainda pequena para estar com o crescimento fora de controle. Além disso, tem muitas áreas adequadas para a ocupação. Basta haver um planejamento por parte do poder público” avalia.
Os bairros apontados como mais problemáticos foram Prainha de Santo Antonio, partes altas dos bairros do Rosário, Cabanas, Cartuxa, Santa Rita de Cássia, Vila Nazaré, Vila do Sapo e Avenida Nossa Senhora do Carmo, todas as regiões de ocupação recente. O professor lembra ainda que o rio que corta a cidade teve sua planície de inundação ocupada por ruas e construções. “Essa área pertence ao rio e, sempre que houver chuvas mais fortes, ela será alagada”, constata.
O estudo Geoambiental da Área Urbana de Mariana é apenas preliminar. O professor aconselha a prefeitura a estudar mais atentamente cada região apontada na busca de soluções. Isso pode ser feito em parceria com a própria UFOP, caso haja interesse do município.
*Fonte: “Estado de Minas”, de 13.07.2000.
Ana Luiza Faria
Estudo geológico aponta as áreas de risco na cidade de Mariana.
Mais do que formar profissionais em salas de aulas, o papel da universidade é investir em pesquisa e extensão. Na opinião do professor Frederico Sobreira, além de prestar bons serviços à comunidade, isso é fundamental para a formação do aluno, que passa a ter mais contato com a prática.
Sobreira é professor do Departamento de Geologia da Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto e acaba de concluir um Estudo Geoambiental da Área Urbana de Mariana. Financiado pela Fapemig, a pesquisa foi desenvolvida em um ano e meio e contou com a participação de alunos do curso de Geologia. O objetivo do trabalho era identificar as áreas de maior risco ambiental na cidade de Mariana. Ele foi feito primeiramente com base em mapas geológicos, geomorfológicos e de vegetação já existentes. Para enriquecer a análise, alunos e professor fizeram pesquisa de campo para obter maiores detalhes sobre as regiões trabalhadas. Terrenos com as mesmas características foram comparados. Afinal, se um deles já apresentou problemas, as chances deles se repetirem no outro são grandes.
A pesquisa buscava identificar regiões que poderiam ter problemas como inundação, queda de blocos, erosão, rastejo, escorregamento e corrida de detritos – sendo que as três últimas expressões se referem a deslizamento de terra, alterando apenas a velocidade com que isso acontece. Em seguida, o grupo comparou as áreas com as regiões ocupadas na cidade, já que essas situações só são realmente preocupantes se houver população que possa ser atingida.
Concluído esse trabalho, os resultados foram comparados com os registros de acidentes durante os períodos chuvosos de 1987 a 2000. Os problemas relatados pela Defesa Civil e pela prefeitura municipal reforçaram as verificações feitas pelos estudiosos.
Terrenos perigosos
O trabalho final foi entregue à Defesa Civil, Corpo de Bombeiros, Associação de Moradores e ao Patrimônio Público de Mariana. Segundo o professor Sobreira, ele pode ser um forte aliado na prevenção de acidentes. Através do estudo, poderiam ser delimitadas as áreas de maior risco, que mereceriam mais atenção nos períodos chuvosos e até retirada da população dos terrenos mais perigosos. “Mesmo que isso não impeça os prejuízos materiais, pelo menos salvaria vidas”, argumenta.
Sobreira explica que a maior parte das áreas de risco está localizada na periferia da cidade. “Assim como Ouro Preto, o centro histórico é mais preservado e os terrenos têm melhor qualidade, por isso mesmo foram ocupados primeiro”, reforça.
Para o professor, Mariana vem passando por um processo de ocupação desordenada, que aumenta o risco de acidentes geológicos. “Não ficaria surpreso se, em um ano de chuvas mais violentas, acontecessem catástrofes”, afirma. Ele ressalta, no entanto, que esse problema seria facilmente contornável. “Mariana é uma cidade ainda pequena para estar com o crescimento fora de controle. Além disso, tem muitas áreas adequadas para a ocupação. Basta haver um planejamento por parte do poder público” avalia.
Os bairros apontados como mais problemáticos foram Prainha de Santo Antonio, partes altas dos bairros do Rosário, Cabanas, Cartuxa, Santa Rita de Cássia, Vila Nazaré, Vila do Sapo e Avenida Nossa Senhora do Carmo, todas as regiões de ocupação recente. O professor lembra ainda que o rio que corta a cidade teve sua planície de inundação ocupada por ruas e construções. “Essa área pertence ao rio e, sempre que houver chuvas mais fortes, ela será alagada”, constata.
O estudo Geoambiental da Área Urbana de Mariana é apenas preliminar. O professor aconselha a prefeitura a estudar mais atentamente cada região apontada na busca de soluções. Isso pode ser feito em parceria com a própria UFOP, caso haja interesse do município.
*Fonte: “Estado de Minas”, de 13.07.2000.
Comentário: esses estudos geológicos sérios e responsáveis feitos pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) foram ignorados por prefeitos irresponsáveis e megalomaníacos eleitos e reeleitos no final do século passado. Todas as grandes obras urbanas no município feitas por eles, naquele período, foram construídas em áreas de risco. Ignorantes e autoritários e sem nenhuma precaução com a segurança da população, esses prefeitos, mesmo conscientes do perigo de inundações de rios, desmoronamentos de encostas e vales, desapropriaram assim mesmo essas áreas de risco para construção de bairros e casas populares. Com isso, deixaram uma herança maldita. Todos os prefeitos que vieram depois sempre foram obrigados a decretar estado de emergência ou até de calamidade pública em épocas de chuva. Há muito anos, o Departamento de Geologia da UFOP já denunciava que a Avenida Nossa Senhora do Carmo estava localizada em área de alto risco. Armaram assim uma bomba relógio de efeito retardado que agora explode!
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