domingo, 10 de agosto de 2008

Gomes Freire de Andrade*

Médico, Político e Professor
Nasceu em Mariana (Minas Gerais) em 3 de janeiro de 1865, filho de Antonio Gomes Freire de Andrade (Totó Barão) e de Maria Augusta Lebet Freire de Andrade. Falecido em Belo Horizonte em 9 de fevereiro de 1938, onde o seu corpo foi sepultado. Neto de Gomes Freire de Andrade, Coronel do Exército (Regimento de Minas) e Barão de Itabira.
Menino ainda ficou órfão do pai, assumindo sua mãe por decisão judicial o dever de educá-lo. A ele e a seu irmão Augusto Freire de Andrade. Juntos não haviam chegado, na ocasião, à casa dos oito anos de idade. Matriculados no Seminário de Mariana, ainda hoje mantido pela Arquidiocese, nele fizeram os estudos indispensáveis à inscrição aos exames de admissão dos cursos superiores de Medicina, o primeiro, e de Direito, o segundo, na Escola de Medicina do Rio de Janeiro e na Escola de Direito do Largo São Francisco em São Paulo, respectivamente.
Carente de recursos materiais, Gomes Freire de Andrade contraiu empréstimo pecuniário em que estavam discriminadas ano a ano do curso as parcelas da operação financeira de seis anos, acrescidas de outros valores imprescindíveis à sua permanência na capital federal.
Colou grau em 19 de janeiro de 1888 e obteve Carta de Doutor em Medicina em 21 de maio de 1890, passando a exercer a profissão em Mariana. Resgatou a dívida em pouco tempo.
Quanto a Augusto, conseguiu, no início do curso, emprego remunerado na imprensa paulista, sustentando-se assim na capital daquele Estado.
Gomes Freire de Andrade casou-se em Mariana com Maria do Carmo Breyner Freire de Andrade que lhe deu três filhos: Augusto Gomes Freire de Andrade seguiu a mesma carreira do pai. Cursou o ensino médio em Ouro Preto, onde foi colega do poeta Djalma Andrade, e o de Medicina na mesma escola do Rio de Janeiro em que o progenitor logrou o diploma. Obtido o certificado de graduação, regressou a Mariana e abriu clínica médica. Em paralelo, incursionou pela política fazendo-se Agente do Poder Executivo Municipal e, mais tarde, elegendo-se Deputado Estadual para a legislatura de 1926 a 1930, na qual teve como colegas Caio Nelson de Senna e Abgar Renault, entre outros, e se fez amigo do Presidente Mello Vianna; Henrique Gomes Freire de Andrade que, feito o curso médio também em Ouro Preto, concluiu o de Direito na Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais do Rio de Janeiro no Largo do Machado, onde se tornou amigo de muitos colegas e professores, destaque dado ao Advogado Alberto Deodato Maia Barreto. Cumpriu estágio no escritório do Advogado Augusto Freire de Andrade, seu tio, que o preparou para o exercício do cargo de Promotor de Justiça da Comarca de Piranga, nomeado pelo Presidente Mello Vianna. Ali esteve até 4 de março de 1922, data em que foi removido para Santa Bárbara, em virtude de ato do Vice-Presidente Doutor Eduardo Carlos Vilhena do Amaral, subscrito por Afonso Augusto Moreira Penna. Nomeado, após, para o cargo de Promotor de Justiça da Comarca de Mariana em 12 de agosto de 1924, assumiu o de Juiz Municipal de Mariana em 22 de dezembro de 1925, ambos os atos do Presidente do Estado. Reconduzido ao fim do quadriênio, ato de 20 de janeiro de 1930, nesse mesmo cargo permaneceu até 1934 quando foi investido no de Juiz Municipal do então Termo Anexo de Pedro Leopoldo, da Comarca de Santa Luzia, da qual era titular o Juiz de Direito Dario Lins, depois Desembargador. Em 15 de maio de 1936, o agora Governador Benedito Valladares o nomeou Juiz de Direito da Comarca de Bicas, na qual permaneceu até 8 de janeiro de 1940, data em que foi promovido para a de Santa Luzia. Dali saiu em 6 de maio de 1953 por permuta do seu lugar com o do Doutor Benedito Starling, Juiz de Direito da Comarca de Abaeté. Ato contínuo foi promovido para a Comarca de Formiga, onde já completado com muita sobra o tempo de serviço necessário, requereu aposentadoria como Juiz de Direito de Entrância Especial a que fez jus por dispositivo legal; e Carmen Freire de Andrade que freqüentou o Colégio Providência a tempo próprio e faleceu solteira.
Os estudos humanísticos de Gomes Freire de Andrade, como já enunciado, foram feitos no Seminário São José. A clínica médica que estabeleceu alcançou repercussão no município e cercanias, em função da qual assinou contrato de prestação de serviços profissionais à Companhia das Minas de Passagem de Mariana, propriedade de ingleses, para atendimento específico aos seus empregados em jornada de trabalhos. Veio daí o amistoso relacionamento entre as partes do ajuste, a que também deu causa a qualidade dos serviços executados pelo biografado.
Ganhou acento na República Velha a carreira política que empreendeu iniciada pelo mandato de Vereador à Câmara Municipal da qual se tornou Presidente, exercido cumulativamente com o de Chefe do Poder Executivo Municipal de 1908 a 1916, conforme inscrição abaixo da sua fotografia no salão de entrada do prédio do Órgão Legislativo.
Ardente defensor do ideal republicano, a favor de cujos princípios se converteu em arauto de intensa propaganda, se elegeu Deputado Estadual Constituinte para a primeira legislatura de 1891, em Ouro Preto. E, em seguida, por razões compreensíveis, Senador em Minas para as quinta, sexta e sétima legislaturas (1907 a 1918). Em virtude de sua eleição para Deputado Federal, nona legislatura, renunciou ao restante do mandato de Senador, dedicando-se integralmente aos desafios do de Deputado Federal. Primoroso orador.
Integrou o Partido Republicano Mineiro, havendo assinado com João Pinheiro da Silva e outros companheiros de credo político, em 1888, o Manifesto de Ouro Preto. Com o advento da República Nova caiu em desgraça dos que assumiram o poder em 1930.
No campo do magistério granjeou o respeito de colegas e alunos da Escola de Farmácia de Ouro Preto à qual chegou em 1891, por concurso, como catedrático de Higiene e Microbiologia. Quanto ao cargo de Professor de Patologia na Faculdade de Medicina de Minas Gerais, fundada em Belo Horizonte em 1911, para o qual foi contratado no ano seguinte, não pôde assumi-lo diante da impossibilidade de presença diária na Capital. Ficam registrados, a propósito, os dados a seguir: Gomes Freire de Andrade foi orador da sua turma, paraninfada pela Princesa Isabel e, para receber o título de Doutor, defendeu a tese Raiva Hidrofóbica”, momentoso assunto do seu tempo.
Depois de permuta de imóveis em Mariana, devidamente registrada, passou a residir no sobrado da praça que ainda hoje tem o seu nome (sede atual do Marianense), dela fazendo centro de reuniões e convivência de políticos e líderes dos distritos, subdistritos e povoados do município, para discussão e decisão de assuntos pertinentes à comunidade.
Certas obras são, na atualidade, retratos vivos da administração realizada sob o seu comando com o apoio decisivo da Arquidiocese: calçamento em seixos rolados de ruas dos diversos distritos, incluído o da sede; manutenção e extensão da rede hidráulica e de esgotamento; Cemitério de Santana; Instalação da primeira casa de saúde na rua Nova, hoje Dom Silvério, coadjuvado pelas irmãs da congregação local; e extensão da linha ferroviária de Ouro Preto à cidade.
A peculiaridade mais perceptível de sua personalidade no tocante à boa saúde da população está em que, no principio da sua atividade medica não dispunha de meio de transporte rápido, fato que o obrigava a deslocar-se usando montaria de animais que mantinha em estrebaria existente em terreno de sua casa. Mesmo assim, chamado, não se fazia de rogado, pondo-se a caminho do endereço do doente necessitado da sua atenção.
Transitava bem, ao lado disso, por textos em grego e latim não fosse ele egresso do Seminário.Tinha por costume usar nas viagens no lombo de animais calças cortadas em tecido caqui e o par de óculos, quando não o pince-nez, era o seu indispensável companheiro.
Nunca dirigiu automóvel, mesmo quando, premido pela necessidade tecnológica, o adquiriu como facilitador da sua locomoção. A leitura era como que sua predileta opção, se o tempo lhe permitia esse prazer. Ia dos clássicos, de preferência, à literatura popular. Amava a poesia e a música.

FONTES:
1) Casasanta. Mário, Grandes Vultos de Minas Gerais, in: Revista Alterosa, Belo Horizonte 4(28), ago, 1942./ ABRANCHES, Dunshee de. Governo e Congresso da República dos Estados Unidos do Brasil, 1889 a 1917, Rio de Janeiro. M. Abranches, 1918, v. 2 / Minas Gerais, Belo Horizonte, 10, fev. l938, p. 18 (apud tomo 1 de dois mandados imprimir pela Assembléia Legislativa do Estado com ligeira biografia de personalidades mineiras que se destacaram nas duas Repúblicas: a Velha e a Nova, In: Biblioteca do Órgão Legislativo.
2) Tradição oral da família.


Aditamento 01
De Gomes Freire de Andrade, Médico, Político e Professor, no domínio da cultura em acepção mais ampla, impõe-se dizer que sempre reservou atenção especial a suas diversas manifestações, convindo salientar que pelo menos três iniciativas na área contaram com participação efetiva e pessoal: Fundação de dois jornais editados e publicados em Mariana, de circulação restrita, o principal dos quais denominado “O Germinal”, em companhia de outros marianenses do seu tempo. A publicação naturalmente de periodicidade não diária, provavelmente semanal, trazia a público fatos e notícias locais e de outros municípios vizinhos, Ouro Preto em especial, por ser até 1897 a Capital do Estado. As matérias nele incluídas eram, em parte, de sua autoria. A denominação do jornal, fácil é de notar, foi por ele proposta e acolhida pelos demais companheiros. Não é despiciendo dizer que o estabelecimento gráfico responsável mecanicamente por sua edição ficou instalado no andar térreo da moradia do Doutor Gomes, de dois pavimentos na praça que tem o seu nome, esquina da Rua Silva Jardim. Aí se desenvolviam os trabalhos de composição do jornal, sob a coordenação de Juquinha Almeida, pai da professora Cecília Augusta de Godoy Almeida, diretora da escola estadual “Gomes Freire” por largo período, hoje aposentada.
Acresce o fato de que o jornal era de distribuição gratuita e assim funcionou por longo tempo. Do outro jornal há que aprofundar pesquisa sobre nome e duração. Criação e implementação da Corporação Musical “ União XV de Novembro” em louvor à inserção do país no regime republicano de governo, a que se dedicou com as forças do civismo, com outros companheiros de credo político, em especial os que faziam da música motivo do seu anelo e cuidado. Aquela corporação -até hoje existente- com sede própria à rua Direita se tornou responsável por inúmeras apresentações em logradouros públicos, às vezes fora de Mariana, devendo-se registrar que o “Hino de Mariana”, com música de Antônio Miguel e letra do poeta Alphonsus de Guimaraens foi ela que executou pela primeira vez. Atualmente o hino é conhecido por toda a população. Representação do Estado de Minas Gerais em simpósio educacional promovido na Bahia, por nomeação do doutor João Pinheiro da Silva, Presidente do Estado na época.
E, como complemento em campo mais restrito, os toques de flauta que ele próprio dedilhava e mantinha às escondidas, proibida a sua divulgação por quem detivesse conhecimento do fato. O instrumento era preservado em sua residência, inacessível a terceiros, tal o empenho para que essa habilidade não saísse do anonimato.


Fonte: http://www.gomesfreiredeandrade.xpg.com.br/
Biografia de autoria de Dr. Sylvestre Freire de Andrade.

3 comentários:

Bárbara Gabriela disse...

Boa tarde!
Meu nome é Greici MOurão. Trabalho na PMMMG e estou fazendo um levantamento histórico sobre o Regimento de Cavalaria Alferes Tiradentes. Chegamos ao seu primeiro Comandante de fato: Ten Cel Francisco de Paula Freire de Andrada. Estamos em busca de seu parente para mais informações sobre importante figura e entrega da medalha comemorativa aos 241 anos de Cavalaria de Minas.
Aguardando;
Atenciosamente,

Greici Mourão
Assessoria de Comunicação do RCAT-PMMG.

marcos disse...

Sou descendente de Jerônimo José Rodrigues (meu pentavô, lado paterno) que foi Capitão-Mor da 1ª Cia da Vila de São João Del Rei, em MG. Quanto ao Dr.Gomes Freire de Andrade - lembrando que foi sepultado no Cemitério Municipal de Belo Horizonte (hoje conhecido como Cemitério do Bonfim), em 10 de fevereiro de 1938, cujo túmulo é perpétuo. Sua gênese foi publicada em 1925, em 3 volumes pelo descendente Alberto de Souza - o vulume III é que traz a descendência inicial. Seu antepassado Gomes Freire de Andrade foi quem concedeu Sesmaria a Pedro Rodrigues Arvellos, outro antepassado do meu lado paterno. Parabéns pelo artigo!...

Unknown disse...

Sou bisneta do Dr Gomes filha da primeira Neta Myriam sempre lembro das Histórias contadas pela minha Avó Julia casada com O Dr Augusto em especial a retirada deles emv1930 com a chegada das Tropas de Getúlio indo todos morar em BH