sexta-feira, 1 de agosto de 2008

EFIGENINHA

Marly Moysés Silva Araújo*

Anoitecia, naquele domingo 20 de julho, quando Márcio, meu irmão, por telefone (eu estava fora da cidade) deu-me a tristíssima notícia: Efigeninha Silva, a professora fundadora e presidente do Movimento Renovador de Mariana, falecera de repente e seria sepultada na manhã seguinte.
Imediatamente veio-me à memória o artigo que eu escrevera para este mesmo jornal, dias antes, sob o título “Domingo de Despedidas”. Naquele artigo, falei da tristeza causada pelas recentes perdas sofridas por antigas e queridas famílias marianenses. Fiz, também, alusão a algo que é inevitável e previsível, mas nem por isso menos doloroso: a certeza de que essas antigas famílias cuja história se confunde com a história da própria cidade estão diminuindo.
A professora Efigeninha, que acaba de partir, assim como familiares seus, teve papel de destaque nessa história. Filha do músico e exímio marceneiro Álvaro Silva, seu Nezinho, como era conhecido o integrante da Banda da União, amigo querido do meu tio Jorge, maestro daquela Banda, a saudosa Efigeninha foi professora da rede pública estadual, onde se aposentou, sem entretanto se aposentar de sua luta em defesa de Mariana. Na Escola Estadual “Soares Ferreira” da qual era diretora minha mãe, Naná Moysés , ao lado de Eny Nascimento, Lourdes Lopes, Lourdes Walter, Lili Dutra, Léa Dias, Pequenina, Antonia Camêllo e muitas outras dedicadas educadoras, Efigeninha teve importante presença.
Nos anos 80, pouco depois de termos um grupo de marianenses residentes em BH fundado o Movimento de Valorização de Mariana, que me coube presidir e que teve como propósito o resgate da identidade cultural de nossa cidade, tão descaracterizada. Então, Efigeninha teve a feliz idéia de criar também em Mariana o Movimento Renovador, responsável por importantes intervenções e intensa mobilização social liderada por ela, no intuito de agregar as forças vivas da comunidade em defesa da cidadania marianense.
Nascida em uma família dotada de grandes habilidades artísticas – Álvaro, seu sobrinho, é expressão destacada dessas habilidades – Efigeninha praticou, com maestria, uma outra arte: a de juntar pessoas em torno de idéias e objetivos comuns, por meio de associações comunitárias. E ainda assumiu na Casa de Cultura, Academia Marianense de Letras os encargos administrativos que exerceu com extrema competência e pontualidade. Ozanan Santos, diretor da Casa de Cultura, lamenta, assim como a maioria dos marianenses, a enorme perda que a cidade sofre neste momento. Discreta e modesta, Efigeninha cumpriu brilhantemente sua missão. Conosco ficam sua lembrança e uma grande saudade.
*Membro efetivo da Academia Marianense de Letras


Meu comentário: Alguns anos depois da posse do Professor Roque Camêllo na presidência da Casa Cultura de Mariana, ocorrido em 30.12.1986, quando do falecimento do Professor Waldemar de Moura Santos, um dos fundadores da Academia Marianense de Letras, Efigênia Maria da Silva, a nossa já saudosa Efigeninha, criou o Movimento Renovador de Mariana, instituição autônoma que passou a funcionar, desde o seu início, nas dependências da Casa de Cultura de Mariana. Como presidente da instituição, Efigeninha mobilizou a comunidade marianense para criar e registrar em cartório as Associações de Bairros, entidades comunitárias que foram fundamentais para representar a população nas suas reivindicações sociais junto ao governo municipal. Depois da criação das associações, federações e confederações de bairros, o relacionamento da comunidade marianense com as autoridades públicas municipais mudou completamente: a partir delas, governo e comunidade discutiam, harmonicamente, as prioridades de cada bairro.
Feiras artesanais, feiras de livros, exposições de artes plásticas, como desenho, pintura, escultura eram realizadas na Casa de Cultura sob os auspícios do Movimento Renovador. As tradicionais figuras bíblicas que abrilhantavam as cerimônias da Semana em Mariana no passado foram resgatadas. O Movimento Renovador tem hoje um guarda-roupa completo com roupas e acessórios dessas figuras bíblicas, como guardas romanos, Maria Madalena, anjos, o bom e o mau ladrão, Adão e Eva, a Verônica e as Zeus.
À meia-noite de sexta-feira santa, a Efigeninha resgatou a Procissão das Almas, baseado na lenda da Procissão do Miserere narrada no Livro Lendas Marianenses de autoria do escritor Moura Santos.
Efigênia Maria da Silva, num belíssimo trabalho voluntário, generoso e altruístico, pois fazia isto com muito amor, sem ganhar nada, foi uma pessoa muito importante não só para Mariana como também para o funcionamento da Casa de Cultura de Mariana. Ela já está fazendo muita falta!

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