sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Posse do primeiro bispo de Minas Gerais*

Rafael Arcanjo Santos

O marco oficial do início da vida religiosa em Minas Gerais se deu, definitivamente, com a soleníssima posse diocesana do primeiro bispo de Mariana, Dom Frei Manoel da Costa, no dia 28 de novembro de 1748, selando de vez o registro histórico da cidade-sede da administração do clero mineiro, cuja sociedade passou a viver com maior rigor em torno da Igreja e de seu poder inconteste.
Há 260 anos, portanto, Mariana foi palco de um dos acontecimentos mais ricos e faustosos da história colonial do Brasil: a posse solene de Dom Frei Manoel da Cruz ao trono episcopal marianense, cujas festividades foram narradas minuciosamente no documento intitulado “Áureo Trono Episcopal”.
Para a comemoração do 260º aniversário de posse do primeiro bispo à mitra marianense, o clero certamente deverá celebrar essa rara efeméride de forma solene, não com a envergadura de 1748, mas, pelo menos, de maneira digna e na data certa, com a presença do ilustre arcebispo, do colendo Cabido Metropolitano e das demais autoridades eclesiásticas (padres, religiosos e religiosas e seminaristas).
O povo, como sempre, (se a data for lembrada) estará presente.
As solenidades de posse do primeiro bispo de Mariana foram devida e cuidadosamente preparadas pelo povo, que se entregou, de forma abnegada, às “justas e santas comemorações“. A Sé e a praça fronteiriça ficaram iluminadas durante noites seguidas por milhares de lâmpadas de azeite, Gente de toda a Capitania começou a chegar à cidade. Missas solenes, ladainhas, novenas, concertos, danças públicas, espetáculos de fogos de artifício sucediam num misto profano e religioso que a ninguém chocava (...).
A recepção oficial foi marcada para o dia 28 de novembro, que amanheceu quente e ensolarada. As ruas estavam cobertas de areia, espadana e flores. As janelas dos sobrados ostentavam as mais caras tapeçarias, colchas e toalhas bordadas. O bispo saiu do palácio entre 9 e 10 horas da manhã e foi levado em liteira para a capela de São Gonçalo (da qual infelizmente só existe hoje a escadaria, funcionando no local o cemitério do bairro de mesmo nome). Nessa igrejinha, o bispo foi devidamente paramentado com todas as peças: sobrepeliz, amicto, alva, cíngulo, cruz peitoral, estola, capa pluvial, anel e mitra. Com todo esse peso extra, mostrando que estava em pleno gozo de saúde, Dom Frei Manoel da Cruz dirigiu-se à porta da capela onde o esperava um belo cavalo branco, todo coberto de damasco também branco, guarnecido de galão, franja e borlas de ouro. Seguiu-se, então, o desfile mais espetacular de que a história mineira tem notícia (...). O cortejo festivo cumpriu o seu trajeto solenemente, partindo da Capela de São Gonçalo em direção à Sé, passando pelas principais ruas da cidade, todas elas ricamente ornamentadas. À chegada triunfal do cortejo à Igreja-Matriz emocionou a toda comunidade religiosa presente à apoteótica festividade de posse do primeiro bispo de Minas Gerais. Os mínimos detalhes dessa grandiosa solenidade de posse estão descritos no célebre documento histórico “Áureo Trono Episcopal”, que serviu de testemunha ocular desse grande evento que marcou o inicio da história religiosa em território mineiro.
O mês de novembro, precisamente no dia 27 de novembro de 1963, portanto há 45 anos, marca também a data da elevação da Sé Catedral, consagrada a Nossa Senhora da Assunção, à dignidade de Basílica Menor.
Esse vetusto e magnífico templo de Mariana, ainda ilustre por sua antiguidade, fora elevado em 1745 à dignidade de Catedral e mais enobrecido em 1906 com o título de Igreja Metropolitana, no mesmo ano em que a Diocese se torna a primeira Arquidiocese de Minas Gerais.
A soleníssima festividade de posse do primeiro bispo, celebrada com muita pompa em Mariana há 260 anos, marcou nos anais da história de Minas Gerais a grandeza daquela memorável demonstração de fé do povo marianense na construção de uma civilização cristã, moldada no espírito empreendedor de Dom Frei Manoel da Cruz, que, com fibra e tenacidade, transformou o caráter cristão do mineiro através de suas extraordinárias realizações no abençoado bispado primaz da terra mineira.
A presença da Igreja Católica na formação cristã em Minas Gerais representou também um marco muito importante na educação e na cultura da gente mineira.
Fonte: “O Liberal” – Edição 825, de 25 a 30.11.2008.

domingo, 23 de novembro de 2008

Bastidores do Dia de Minas

Em 19 de outubro de 2009, o município de Mariana estará comemorando o 30º aniversário de instituição do Dia de Minas Gerais. Através da Lei nº 7.561, de 19.10.1979, o governador Francelino Pereira dos Santos instituiu o 16 de Julho, data de fundação da cidade de Mariana, como o Dia do Estado de Minas Gerais.

Data constitucional
Em 1º. 02.1989, em nome da Casa de Cultura de Mariana – Academia Marianense de Letras e do município de Mariana, o Professor Roque Camêllo compareceu ao plenário da Constituinte Mineira e apresentou uma proposição no sentido de que fosse o 16 de Julho – Dia do Estado de Minas Gerais – declarado data cívica constitucional, requerendo ainda que, nesse dia, a Capital do Estado fosse transferida simbolicamente para Mariana e a semana em que recaísse a data constituísse período de celebrações cívicas denominando-se Semana de Minas. Em 21.09.1989, é promulgada a nova Constituição do Estado de Minas Gerais, editando em seu Título V, das Disposições Gerais, o artigo 256 que reproduz a proposta apresentada em 1º. 02.1989.

Em 12.09.1995, o então presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, sancionou a Lei federal nº 9.093, que dispõe sobre feriados civis. No seu artigo 1º, são considerados feriados civis os declarados em lei federal e a data magna do Estado.
Devido a essa lei federal, em 16 de julho de 1996, quando Mariana completou o tricentenário de sua fundação, o Dia do Estado Minas Gerais foi comemorado pela primeira e última vez num feriado estadual. Além de causar inveja nas cidades histórica vizinhas, o feriado estadual desagradou a Câmara de Diretores Lojistas de Belo Horizonte que alegou o estúpido argumento de que o feriado estava causando prejuízo econômico ao povo e aos cofres públicos. Na ocasião, até o então prefeito de Mariana foi contra o feriado estadual só por que a idéia do Dia de Minas partira de um adversário político dele.

Emenda Constitucional
A Assembléia Legislativa de Minas Gerais - pressionada pelos inimigos políticos de Mariana, como os prefeitos de cidades históricas vizinhas, que não suportavam a idéia de o Dia de Mariana e de Minas ser feriado estadual – tentou transferir a comemoração do Dia de Minas Gerais para Ouro Preto, no dia 21 de abril, Dia de Tiradentes. Esta proposta indecente causou indignação à população de Mariana, levando a Câmara Municipal a lançar uma moção de repúdio à idéia do deputado Sebastião Navarro, autor da emenda constitucional.

Para não descumprir a lei federal que estabelece que seja feriado estadual a data magna do Estado, os deputados estaduais usaram um ardil semântico: transferiram para o dia 21 de abril a data magna do Estado. Com isso Mariana ficou sem o feriado, mas não perdeu o Dia do Estado de Minas Gerais. A salomônica emenda constitucional ficou assim redigida.
Artigo 256 – É considerada data magna do Estado o dia 21 de abril, Dia de Tiradentes, e Dia do Estado de Minas Gerais, o dia 16 de julho. (Redação alterada pela Emenda à Constituição 22, de 03.07.97).
§ 1º - A Semana em que recair o 16 de julho constituirá de celebrações cívicas em todo o território mineiro, sob a denominação de Semana de Minas. (Redação alterada pela Emenda à Constituição 22, de 03.07.97).
§ 2º - A Capital do Estado será transferida simbolicamente para a cidade de Ouro Preto no dia 21 de abril e para a cidade de Mariana, no dia 16 de julho. (Redação alterada pela Emenda à Constituição 22, de 03.07.97)

Desde o ano passado até hoje, a cidade de Matias Cardoso, por intermédio de uma deputada estadual de Montes Claros, está insistindo na esdrúxula, ridícula e eleitoreira forma de comemorar alternadamente o Dia de Minas da seguinte maneira: um ano lá e outro cá. Como Minas Gerais tem 853 municípios já pensou se a moda pega?

Como se vê, a manutenção do Dia de Minas Gerais, data muito importante para o prestigio político de Mariana, não tem sido uma tarefa fácil para os seus autores e idealizadores. Várias tentativas já foram feitas para sabotar essa gloriosa e pioneira conquista marianense, que os outros municípios, invejosos e sem nenhuma criatividade, tentam copiar. Uma vergonha!

Em sinal de protesto contra essa proposta indecente dos deputados estaduais de reformar a Constituição mineira apenas para prejudicar Mariana, na época, eu escrevi um artigo no jornal “Estado de Minas, de 11.09.1996, o qual eu transcrevo abaixo.

Os comerciantes e o Dia de Minas
Causou repercussão desfavorável em lideranças isoladas do comercio a lei federal 9.093 sancionada pelo presidente da República instituindo como feriado estadual a data magna do Estado de Minas Gerais. Ao contrário do que pensam alguns dirigentes comerciais, o Congresso Nacional aprovou a lei exatamente para coibir a pletora de decretação de pontos facultativos que, na realidade, são disfarçados feriados criados pelas administrações estaduais.
Foi em decorrência desse número elevado de recessos clandestinos que, de fato, prejudica a atividade econômica da nação, que o Congresso houve por bem limitar a instituição do feriado estadual somente à data magna de cada Estado da Federação.
Inconcebível numa democracia como a nossa, que consagra pluralidade religiosa, é o Poder Civil ainda decretar vários feriados religiosos. Aliás, até a própria Igreja Católica, com inteligência e realismo, à exceção da sexta-feira da Paixão e Natal que são comemorações universais, já transferiu todas as cerimônias de suas grandes festas litúrgicas, que caem durante a semana, para o domingo mais próximo, contribuindo assim para a racionalização dos feriados.
Na hierarquia das datas históricas, no plano nacional, jamais haveria o 15 de novembro, Proclamação da Republica, se não houvesse o 7 de setembro, Independência do Brasil. Da mesma maneira, no plano estadual, o 21 de abril, Inconfidência Mineira, jamais seria comemorado se não existisse o Dia de Minas, 16 de julho, data de fundação do Estado de Minas Gerais. As datas de 16 de julho e 7 de setembro, principais, são causas e o 21 de abril e 15 de novembro, acessórias, são meramente efeito delas.
Daí a conclusão: mudar a comemoração do Dia de Minas Gerais para o dia 21 de abril, como proposto por alguns dirigentes lojistas seria uma idéia absurda, uma verdadeira inversão hierárquica de datas históricas, sobretudo uma demonstração de falta de cultura.
Ao invés de combater a data de 16 de julho, Dia de Mariana e do Estado de Minas Gerais, aqueles empresários de comercio lojista deveriam pressionar os governos dos Estados para acabar com o abuso de pontos facultativos e recessos brancos que provocam as famosas “pontes” que levam ao “feriadão” de três a mais dias de recesso.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Memória cultural

A cidade de Mariana foi tombada pelo Decreto-Lei federal nº 25, de 30.11.1937, e foi considerada Monumento Nacional através do Decreto-Lei federal nº 7.713, de 06.07.1945. Como se sabe, o tombamento é o registro pormenorizado de um bem, com a finalidade de protegê-lo, preservá-lo e, assim, mantê-lo sob a custódia do Poder Público. O bem tombado fica sob o abrigo e a tutela pública. O tombamento é uma forma de intervenção do Estado na propriedade privada. Foi instituído no Brasil através do decreto-lei federal nº 25, de 30.11.1937, como instrumento de preservação do patrimônio histórico e cultural e é a primeira norma jurídica de limitação administrativa ao direito à propriedade.
A Constituição de 1988 estabeleceu que é da alçada da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios a responsabilidade pela proteção dos documentos, obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, bem como de monumentos, paisagens notáveis e sítios arqueológicos. O artigo 5º, inciso LXXIII assim determina: “qualquer cidadão é parte legitima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas jurídicas e do ônus da sucumbência”. A Constituição, ao estender esta responsabilidade ao cidadão, democratiza este processo, associando a preservação do patrimônio histórico e cultural ao exercício da cidadania.
Apesar de toda essa proteção legal e constitucional, tanto antes como depois do tombamento de Mariana, vários danos foram causados ao nosso patrimônio através de destruição de monumentos civis ou religiosos. Podemos citar vários casos como, por exemplo, a demolição do prédio do antigo Grupo Escolar Gomes Freire, ao lado da Câmara Municipal de Mariana, na Praça Minas Gerais. A demolição do belíssimo Palácio Azul do Bispo de Câmaco, onde residiu Dom Silvério Gomes Pimenta, na Rua das Mercês. Desapareceu também a residência de José Joaquim da Rocha, figura marcante no episodio do “Fico”, de Dom Pedro, e de Diogo de Vasconcelos na Rua Dom Viçoso. Também várias capelas foram destruídas, como a do São Gonçalo, do Morro de Santana, do Menino Jesus ao lado da igreja do Carmo, do Senhor dos Passos ao lado da igreja da Sé.
Nestes últimos 50 anos, como testemunha ocular e contemporânea dos fatos, devo dizer que os maiores responsáveis pela descaracterização de Mariana, em passado remoto ou recente, seja por ação ou omissão, foram a administração pública municipal e o IPHAN. Apesar de ter sido tombada em 1937 e tornada monumento nacional em 1945, somente na década de 1960 que Mariana passou a ter um escritório local do IPHAN. Por não ter, na época, plano diretor nem lei orgânica que surgiu apenas em 1990, legislação esta que os então prefeitos, para não entrar em atrito político com seus correligionários, não a respeitavam e a ignoravam, o município, por ação ou omissão, aprovava qualquer projeto de construção, restauração ou demolição de prédios históricos ou não, com a conivência ativa ou passiva do IPHAN.
Na Rua Barão de Camargo, por exemplo, um proprietário construiu um imóvel invadindo a rua, usando indevidamente o espaço público. A obra foi embargada há mais de 20 anos, mas o prédio continua ali inacabado, no mesmo lugar. Nenhuma autoridade consegue tirar aquela excrescência dali. Em 1968, o IPHAN, então dirigido pelo engenheiro e arquiteto Dr. Wilson, com a promessa não cumprida de restaurá-lo, mandou derrubar um imóvel colonial de mais de 200 anos de fundação e que existia na Rua Dom Viçoso. O saudoso funcionário José Tomé dos Anjos, na época mestre-de-obras do IPHAN e que era contra a demolição, me doou a foto em que aparecem os pedreiros e carpinteiros do órgão federal derrubando o referido imóvel histórico. Na ocasião, meu pai, que era jornalista, historiador e um dos herdeiros do imóvel, denunciou a absurda demolição no jornal “O Globo” o que causou muita repercussão nos meios culturais do país. Na década de 1980, o município, por ação, construiu o ginásio poliesportivo e o IPHAN, por omissão, só tentou embargar a obra quando ele estava quase pronto.
Muitos proprietários de imóveis no centro histórico de Mariana construíram garagem em seus imóveis alterando a fachada deles e causando desnivelamento dos passeios, com ou sem autorização expressa do município ou do IPHAN. Naquela época, se não me engano, não havia e creio que ainda não há lei que impeça a abertura de garagens. É muito conhecido o principio jurídico de que o que não é proibido é permitido. Ao contrario do que muita gente pensa, uma nova lei obrigando a todos fechar suas garagens seria ilegal, pois a retroatividade dela prejudicando direito adquirido de pessoas é inconstitucional. Mas, sinceramente, reconheço que a abertura de garagens alterou muito o visual da fachada original dos imóveis.
Para evitar ilações apressadas e juízos equivocados a respeito de minha coerência pessoal devo esclarecer que, em 1980, com aprovação do projeto pelo município e pelo IPHAN, eu também construí uma casa em estilo colonial com garagem no centro histórico no lugar do antigo imóvel colonial acima citado anteriormente e demolido pelo IPHAN em 1968, não alterando, portanto, nenhuma fachada de prédio anterior ainda existente.
Antigamente, por não ter plano diretor, plano de uso e ocupação de solo, nem lei orgânica do município, a aprovação ou desaprovação de plantas e projetos no município era muito subjetiva. Dependia muito do humor e da boa ou má vontade dos arquitetos de plantão tanto na prefeitura quanto no IPHAN. Não havia parâmetros técnicos balizadores para aprovar ou desaprovar projetos: o que valia para uns já não valia para outros. Não havia isonomia nem coerência nas decisões. Era por causa dessa falta de critérios que muita gente ficava revoltada quando projetos idênticos de uns eram aprovados e de outros rejeitados.
No meu entendimento, porém, não devemos lamentar o que já foi destruído no passado, mas sim, não descaracterizar mais e preservar com muito carinho o pouco que ainda existe: o pequeno, mas belo e maravilhoso centro histórico de Mariana!

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Revitalizações no centro histórico

Parece-me, salvo engano, que as revitalizações do centro histórico de Mariana continuarão no próximo ano de 2009, já sob a coordenação da futura administração municipal. A revitalização das Praças Gomes Freire, Sé, Tancredo Neves, Minas Gerais, São Pedro e do calçamento da Rua Direita demorou tanto que as próximas revitalizações não poderão ser concluídas na atual administração.
Além dos embargos de obras provocados pelo IPHAM, Ministério Público e por outras organizações não governamentais, no meu entendimento, salvo melhor juízo, a demora das obras se deveu também à falta de diálogo da atual Secretaria de Obras do município e do Monumenta-Bid com os demais órgãos fiscalizadores. A impressão que se passava para a população marianense era a de que os fiscalizadores e fiscalizados não falavam a mesma língua.
Sem entrar no mérito de quem estava certo ou errado, essa longa agonia na conclusão das obras foi muito prejudicial não só à imagem de competência da atual administração municipal, como também causou sérios prejuízos financeiros ao município, pois as empreiteiras que ganharam as licitações não tomaram nenhum prejuízo, pois, segundo cláusulas contratuais, se a demora não foi culpa delas, quem deveria pagar a conta era, como sempre, o município.
A Rua Direita teve o seu calçamento restaurado, mas os passeios estão esburacados precisando de uma reforma geral. O imóvel que foi desapropriado pelo município há três anos e está desabando precisa ser restaurado imediatamente. Atrás do imóvel em ruína existe um matagal ideal para a proliferação de ratos e mosquitos da dengue. O tapume construído em frente ao imóvel, por ser largo demais, está obstruindo a maior parte da passagem de veículos pela rua. A exemplo da Rua Dom Silvério, a prefeitura precisa providenciar também urgentemente a instalação de hidrantes na Rua Direita, pois o risco de incêndio ali é muito grande devido ao fato de todo o belíssimo casario colonial barroco ser parede-meia, geminado. Infelizmente, instituições bancárias e financeiras não firmam contratos de seguro contra incêndio com os proprietários de imóveis situados no centro histórico de Mariana.
A Rua Dom Viçoso está precisando também de uma revitalização geral. Além dos passeios esburacados, bueiros entupidos e mal-cheirosos, a iluminação pública é péssima e ainda somos obrigados compulsoriamente a pagá-la na nossa conta de luz da Cemig. Um absurdo! Além disso, a exemplo da Rua Direita, a Dom Viçoso também tem o seu matagal bem vistoso que vai daquela rua até o campo do Guarany, no imóvel de propriedade do Estado de Minas Gerais, local propicio também à criação de ratos e mosquitos da dengue. A saúde pública municipal já sabe da existência desses dois matagais no centro histórico, mas não toma nenhuma providência para acabar com eles.
Para que as próximas revitalizações do centro histórico de Mariana não virem uma novela sem fim e nem causem mais prejuízos ao município, recomenda-se à futura administração tomar algumas precauções: o planejamento das obras e o diálogo permanente com os órgãos fiscalizadores. E não se esquecer também de providenciar aquela verba específica para bancar as pesquisas dos arqueólogos sobre tudo aquilo que eles acharem importante e que ficará sempre enterrado debaixo do solo.
Quem sabe se eles ainda descobrem um esqueleto completo de um dinossauro marianense?...

Fonte: jornal "Território Notícias" - Edição 13, de 13 a 19.11.2008.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Memória política

O tradicional antagonismo político entre Direita e Esquerda em Mariana durou incólume durante quase todo século XX. Essa longevidade se deveu ao fenômeno do fanatismo político então existente no município e que dava suporte à fidelidade partidária. A infidelidade raramente acontecia, mas, quando acontecia, a pessoa era considerada traidora e, execrada, caía em desgraça e no ostracismo político.
A partir de 1970, o quadro político marianense começou a sofrer modificações partidárias. Naquela ocasião, João Ramos Filho não só rompeu politicamente com o Dr. Celso Arinos Motta, que chefiou a Esquerda por mais de 30 anos, como também tomou o seu lugar assumindo, desde então, a liderança daquela facção.
Simultaneamente, os Irmãos Salim Mansur, que chefiavam a Direita, romperam com ela e passaram a dar apoio a João Ramos em 1972, quando então JR ganhou as eleições municipais para o cargo de prefeito, no período de 1973 a 1976.
Quando o seu sucessor, Jadir Macêdo, que era da Esquerda e governou Mariana por seis anos, no período de 1977 a 1982, João Ramos rompeu politicamente com ele. Então, nas eleições de 1982, Jadir Macedo apoiou Roque Camêllo, candidato da Direita, mas perdeu as eleições para João Ramos que governou a cidade por seis anos, no período de 1983 a 1988.
Nas eleições municipais de 2000, quem seria candidato outra vez era João Ramos. Como foi impedido pela Justiça Eleitoral de disputá-las, o candidato vitorioso da Esquerda foi Celso Cota, que governou o município no período de 2001 a 2004. Mais uma vez, João Ramos rompe politicamente com um companheiro de seu de partido. Disputando a reeleição, Celso Cota acaba vencendo diretamente João Ramos.
Esses sucessivos e contumazes rompimentos políticos provocados por João Ramos com os seus maiores amigos e correligionários e que eram seus melhores cabos eleitorais fizeram com que o quadro partidário marianense mudasse radicalmente de formato partidário. JR só não ficou politicamente isolado porque ele, sozinho, além de líder,era bom de voto.
Com isso, já não havia mais espaço para a permanência do tradicional antagonismo político entre Direita e Esquerda. Esse antagonismo político foi substituído pelo antagonismo de ramistas e antiramistas como aconteceu nas eleições municipais de 2004 e deste ano.
Tanto isso é verdade que, numa histórica e inédita aliança, Celso Cota, da Esquerda dissidente, se lançou candidato a prefeito com o apoio da Direita que indicou Roque Camêllo como seu vice, e que está governando o município desde 2004 até o final deste ano de 2008, após derrotar diretamente o seu contendor e adversário político João Ramos.
A história agora se repetiu: a Direita lançou Roque Camêllo como candidato a prefeito tendo como seu vice Zezinho Salete, também da Esquerda dissidente, aliança que saiu vitoriosa nas eleições municipais deste ano, para o próximo período de 2009 a 2012.
Conclusão da história: na teoria, as facções políticas marianenses Direita e Esquerda ainda existem, mas, na prática, agora são várias, misturadas e comandadas por diversos lideres tanto ramistas como antiramistas.
O atual quadro político poderá continuar como está ou então dará uma reviravolta radical, de conseqüências políticas imprevisíveis. Para continuar como está, a atual lua de mel entre a Direita tradicional liderada por Roque Camêllo e a Esquerda dissidente 1, liderada por Celso Cota, terá que prosseguir. A aliança política entre as duas facções, que começou em 2004, deu certo até hoje. Mas quem garantirá que dará certo nos próximos quatro anos?
Só Deus sabe!

Invasões de terra

Os latifundiários marianenses, proprietários de terras devolutas do município, ilegalmente doadas a eles pelo então prefeito de Mariana, na década de 1940, inventaram uma forma inteligente de ganhar dinheiro e valorizar suas propriedades localizadas, segundo o Departamento de Geologia da UFOP, em áreas de risco, sujeitas a desmoronamento de encostas e inundações de rios.
A estratégia consiste em permitir que suas terras sejam invadidas de mentirinha e nelas se construam casas sem nenhum planejamento urbano. Quando o tal bairro vira um caos social, os latifundiários, espertos, entram com uma ação de reintegração de posse na Justiça e culpam o município de permitir a invasão de suas terras pelos supostos invasores. O município, chantageado pelos latifundiários, não tem outra saída senão fazer uma desapropriação milionária por terrenos e áreas que não valem nada, como também terá que arcar com uma despesa enorme para urbanizar os bairros que não têm absolutamente nada.
Para acabar com essa indústria de falsas invasões consentidas com o propósito de ganhar dinheiro fácil do município, o Plano Diretor, aprovado pela Câmara Municipal e sancionado pelo Prefeito, estabeleceu que essas terras devolutas em poder dos latifundiários, por serem áreas de risco e impróprias, portanto, para construção de moradias, são declaradas de preservação ambiental.
Nas eleições municipais deste ano, os latifundiários, querendo ganhar as eleições de qualquer maneira, insuflaram mais uma vez as invasões. O propósito era ganhar votos. Caso eleitos, certamente iriam derrubar a lei de preservação ambiental e construir em todo o entorno de Mariana casas populares, provocando aquele temível inchaço populacional precoce capaz de provocar caos social e violência urbana, pois o que adianta o povo ter casa se não tem empregos?
O próximo prefeito e os futuros administradores de Mariana e vereadores precisam ter coragem cívica e política de estabelecer que as prioridades do município hoje não sejam mais criar bairros e mais casas populares, mas sim, gerar empregos para os que já vivem aqui há muitos anos e já têm suas casas para morar. Temos que acabar com essa mania eleitoreira de prometer criar bairros e doar casas para todo mundo.
Afinal de contas, Mariana não merece ser transformada numa mini-baixada fluminense!
Fonte: Editorial do jornal "Território Notícias, Edição 12, de 06 a 12.11.2008.

Casa de Cultura de Mariana - 46 anos

Em 28 de outubro, a Casa de Cultura de Mariana completou 46 anos. Criada pelo professor, historiador, escritor e jornalista Waldemar de Moura Santos, desde 1962 a Academia Marianense cumpre a missão principal a que se propôs: de consagrar-se à Cultura, Arte e Ciência. Foi a primeira Casa de Cultura de Minas Gerais.
“O casarão onde está localizada a Casa de Cultura de Mariana pode ser considerado três vezes histórico: era a casa onde se hospedava Dom Pedro II, onde morou o inconfidente Cláudio Manoel da Costa e onde se reuniam os sediciosos de Filipe dos Santos. A Casa de Cultura é uma instituição que sobrevive, ao longo de seus 46 anos de profícua existência, graças ao trabalho abnegado de seu fundador, professor Waldemar de Moura Santos”, declara orgulhoso o filho dele, Rafael Arcanjo Santos. Hoje boa parte dos eventos marianenses é realizada na Casa de Cultura, que é aberta ao público sem nenhum ônus. São partes integrantes da Casa de Cultura de Mariana o “Madrigal Mariana”, grupo coral fundado em 19 de março de 1971; a Biblioteca “Dom Silvério”; o Grupo Musical “Uns e Outros”, a Academia Marianense Infanto-Juvenil e a Escola de Ensino de Violão “Prof. Moura Santos”. O curso gratuito de violão é ministrado pelo professor, historiador e músico Rafael Arcanjo Santos. Criado em agosto de 2001, leva o nome do Professor Moura Santos, nome este sugerido pelos próprios alunos, numa homenagem ao presidente-fundador da Casa de Cultura de Mariana-Academia Marianense de Letras, Ciências e Artes, grande incentivador da arte, da música e da cultura na cidade. As aulas de violão são iniciadas em fevereiro de cada ano, culminando no recital no segundo sábado de dezembro. O curso é realizado na Casa de Cultura, à Rua Frei Durão, 84, tendo como principais exigências: violão, assiduidade, pontualidade e respeito. “Sem empenho e dedicação, dificilmente o aluno (a) consegue um aprendizado consistente” diz Santos.
A música foi além das paredes do casarão histórico. Também como uma forma de homenagear o Professor Moura Santos, foi fundada, no dia 02 de agosto, no bairro Gogo localizado a 3 km do centro de Mariana, a Escola de Música Professor Moura Santos, voltada ao ensino de teclado. As aulas são ministradas pelo maestro Fabrício Pereira Rodrigues, que rege o Coral Madrigal Mariana e o Coral Gregoriano de Ouro Preto. Segundo o maestro a idéia de criar a escola no bairro veio da necessidade de promover uma atividade para as crianças e adolescentes da localidade, a música complementa a educação escolar. “Eles aprendem a ler partituras, materiais pedagógicos coloridos são utilizados, e aos poucos eles aprendem a escrita da música convencional e tradicional”.
A escola conta com o apoio da moradora do bairro Gogo, Nenzinha, que cuida do espaço onde são realizadas as aulas. Recentemente a escola recebeu a doação de quatro teclados dos colaboradores Pedro Cosme Teixeira, Coronel reformado do Exército; Pedro Jorge Teixeira e Benigna C. V. Eufrásio de Paula. Atualmente são 20 crianças e adolescentes, divididos em cinco turmas. A escola fica na rua B, nº 170, no bairro Gogo e está aberta aos sábados de 08 a 12 horas.
Fonte: “O Liberal” – Edição 821, de 27/10 a 02/11/2008.