sábado, 26 de janeiro de 2019

Falta às mineradoras uma Operação Lama-Jato*


Josias de Souza

    Qualquer dia os casos de rompimento de barragens como as de Mariana e de Brumadinho, em Minas Gerais, passarão pelo crivo de uma força-tarefa de jovens procuradores e cairão no colo de um juiz valente. Quando empresários inconsequentes e agentes públicos incompetentes perceberem que poderão passar alguns anos na cadeia, mineradoras como a Vale e o Estado ficarão mais próximos da solução do que do problema. Só uma Operação Lama-Jato pode evitar que o setor de mineração continue matando gente e degradando o meio ambiente.
    Ao sujar os sapatos no cenário da tragédia de Brumadinho, neste sábado, Jair Bolsonaro reverencia o sofrimento de brasileiros que lhe pagam o salário. Não é pouca coisa. Até hoje Dilma Rousseff não conseguiu explicar por que acordou tarde no episódio do vazamento de rejeitos de minério em Mariana, que matou 19 pessoas e arruinou a existência e o habitat de algo como 500 mil moradores de Minas Gerais e do Espírito Santo em 2015. Diferentemente do capitão, madame só visitou o mar de lama uma semana depois do tsunami. E limitou-se a sobrevoar o descalabro.
    Bolsonaro converterá acerto em equívoco se a simbologia de sua visita não for seguida de uma gestão qualificada do problema. O primeiro passo é o ajuste da retórica. O capitão já expôs o desejo de expandir a atividade mineradora no país. Se deixarem, converterá até territórios indígenas em lavras minerais. Alardeou, de resto, o plano de afrouxar a política de licenciamento ambiental. Praguejou o que chama de "indústria da multa". Ou Bolsonaro domestica a língua ou voltará a sujar os sapatos na lama. A conjuntura pede um choque de ordem, não a suavização do que já é uma moleza.
    As investigações do desastre de Mariana resultaram no indiciamento de 21 pessoas (eram 22, mas uma foi retirada do banco dos réus pela Justiça). Afora os prejuízos materiais e ambientais, os personagens foram acusados de cometer 19 homicídios. Decorridos três anos e dois meses, ninguém foi julgado. Prisão? Nem pensar. Ao descaso com a memória dos mortos soma-se o desrespeito com os vivos, que guerreiam até hoje pelas indenizações. Contra esse pano de fundo, a condescendência com os oligarcas da mineração seria um escárnio.
Para chegar à solução, é primordial enxergar o problema. Em 2015, nas pegadas da tragédia de Mariana, Dilma editou um decreto para liberar o FGTS às vítimas. O texto chamou a negligência criminosa de "desastre natural". Na época, a subprocuradora Sandra Cureau, que respondia pela área de meio ambiente na Procuradoria-geral da República, ralhou: "Isso pode ter reflexo na área penal, também na área cível".
Sandra Cureau acrescentou: "Se foi natural, não é responsabilidade de ninguém. A presidente (Dilma) não pode editar um decreto dizendo que um quadrado é redondo, que uma laranja é azul. Esse desastre não é natural". Com seu lero-lero flexibilizador, Bolsonaro como que reincide no equívoco da naturalização do antinatural.
    Se a Lava Jato introduziu algo de bom na conjuntura nacional foi que, pela primeira vez desde a chegada das caravelas, o braço repressor do Estado investigou e prendeu corruptos e corruptores graúdos. Foi em cana muita gente que se imaginava acima da lei. Ao perceber que a festa acabara, empreiteiros e políticos que pintavam e bordavam passaram a colaborar com a Justiça. Roubar tornou-se uma atividade arriscada.
    Uma Operação Lama-Jato injetaria nos cálculos de engenharia, de manutenção e de fiscalização das barragens uma variável nova: o pavor da tranca e o medo do escoamento do patrimônio pessoal para as indenizações e as multas. Ficaria entendido o seguinte: não é que o crime das mineradoras não compensa. É que, quando compensa, ele muda de nome. Passa a se chamar "desastre natural".
Fonte: Blog do Josias

quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Pornográfico auxílio-mudança


Juiz faz a coisa certa e proíbe o pornográfico auxílio-mudança a parlamentares que não vão se mudar de Brasília: bagatela de R$ 67,4 mil

Por: Reinaldo Azevedo

   Leio no Estadão o que segue. Comento em seguida:
  
   O juiz federal Alexandre Henry Alves, da Vara Federal Cível e Criminal de Ituiutaba (MG), decidiu nesta quarta-feira (23) proibir os presidentes da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado Federal, Eunício Oliveira (MDB-CE), de pagarem auxílio-mudança para deputados federais e senadores já reeleitos. O veto no pagamento do benefício também vale para deputados federais que já vivem em Brasília e que viraram senadores, ou vice-versa. Cabe recurso.
O juiz fixou uma multa de R$ 2 mil por pagamento efetuado a cada deputado ou senador nessas condições.
   Conforme informou o Estado em 5 de janeiro, Rodrigo Maia – que está em campanha pela reeleição – antecipou o pagamento de auxílio-mudança aos deputados. O benefício, equivalente a um salário – R$ 33,7 mil –, é tradicionalmente pago ao fim do mandato, que acaba em 31 de janeiro, foi depositado no dia 28 de dezembro do ano passado na conta dos parlamentares.
   A decisão do juiz federal foi tomada no âmbito de uma ação popular ajuizada pelo advogado e vereador Douglas Henrique Valente (PTB), de Gurinhatã (MG).
Em sua decisão, o juiz federal observou que a ação popular cabe para impedir lesão ao patrimônio público e à moralidade administrativa, como no caso em questão.
 
   “Medidas que destoem do real sentido da lei e dos princípios democráticos republicanos, lesando por demasiada os cofres públicos, devem ser coibidos, numa verdadeira forma se trazer o equilíbrio necessário entre a necessidade estatal, a demanda da sociedade e os meios necessários a sua efetiva concretização”, avaliou.

“Em nenhum desses pontos se justifica o pagamento do ‘auxílio-mudança’ para aqueles candidatos que mantiveram seu cargo por reeleição ou para aqueles que foram eleitos para a outra casa legislativa, já que para eles não houve mudança de domicílio ou transporte de seus bens para uma nova localidade”, concluiu Henry Alves.
 
   O juiz federal também determinou que o autor da ação identifique em um prazo de 15 dias os deputados e senadores que deverão restituir valores aos cofres públicos. “É uma decisão que vem a calhar com o anseio da sociedade, diante de tantos atos de dinheiro público mal gasto e de pessoas que estão aí na fila do SUS, à espera de medicamentos”, disse à reportagem o advogado e vereador Douglas Henrique Valente.

Comento
Está aí uma decisão decente. E espero que, decentemente, o Congresso não recorra.
Que sentido faz pagar dois salários-mudança — sim, são dois: total de R$ 67.400 — a parlamentares que não vão se mudar de Brasília porque foram reeleitos ou vão assumir outro cargo na mesma cidade? É espantoso que exista um Decreto Legislativo que permita tal sem-vergonhice.
Palmas ao juiz Alexandre Henry Alves, que, com sua decisão, corrige uma imoralidade.

Auxílio mudança sem mudança


    Deputados e senadores que vão permanecer em Brasília teriam direito a verba de R$ 33 milhões.
Segundo informação repassada pelo colunista de “O TEMPO”, Ricardo Corrêa, a Justiça Federal determinou que o Senado Federal e a Câmara dos Deputados suspendam imediatamente o pagamento do auxílio-mudança aos parlamentares que foram reeleitos para o Congresso Nacional. A liminar foi concedida em uma ação popular apresentada pelo advogado mineiro Douglas Henrique Valente.
No pedido, o autor aponta que o atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), antecipou o pagamento da verba de R$ 33 milhões a 505 deputados em dezembro, totalizando um gasto de R$ 17 milhões.
    O auxílio-mudança se destina à compensação das despesas inerentes ao transporte de bens e à mudança de domicilio do candidato eleito. No caso da reeleição, como os deputados e senadores não vão de fato se mudar, sustenta Douglas Valente, o benefício “não se justifica, consubstanciando verdadeiro locupletamento sem causa”.
 
   “Determino que os presidentes das Casas Legislativas da União, Rodrigo Maia e Eunício Lopes de Oliveira, se abstenham de promover e/ou autorizar qualquer pagamento a título de indenização da ajuda de custo, em favor dos deputados federais e senadores reeleitos, bem como para os deputados eleitos como Senadores, ou vice-versa, sob pena de multa de R$ 2.000 por pagamento efetuado a cada deputado ou senador nessa condição”, destacou o juiz Alexandre Henry Alves.
 
Meu comentário: tudo que é ilegal e imoral, os políticos, através de leis ou decretos, transformam tudo em coisa legal. É o caso do auxilio-mudança para quem não fez mudança. E o pior: os magistrados que não podem legislar em causa própria, não perdem tempo: concedem assim mesmo auxilio moradia para quem já tem casa própria, uma imoralidade! São os marajás da República quebrando a Previdência social!

quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Reforma da Previdência


   Segundo Paulo Guedes, novo ministro da Economia, reforma da Previdência é o primeiro e maior desafio do governo. Na sua avaliação, a Previdência brasileira é hoje uma “fábrica de desigualdades”. “Quem legisla e julga tem as maiores aposentadorias, e a população, as menores”, disse Guedes, que foi muito aplaudido nesse momento do seu discurso de transmissão de cargo.
“A classe política é criticada por ter muitos privilégios e poucas atribuições”, disse. Na sua avaliação, “o resultado das eleições deu o recado aos políticos de que eles não estão conseguindo ajudar país”, afirmou.
 
   Superministro
   Em seu primeiro discurso como ministro da Economia, Guedes refutou o titulo de “superministro” e disse que ninguém consertará os problemas do país sozinho. “È uma construção conjunta, não existe superministro, não existe alguém que vai consertar os problemas do país sozinho, os Três Poderes terão que se envolver”, enfatizou.
 
   Segundo Guedes, o Poder Legislativo declarou sua independência no processo de impeachment (de Dilma Rousseff). Sem citar nomes, ele afirmou que, nesse episodio, o Executivo tentou comprar parlamentares, e o Judiciário “prendeu quem comprou e quem vendeu”.
“Houve uma mudança de eixo, após 30 anos de revezamento da centro-esquerda, há agora aliança de conservadores no costume e liberais na economia. nossa democracia estava capenga sem isso”, completou.