quarta-feira, 20 de julho de 2016

Mariana, raiz de Minas


Tilden Santiago é jornalista

    No fim de semana de 9 a 10 de julho, nos reunimos em Mariana – os ex-alunos do seminário que para lá corremos, todos os anos, nessa data. São dois, três dias de gratas lembranças e reencontro com amigos e as fontes de Minas – Mariana e Ouro Preto, onde nos dedicávamos a uma vivência espiritual e buscávamos conhecer as humanidades, a latinidade, a filosofia e a teologia em nossa adolescência e juventude.
    Encontramos Mariana em fervorosa preparação, esperando o governo de Minas, que para lá se transfere, todos os anos, no dia 16 de julho – dia de Nossa Senhora do Carmo e de fundação de Ribeirão do Carmo, da Vila do Carmo, berço de Minas Gerais, juntamente com Ouro Preto, Sabará, Diamantina, São João Del Rei, Congonhas, Caeté, Itabira e outras cidades históricas.
    Minha surpresa foi grande ao ler, dois dias depois, em artigo perspicaz do amigo e ex-colega Roque Camêllo, marianense da gema, na página de Opinião de O TEMPO, a notícia de que o governo mineiro cancelou a solenidade oficial do Dia de Minas em sua primeira capital, como vinha acontecendo, todos os anos, nessa data 16 de julho.
    Quero me somar a Roque Camêllo em seu protesto contra esse gesto e a justificativa – luto pela tragédia da Samarco em Bento Rodrigues. Trata-se de decisão que descumpre a Lei Estadual 7.561/1979 e o artigo 256 da Constituição mineira.
     Duvido que o nosso governador, Fernando Pimentel, com quem militei no passado por 28 anos, esteja seguindo a sugestão de nosso secretário de Cultura, o ex-prefeito de Ouro Preto Angelo Oswaldo. Quem teria sugerido isso ao governador? Duvido também que esse cancelamento tenha o apoio do prefeito, dos vereadores e do arcebispo de Mariana, dom Geraldo Lyrio, colega de teologia e coirmão de sacerdócio em Roma, nos anos 60. E estou certo de que indignados ficam o marianense e todo cidadão que carrega no peito a alma de Mariana, que no fundo é a alam de Minas.
    Em vez de uma tardia celebração de luto, o que Mariana e Bento Rodrigues precisam é de atenção e vontade política para a solução definitiva de seus problemas, especialmente os decorridos da tragédia da lama da Samarco. O município precisa de mais investimentos, especialmente no setor de turismo, já que, como nos lembra Roque Camêllo, historiador e professor marianense, é de justiça “compensar mais de 300 anos sugados de suas entranhas para Minas e para o Brasil”.      Eu acrescentaria: antes de tudo, para Portugal, Inglaterra e toda a Europa.
    A tragédia de Bento Rodrigues acontece no bojo de uma grande crise que afeta nosso Estado e o Brasil. Além das medidas imediatas, necessárias para superar qualquer crise, cumpre fomentar nossa autoestima, na busca de um futuro bem mais promissor do que o presente, vivido pelo Brasil, por Minas, por Mariana e pelo que sobrou de Bento Rodrigues.
    E essa autoestima e esforço de recuperação passam pelo avivamento de nossa memória histórica. O cancelamento da transferência do governo para Mariana sinaliza desprezo pelas raízes de Minas. Fernando Pimentel, amigo deste escriba, sabe disso!

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