domingo, 25 de novembro de 2018

Para além da mineração


Vocação e futuro de Mariana

Mauro Werkema é jornalista 

   Ainda não se vê na discussão sobre Mariana e seu futuro, quando o desastre ambiental completa três anos, a indicação da principal vocação da tricentenária cidade, que é o turismo em seus diversos segmentos com que se organiza no mundo contemporâneo. Primeira capital de Minas, de 1709 a 1720, primeira a obter o título de vila, em 1711, e de cidade, em 1745, primeira Câmara municipal, primeira diocese, em 1745, inaugura o ensino religioso com o seminário em 1752, entre varias outras primazias, Mariana é pioneira, com Vila Rica e Sabará, na ocupação do território interior do Brasil Colônia, no final do século XVII. E abriga patrimônio histórico, artístico e cultural raro, exemplar precioso e bastante preservado da arquitetura luso-brasileira setecentista. É claro que a mineração, com o retorno da Samarco, é desejada como atividade geradora de renda e emprego, mas que apresenta limitações ambientais e até de finitude.
   SE a Renova, fundação criada pela Vale e pela australiana BHP, proprietárias da Samarco, deseja deixar para Mariana um legado maior e além da simples retomada da mineração, com visão e permanência no futuro, será no turismo que encontrará a maior contribuição que poderia dar para a tricentenária cidade.
   Tanto quanto Ouro Preto, Diamantina e Congonhas, inscritas pela UNESCO na lista de Patrimônio Cultural da Humanidade, Mariana é também tombada, desde 1938, pelo IPHAN e possui excepcional acervo histórico e cultural para tornar-se um importante destino turístico. Seu patrimônio arquitetônico, civil e sacro tem reconhecida singularidade e exemplaridade, e sua história, cívica, religiosa e cultural, confunde-se com a formação de Minas Gerais.
   Mariana, além das muitas primazias e pioneirismos que lhe conferem o título de Cidade Matriz de Minas, e que todo ano, em 16 de julho, data de sua fundação em 1696, torna-se capital do Estado, é berço de ilustres vultos humanos, na literatura, com Cláudio Manoel da Costa, José de Santa Rita Durão e Alphonsus de Guimaraens; na arte, com Manoel da Costa Athayde e José Pereira Arouca; na história, com Diogo de Vasconcelos; na religiosidade, com dom Silvério Gomes Pimenta, dom Viçoso e monsenhor Horta e muitos outros prelados. Participou da Inconfidência de 1789, tem influência no Império e na República. Já foi chamada de “Roma Brasileira” por sua religiosidade e sua histórica arquidiocese.
   Atividade ambientalmente limpa e grande geradora de emprego, trabalho e renda, o turismo cresce em todo o mundo globalizado com a demanda por conhecimento, lazer, educação e cultura. Falta em Mariana um plano turístico integrado, que explore os segmentos de convenções e negócios, o turismo religioso e empresarial e, sobretudo, o cultural.
Seria o grande presente que a Vale e a BHP deixariam para um futuro consistente e sustentável de Mariana. Como também para a cultura e turismo mineiros.
Fonte: artigo publicado no jornal “O TEMPO”, de 22.11.2018.

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