domingo, 20 de março de 2011

Vestibular do faz de conta*

Com autonomia para definir processos seletivos, universidades particulares montam pacotes de facilidades para atrair mais estudantes e aprovam até candidato que perdeu os exames.
Glória Tupinambás

“As listas de vestibular saíram e seu nome não estava nelas? Nada de frustração. Reprovação em processos seletivos não é o fim do mundo.” Esse é o chamado de uma universidade particular de Belo Horizonte aos candidatos que não obtiveram sucesso nas últimas provas. No melhor estilo “fazemos qualquer negócio”, as instituições de ensino superior privadas estão de portas escancaradas para todos e prontas para laçar novos alunos. No pacote de facilidades e conveniências, há faculdades que aplicaram até 18 vestibulares em apenas quatro meses; escolas que convocaram o 190º colocado no concurso que oferecia apenas 50 vagas; aluno que perdeu a prova e mesmo assim foi comunicado da aprovação; e até estudantes autorizados a começar o curso no 3º período ou mesmo escolher qualquer outra graduação da universidade diante da dificuldade de formar turmas. Com tanto incentivo, para ter um diploma basta querer, ou melhor, pagar.
Perante a lei, ninguém está errado nesta história – nem as universidades que oferecem comodidades para novos alunos, pois a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) dá autonomia para que as instituições formulem seus processos seletivos, nem os estudantes que aceitam tais conveniências. Mas o medo de ser malvisto na escola, de manchar o currículo e de, no futuro, enfrentar obstáculos profissionais impede que muitos universitários ouvidos para esta reportagem mostrem o rosto e deem o nome verdadeiro. (...)
Novas estratégias e alternativas, que vão desde vestibulares agendados até a análise do currículo dos candidatos, são inventadas a cada dia pelas universidades, faculdades ou centros universitários particulares de Minas. Na corrida para preencher 245,7 mil vagas atualmente disponíveis no ensino superior nas 280 instituições de ensino do estado – número quase três vezes maior que em meados da década de 1990 –, o aluno se transforma em cliente e a essência dos tradicionais vestibulares cai por terra. Prova disso é que quase 10% das vagas foram ocupadas por estudantes que não participaram de processos seletivos tradicionais, como vestibulares e o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Nada menos que 21.189 alunos entraram nas instituições por entrevistas, avaliação de currículos ou matrícula-cortesia.
Nesse contexto, em que o ensino superior tem se transformado numa mercadoria, especialistas alertam sobre os riscos para a qualidade da formação. “A expansão do número de vagas tem dois lados. O positivo é que as universidades se tornaram espaços mais democráticos e inclusivos, ajudando o país a suprir o déficit de apenas 13% dos jovens de 18 a 24 anos matriculados no ensino superior. Mas, por outro lado, as instituições precisam estar preparadas para oferecer um reforço de conhecimento e suprir eventuais deficiências dos alunos. É necessário pensar que, depois de formado, o estudante precisa ter uma preparação adequada”, adverte o presidente da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação (CNE), Paulo Speller. (...)
Tudo por um novo aluno
Num passado não muito distante, para ser mais exato até a década de 1970, os então temidos vestibulares eram verdadeiros espetáculos e lotavam estádios como o Mineirão, para selecionar candidatos mais preparados para a vida acadêmica. Hoje, pouco restou do tempo em que era necessário concentração e planejamento para enfrentar a maratona de provas. Com um simples telefonema, o candidato agora consegue marcar testes para o dia e o horário de sua preferência. (...)
Fonte: jornal “Estado de Minas”, de 20.03.2011.
Meu comentário: As instituições de ensino particular no Brasil viraram uma indústria milionária e lucrativa para os empresários da educação. São verdadeiras indústrias de fabricar diplomas e engordar a conta bancária de inescrupulosos proprietários dessas instituições de educação fajutas. Milhares de jovens são covardemente jogados no mercado de trabalho e onde são sumariamente rejeitados por absoluta falta de competência profissional. Coitados, pagaram com muito sacrifício familiar mensalidades muito altas e não aprenderam nada. São os famosos analfabetos funcionais. Não se iludam: o ensino público também está uma porcaria. Mas a maior tragédia do ensino no Brasil é constatar que os alunos que frequentam aulas não têm a mínima vontade de estudar. Contra isso não há solução. A escola da vida é implacável: quem não estuda não tem nenhuma possibilidade de sucesso profissional no mercado de trabalho.
Qualquer semelhança com a baixa qualidade de ensino público e privado praticada pelos empresários da educação em Mariana é mera coincidência...

3 comentários:

momentoinstante disse...

A necessidade de distinção entre o que é público e o que é privado nem sempre se faz necessária, porém, quando o assunto é educação se faz necessária uma distinção, que em Mariana não parece estar muito esclarecida, realmente, tomando a parte pelo todo podemos estender isso para todo o Brasil. Mas uma dúvida, em Mariana, a educação pública e a privada acontecem realmente da mesma forma? Tomar a parte pelo todo pode ser arriscado nessas horas. Não acredito, e não vejo a educação pública em Todo o Brasil ser tratada como a privada, por uma fato simples, o que é privado serve a fins particulares e até mesmo egoistas, quanto ao público, que deveria servir à uma maioria, fica legado a sorte dos funcionários da educação, profesores, diretores, alunos, pedagogos, faixineiras, etc.

Em Mariana: a situação aqui não é diferente, porém, apresenta uma caracteristica diferencidora, presente ainda em muitas regiões do Brasil e que são provas de resquicios do Coronelismo que aqui reinou.O fato é que a indicação de parte do quadro de funcionários públicos, e aqui entrão as diretorias da escolas, serem indicados pelo Prefeito da cidade junto a Secretária de Educação. O que serve como arma para os donos do poder em Mariana permanecerem na liderança. Tal é a seriedade do fato que o ex-prefeito Roque Camêllo foi afastado por tentativa de compra de votos, quando ainda em campanha reuniu-se junto a professores e diretores da rede pública e haveria então dado a entender que "se os mesmos não votassem nele perderiam os cargos". Nada de mais para um orador acostumado a ter que persuadir para conseguir o que quer. O que se ve é uma situação delicada, onde a liberdade do sujeito é suprimida pela vontade do outro, que precisa aceitar a força o argumento de que "aquele é o melho candidato", pois ajuda-me a conservar minha integridade, a de ter um emprego e poder sustentar minha familia, o que nem para todos é um sonho. Cito isto apenas para ressaltar que a educação pública não acontece da mesma forma que a escola privada, nem aqui e nem no Brasil.

E assim segue, são estes votos já ganhos, o que se precisa fazer é mudar esta postura, não se pode usar a máquina pública simplesmente para suas finalidades próprias, algo em comum com o âmbito privado, apenas isso, mas que concordo ser fundamental para percebermos que a consciência política se apaga cada vez mais, e que precisamos retirar da nossa ordem diária o discurso de que político preisa ser corrupto, uma corrupto, o que é um tanto quanto falacioso.

algernon disse...

Olá!
sou estudante de jornalismo aqui em Mariana e adorei seu blog!
como faço pra entrar em contato com você? meu e-mail é lviana.s@hotmail.com

Unknown disse...

Olá!
sou estudante de jornalismo aqui em Mariana e adorei seu blog!
como faço pra entrar em contato com você? meu nome é Luana e meu e-mail é lviana.s@hotmail.com