sábado, 19 de novembro de 2016

Seminário Maior São José e os Lazaristas


Monsenhor Flávio Carneiro Rodrigues*

(...) Mas, na crônica da administração de Dom Oscar, ficou lavrado um registro doloroso concernente à história do Seminário Maior. No dia 02.09.66, a Diretoria e professores da casa, depois de um conselho, subiram até o Sr. Arcebispo a quem foram comunicar a inviabilidade de prosseguirem com o seminário aberto, “por falta de piedade, disciplina, obediência, desinteresse por estudos sérios, franca oposição de alguns ao celibato e insubmissão ao Decreto Pontifício “Optatam Totius”. Diante deste quadro de declarada rebeldia, não restou ao Arcebispo outra medida senão a de acatar a sugestão da Direção, mas o Sr. Arcebispo fez questão que ouvissem logo sua primeira avaliação pessoal sobre todos aqueles tristes acontecimentos: “os senhores estão simplesmente colhendo daquilo que semearam”.
 
     A bem da justiça, há que se admitir que um impetuoso furacão, movido por uma tendenciosa e pouco ortodoxa interpretação do ultimo Concilio, agitou e confundiu a Igreja deixando estragos na convivência eclesiástica seminários, congregações religiosas... Com a misericordiosa derrogação na disciplina do celibato clerical, permitida por João XXIII e mantida por Paulo VI, somente na Arquidiocese de Mariana, onze sacerdotes abandonaram o ministério sacerdotal pela secularização, havendo de apenas um a recusa em normalizar sua situação, pelo pedido da dispensa dos votos. Outras dioceses e congregações religiosas lastimaram uma deserção bem maior que a nossa. Não era fácil manter o equilíbrio em meio a um desassossego tão grande! Mas também, numa homenagem à justiça, não se eximem de culpa alguns professores e lazaristas da época, pelos dias conturbados que o seminário maior conheceu. Faltou prudência, faltou cuidado na formação dos alunos e no governo da casa, não faltou um certo envolvimento demagógico e comprometedor! (...)
    
     O antecipado encerramento das atividades letivas no Maior, acontecido em data de 08.09.66, foi maldosamente explorado pela imprensa sensacionalista que, de modo inescrupuloso, veiculou informações caluniosas, denegrindo o conceito da Arquidiocese e o nome de seu Arcebispo. Neste reprovável desserviço, distinguiu-se o jornal de Belo Horizonte “O Diário”, que antes chegou a ser conhecido como “católico”. Alguns seminaristas, aliás alunos, se prestaram ainda, imprudentes e mal intencionados, a dar entrevistas para jornais e revistas sem que tivessem competência e critério para tanto.Estas notícias distorcidas e criticas injustas trouxeram profunda amargura ao coração do Arcebispo, amargura que não foi facilmente esquecida. Cinco anos depois,em agosto de 1971, recebendo a cordial visita de Sua Eminência, o Sr. Cardeal Dino Staffa, Prefeito da Signatura Apostólica, o Sr. Arcebispo se queixava com ele destes amargos dissabores, que tão agudamente o feriram .
 
     Lazaristas
     Estes lamentáveis episódios determinaram ainda a ruptura de um convênio secular celebrado entre a Arquidiocese e a Congregação da Missão, a cujo governo estavam entregues os seminários, há 111 anos. O venerando contrato que, desde o distante ano de 1855, no abençoado bispado de Dom Viçoso, era sempre reformado de dez em dez anos e que expiraria ao final de 1969, foi denunciado num respeitoso acordo com o Visitador lazarista da época, Rvm° Pe. Demerval José Mont’Alvão. Também isto não aconteceu sem um duro sofrimento para o coração do Sr. Arcebispo, ex-aluno sempre agradecido e sinceramente amigo dos congregados vicentinos.
   
     Não lhe faltou, no entanto, uma fervorosa solidariedade vinda até mesmo de expressivos elementos da própria Congregação da Missão. De fato, o apostolado Vicentino procurava outras metas, diferentes daquelas que lhe traçou o Santo Fundador – as missões e os seminários – e onde, no passado, os Lazaristas fizeram magnífico bem. Paulatinamente, arrefeceu o entusiasmo com a formação sacerdotal e os Padres Vicentinos foram entregando sucessivamente os seminários que, no passado, com reconhecida maestria, dirigiram no Brasil: em Fortaleza (Prainha), Salvador da Bahia, São Luis do Maranhão, Curitiba no Paraná, Diamantina no norte de Minas, Aparecida e Assis em São Paulo, Brasília e... Mariana. Também o espírito sacerdotal, em alguns meios, tinha degenerado sensivelmente: não menos de nove dos professores Lazaristas, que trabalharam em Mariana, laicizaram-se posteriormente, nesta época conturbada!
 
     Mas aos 20 de fevereiro do ano seguinte, 1967, sob a direção dos padres diocesanos, o seminário São José reabriu as suas portas, com trinta e seis promissoras vocações, retomando esperançoso sua histórica missão.
 
*Excerto extraído do livro “O Báculo e a Mitra de Dom Oscar de Oliveira, 11° Bispo e 3° Arcebispo de Mariana (1960-1988), de autoria de Monsenhor Flávio Carneiro Rodrigues, Membro Efetivo da Academia Marianense de Letras.

Nenhum comentário: