domingo, 27 de junho de 2010

Correio de Mariana - 280 anos!*

Primeira linha postal do Estado completa 280 anos
Apesar de as correspondências entre pessoas físicas representarem apenas 5% do volume diário dos Correios em Minas, estatal celebra, em 2010, 280 anos da primeira linha postal no Estado.
Paulo Henrique Lobato, Enviado especial.

Mariana – Carina Nunes, de 22 anos, é filha das chamadas gerações Orkut e Twitter, as principais redes de relacionamento da atualidade no Brasil. Mas seu hobby preferido nasceu séculos antes de o computador se tornar um bem indispensável ao dia a dia de muitas famílias. Ela gosta mesmo é de escrever cartas. E faz isso com frequência: a jovem se corresponde com 110 pessoas de várias cidades do país e do exterior. Nos últimos anos, o antigo meio de comunicação que a seduziu perdeu espaço para o avanço da tecnologia. Tanto que as cartas trocadas exclusivamente entre pessoas físicas representam apenas 5% do volume movimentado diariamente pelos Correios em Minas. O percentual, apesar de baixo, corresponde a 175 mil envelopes transportados pela estatal, que, este ano, comemora uma data especial: os 280 anos da primeira linha postal no Estado, criada em 29 de outubro de 1730.
O ramal era formado por três dos principais centros urbanos do Brasil-Império (1822/1889): São Sebastião do Rio de Janeiro, São Paulo e Vila Nossa Senhora do Carmo, primeiro batismo de Mariana, na Região Central, a 115 quilômetros de Belo Horizonte. O lugarejo era tão importante para a economia do país que foi o primeiro em terras alterosas elevado à categoria de vila, em 1711. Dezenove anos depois, surgiria a importante linha postal. “Até então, havia a linha administrativa, ou seja, só ocorriam trocas de correspondências oficiais. Com o novo ramal, surgiu a linha democrática, aberta a todos”, diz o professor e pesquisador Cristiano Casimiro, um dos maiores estudiosos sobre Mariana.
Ele cita um artigo assinado, na década de 1970, pelo falecido – porém imortal – pesquisador Waldemar de Moura Santos, fundador da Academia Marianense de Letras, para ilustrar o marco da linha postal: “Em 29 de outubro de 1730, João Lopes de Lima, de Atibaia (SP), vindo com o seu irmão Francisco Augusto de Lima e o padre Manoel Lopes, (…) de comum acordo com o governador Arthur de Sá Menezes, estabeleceu uma linha de correio ambulante entre Rio, São Paulo e Mariana”. A sede da primeira agência dos Correios em Minas foi um casarão erguido na Praça Cláudio Manoel, em frente à Catedral Basílica Nossa Senhora da Assunção, chamada por muitos fiéis de Igreja da Sé.
O imponente imóvel, de dois andares, perdeu o último pavimento, em 1909, por falta de manutenção. Ainda assim, o prédio ajuda a manter vivo o passado da ex-vila. Enquanto sede dos Correios, foi um dos endereços mais nobres da rica Capitania de Minas Gerais, pois, naquela época, a maioria das cartas era entregue aos destinatários na porta das agências. A distribuição das correspondências era sinônima de festa em qualquer lugarejo do Brasil-Império. É fácil entender o porquê: as mensagens, transportadas em malas de couro, acomodadas sobre o lombo de burros, demoravam cerca de três meses para chegar ao destino.
Nos idos de 1730, quando as correspondências levavam meses para chegar ao seu destinatário, em frente à sede da primeira agência dos Correios em Minas, em Mariana, os mensageiros eram recebidos pelo canto de trombetas e salva de mosquetão, espécie de pequeno fuzil usado pela guarda da época. Em seu artigo, o pesquisador Waldemar de Moura destacou que as correspondências eram pagas "em onças de ouro, em cálculos aproximados de até 5 e 10 gramas (…)". A missão dos mensageiros era arriscada, pois, ainda segundo o historiador, "muitas mortes e roubos aconteceram no assalto às malas postais". Dona Maria Clara Celestino, de 56 anos, conhece de cor e salteado a história. Fã de uma boa prosa, ela é a atual proprietária do casarão, que, hoje, abriga uma ótica.
Aliás, a comerciante aproveita a própria simpatia para informar aos turistas e clientes o passado do imóvel, que, além de óculos e acessórios, também vende cartões-postais da cidade. "Amo Mariana", diz dona Maria. No ano passado, ela conseguiu com os Correios o lançamento de um selo alusivo à importância do casarão. Ela guarda vários exemplares e, sempre que pode, os exibe com orgulho. "As cartas fazem parte da história do país".
*Fonte: jornal "Estado de Minas", de 27.06.2010.

Um comentário:

Romulo Valle Salvino disse...

Boa tarde! Meu nome é Romulo Valle Salvino, sou historiador do Museu Correios e doutorando em História na UnB. Pesquiso os primórdios do serviço postal em Minas Gerais. Estive, inclusive, rapidamente, em Mariana, há cerca de três anos, visitando o prédio em questão, onde fui gentilmente acolhido por Dona Maria Clara. Infelizmente, por motivos alheios à minha vontade, a pesquisa foi interrompida logo em seguida, mas estou retomando-a agora. Há evidências, na verdade, de que a história do correio de Mariana começa um pouco antes, em 1712, mas interessa-me aprofundar a história. Assim, gostaria, se possível de ter acesso ao artigo original de Waldemar de Moura Santos, bem como prosseguir contato com o pesquisador Cristiano Casimiro. O senhor tem como me ajudar nesse intuito? Parabéns pelo blog! Meu email é: romulovs@uol.com.br.