Proprietário de uma das mais prestigiadas bancas advocatícias de São Paulo, meu companheiro de faculdade e assíduo leitor do nosso blog, o Dr. Alexandre Martins de Souza me enviou um luxuoso catálogo de uma grande empresa paulista especializada em fornecer medalhas, comendas, diplomas, brasões, condecorações às instituições culturais, às prefeituras, às assembleias legislativas, ao congresso nacional, às faculdades, universidades e empresas jornalísticas, em agosto deste ano, tudo em termos de gozação, pois já é conhecida a minha ojeriza pela famigerada indústria da vaidade.
Agora ele me envia por email dois artigos do jornalista Eduardo Almeida Reis, membro da Academia Mineira de Letras, publicados em sua coluna semanal “Tiro e Queda” no jornal “Estado de Minas”, nos dias 15 e 29.11.2012.
Divine (15.11.2012)
“Espanta-me a existência de pessoas que ainda não providenciaram a honraria, mediante pagamento anual de R$ 185, de merecer a outorga das insígnias da Divine Académie Française des Arts Lettres et Culture ,fundada em Paris em 25 de outubro de 1995, “sob a égide de Diva Pavesi”. “Academia que ocupa um lugar privilegiado dentro da defesa, encorajamento e promoção da Cultura Brasileira na França e da Cultura Francesa no Brasil,por meio das Artes Letras e Cultura”, como estou copiando de um e-mail que alguém teve o descoco, a desfaçatez, a ousadia de me mandar. Para alcançar a glória divinal, basta que você envie nome e sobrenome, data de nascimento, local, nacionalidade, atividade, números de telefone fixo e celular, e-mail, endereço completo, CEP, cidade, site e blog, além dos R$ 185 depositados numa conta do Banco do Brasil. A excepcional honraria dá direito a uma solenidade no quarto andar de um prédio na cidade de Belo Horizonte, capital das Minas Gerais. Não tive tempo de apurar se com pagamento extra ou se a solenidade está incluída nos R$ 185, mas vi que as homenageadas pela Divine devem comparecer de vestidos longos e os homenageados de terno escuro.
O e-mail que recebi informa o seguinte: “Divine Academie Française vai outorgar suas insígnias às personalidades brasileiras”. E a gente lê, e a gente escuta. Mas sou teimoso e vou à Wikipédia para aprender que Diva Pavesi nasceu em São Paulo, em 1956, é escritora e fotógrafa brasileira, naturalizada francesa, formada em jornalismo e relações públicas pela Fundação Cásper Líbero em 1986, e vive na Europa há mais de 22 anos. A julgar pelas fotos no Google, foi bela morena-jambo
Comenda (29.11.2012)
“Prezado senhor Eduardo Reis. Li sua crônica de 15/11/2012. Parabéns pela sua crônica e coragem de dizer a verdade de maneira jocosa. Gostaria de lhe enriquecer o conhecimento sobre aquela curiosa questão das comendas “concedidas” por mme. Divine. Na verdade, elas são “autoconcedidas” desde que haja uma razoável remuneração brasileira. Conheço uma pessoa de certa proeminência que foi convidada a receber a nobre distinção francesa, desde que contribuísse com R$ 500, para um jantar no Rio de Janeiro, além dos emolumentos para fazer jus à condecoração no Palacete Serpa. Como bom mineiro, agradeceu delicadamente e deixo a entender que não concordaria em pagar para receber homenagens. (Seguem, em anexo, os comprovantes).
Em Paris, um grupo de mineiros esteve recebendo a medalha. Alguns estão maravilhados. Ela está aproveitando principalmente idosos bem aposentados, como ex-procuradores, desembargadores e por aí vai. Há também um livro que é cotizado entre alguns “escritores” e é publicado por essa senhora na Cidade Luz, onde é muito barata a publicação de um livro. Portanto, cada autor paga sua participação sem saber o custo total do livro. Parece algo com cores de picaretagem. Não deixa de ser pelo menos estranho que, em Belo Horizonte, capital de um estado cujo povo é celebrado por sua prudência e perspicácia, haja pessoas deixando-se encantar com tais comendas. Muitas são portadoras de nível superior. Vanitas vanitatum! Nesse imbróglio todo, está se espalhando pelo país, incentivado parece que pela mesma gente, uma tal Academia de Letras do Brasil que se instala sob a forma de franquia .
Será que pretendem rivalizar com a Academia Brasileira de Letras do insuperável Machado de Assis? Cruz credo! Isso é assunto até para uma matéria de como se enganam idosos endinheirados e outros bobos. Obrigado pela atenção. S. Silva”.
Meu comentário: olha meu caro amigo advogado, Dr. Alexandre, qualquer semelhança desses fatos acima divulgados com os costumes sociais, políticos, culturais, artísticos, intelectuais, jornalísticos e empresariais em Mariana é apenas uma mera coincidência...
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