terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Razões da renúncia do papa

Segundo Mario Sabino um dos mais bem informados jornalistas sobre os bastidores políticos do Vaticano, são principalmente três as razões da amargura de Bento XVI, no que concordam os mais argutos vaticanistas da Itália. Em primeiro lugar, ele se sentiu abandonado por cardeais, bispos e padres em sua disposição de dar um basta aos recorrentes casos de pedofilia que conspurcam a Igreja. O corporativismo foi mais forte do que o papa. Isso ficou claro em 2010, na Irlanda. Descobriu-se que milhares de crianças haviam sido abusadas por sacerdotes, entre 1996 e 2009, com o silêncio cúmplice de bispos. Bento XVI escreveu uma Carta Pastoral aos católicos da Irlanda, conclamando-os a reagir e censurando os bispos do país por terem acobertado os pedófilos. Inúmeros processos foram abertos no Vaticano, mas nenhum corre com a celeridade devida. Conferências episcopais de outras nações também se fizeram surdas aos apelos papais, para grande angústia de Bento XVI, que tinha no combate à pedofilia uma cláusula vital de seu pontificado.
O segundo motivo que embaraça o papa tem a ver com dinheiro e se liga ao terceiro. Em 2010, explodiu um escândalo envolvendo o Instituto de Obras Religiosas – o banco do Vaticano. A Justiça italiana abriu uma investigação sobre o IOR e bloqueou 23 milhões de euros de suas contas por suspeita de violação das normas do sistema financeiro contra lavagem de dinheiro. Dois anos mais tarde, o presidente do banco, Ettore Gotti Tedeschi, foi demitido sob alegação de “desentendimentos com a Cúria! – poucas horas depois de o ex-mordomo Paolo Gabriele ser preso.
Entra aqui o terceiro motivo para a renúncia do papa: o derradeiro relatório da investigação sobre o roubo dos documentos pelo ex-mordomo Paolo Gabriele, lido por Bento XVI em dezembro, revelou conexões de gente muito próxima a ele com o esquema de lavagem de dinheiro do Instituto de Obras Religiosas (IOR).
A verdade é que, se o novo papa fizer a limpeza moral que a renúncia de Bento XVI exige, já estará prestando um grande serviço ao catolicismo.
Os papas que renunciaram
Na história da Igreja Católica, o papa Bento XVI é o sétimo a renunciar. Todos os seis nomes situam-se entre o fim da Antiguidade e a Alta Idade Média, períodos de grandes turbulências na instituição ainda em formação. Os renunciantes são os seguintes: Martinho I (649-655), Bento IV (900-903), João XVIII (1003-1009), Silvestre III (1045), Bento IX (1047-1048), Celestino V (1294) e Gregório XII (1406-1415).
Atualmente, a renúncia de um papa está prevista no Código de Direito Canônico em vigor, que foi regulamentada sob João Paulo II, com redação de Bento XVI, e estabelece que o papa pode deixar o Trono de Pedro, desde que por vontade própria, como fez Joseph Ratzinger. Em Roma já se  cogita, inclusive, em fixar uma idade de aposentadoria compulsória para os papas, assim como ocorre com os bispos (75 anos) e cardeais (80 anos).

Nenhum comentário: