sexta-feira, 3 de abril de 2009

Colégio Providência - 160 anos


POIS É...*
Colégio Providência
"O colégio seria exclusivamente feminino, mas um dos principais objetivos era a formação de educadoras que pudessem realizar um efeito multiplicador. E esse efeito ia além das fronteiras de Minas"
Em 3 de abril de 1849, há exatos 160 anos, chegaram a Mariana 12 irmãs vicentinas da Companhia das Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo. Vieram diretamente de Paris para encarar um desafio e tanto: criar a primeira escola feminina de Minas Gerais, por solicitação do então bispo de Mariana, dom Antônio Ferreira Viçoso. Na época, já funcionava na cidade, há mais de um século, o Seminário de Mariana, onde as mulheres não tinham chance. Só com as freiras começou o Colégio Providência, que está em festa de aniversário.
“Dom Viçoso percebia que as mulheres estavam excluídas”, diz a diretora-geral do colégio, irmã Edvanir Leôncio Lopes, que também veio de longe: ela é cearense e já morou na França. A diretora fala da dificuldade enfrentada pelas jovens irmãs francesas, que chegaram a cavalo à cidade de onde nunca mais sairiam. Tiveram que conviver com dissabores como malária e prosaicos bichos-de-pé, sem ter a menor ideia sobre o que era aquilo. Para conseguir renda, no início, fabricavam e vendiam perfumes que faziam com legítimas essências francesas. Também tinham a missão de educar moças brasileiras, mas sequer falavam o português.
As atividades delas se expandiram, não na industrialização ou comercialização, mas na intensa atividade social. Colégio, orfanato, hospital, lactário, pensionato... O que começou em uma pequena casa onde está instalado hoje o Museu Casa da Providência (ainda não aberto ao público), transformou-se em edificações que ocupam um quarteirão inteiro na mais antiga cidade de Minas, incluindo um hotel.
Conta-se em Mariana que, ao chegarem à cidade, as irmãs vicentinas foram recebidas por dom Viçoso de joelhos e em lágrimas. Ele teria dito: “A educação dos jovens está salva”. O colégio seria exclusivamente feminino, mas um dos principais objetivos era a formação de educadoras que pudessem realizar um efeito multiplicador. E esse efeito ia além das fronteiras de Minas, porque famílias abastadas de outros estados mandavam as filhas para o internato, que chegou a abrigar até 200 estudantes.
A professora emérita de língua portuguesa e lingüística da Universidade Federal de Ouro Preto, Hebe Maria Rola Santos, formou-se normalista em 1949, ano do centenário do colégio. E lembra do uniforme: saia de casimira bem abaixo do joelho, blusa de fustão branco, sapatos de verniz preto e meia de três quartos. “Um sol de rachar, a gente de meião e ninguém reclamava”, recorda, bem-humorada.
Ela conta que as internas só saíam à rua acompanhadas por uma das freiras ou em grupos. Mas eram admiradas. “As alunas eram o charme de Mariana na época.” A professora avalia que o colégio formava “para o lar”, ensinando, por exemplo, a fazer sabão e creme dental, além das aulas de trabalhos manuais e economia doméstica.
Isso, no entanto, não impedia que se tornassem, como ela, professoras universitárias, graças à base sólida do ensino. “O colégio formou uma base fantástica de educadoras com capacidade de liderança”, atesta a pedagoga e ex-aluna Marly Moysés, que hoje coordena o programa de pós-graduação da escola que há muito deixou de ser exclusivamente feminina e de ter internato. Hoje são 900 alunos do infantil ao ensino médio, além da pós-graduação. O Colégio Providência faz festa de aniversário pensando nas várias gerações que por lá passaram e nas muitas histórias que tem para contar.
*Fonte: “Estado de Minas”, de 04.04.2009, caderno Gerais.

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