sexta-feira, 3 de abril de 2009

Igreja de São Francisco de Assis

PATRIMÔNIO AMEAÇADO*
Justiça interdita igreja
Maurício Lara
Excesso de umidade e cupins põem em risco estrutura da matriz de São Francisco de Assis, em Mariana, que guarda rico acervo e obras do Mestre Ataíde. Sentença exige reforma em 30 dias. Localizado na Praça Minas Gerais, templo do século 18 é um dos mais visitados da cidade e tem museu com peças raras.
A Igreja de São Francisco de Assis, um dos cartões-postais de Mariana, na Região Central de Minas, foi interditada ontem por determinação judicial. O templo teve suas portas lacradas, com proibição de atividades religiosas e visitação pública, “até que sejam realizadas obras que garantam a estabilidade da estrutura e a segurança dos visitantes”, conforme determinou a juíza Lúcia de Fátima Magalhães Albuquerque Silva. Relatório do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) revela que os danos são consequência do excesso de umidade proveniente de infiltrações e do ataque intenso de cupins.
Segunda igreja mais visitada de Mariana, a matriz guarda rico acervo histórico, que inclui um museu e obras do Mestre Ataíde, sepultado no local. Em seu adro é realizada a cerimônia do descendimento da cruz, uma das mais importantes da semana santa. Localizado na Praça Minas Gerais, o templo integra o conjunto completado pelo Santuário de Nossa Senhora do Carmo, pelo prédio da Câmara Municipal e pelourinho, todos do século 18.
O pedido de interdição partiu do Ministério Público, por solicitação do escritório regional do Iphan. Por ofício, a chefe do Escritório Técnico II, Maria Cristina Seabra de Miranda, informou que a medida foi indicada pelos técnicos do Iphan diante da situação crítica detectada e do risco a que estariam expostos moradores e visitantes.
Ela anexa relatório de vistoria encaminhado à Ordem Terceira de São Francisco de Assis, “para conhecimento e providências urgentes”, em 10 de fevereiro. Segundo Maria Cristina Miranda, como a solicitação não surtiu efeito, o Ministério Público foi acionado.
PERIGO “O perigo é desabar e matar alguém”, diz o promotor de Justiça Antônio Carlos de Oliveira, destacando também o risco a que está exposto o patrimônio histórico. Na ação civil pública, ele cita boletim de ocorrência do Corpo de Bombeiros Militar, datado de 5 de janeiro, que constata danos em pinturas do Mestre Ataíde.
Técnicos do Iphan sugeriram o fechamento para evitar acidentes.
Ele avaliou que as informações do Iphan, respaldadas pelo relatório de vistoria e pelo boletim de ocorrência dos bombeiros, “demonstram o total desprezo do proprietário do imóvel para com a preservação histórica da região e, mais grave ainda, indicam o perigo de desabamento, colocando em risco a incolumidade das pessoas que frequentam esse templo”.
Na sentença, a juíza afirma: “Os documentos juntados fornecem os indícios necessários de risco de colapso de parte da estrutura e destruição permanente de elementos artísticos de grande valor”. Além da interdição, ela determina que a estrutura seja escorada, “com acompanhamento técnico de engenheiros e sob a vistoria do Iphan”. Exige também a colocação de telhas extras, “tapando os buracos hoje existentes”, no prazo de 30 dias, sob pena de multa diária de R$ 1 mil.
LACRADA Roque Camêllo, diretor executivo da Fundação Cultural da Arquidiocese de Mariana (Fundarc), entidade responsável pelos bens culturais da igreja na jurisdição, e atual prefeito da cidade, diz que entende a medida judicial como uma “interdição preventiva”, porque a igreja foi totalmente recuperada há cerca de 10 anos e não há risco de desabamento. “Talvez ela esteja precisando de manutenção, pintura e restauração das obras de arte. Não acredito que haja risco na parte estrutural.”
O padre Paulo Barbosa, titular da Paróquia de Nossa Senhora das Mercês, que abrange a Igreja de São Francisco de Assis, diz que não sabia do laudo do Iphan e que só tomou conhecimento do problema depois da interdição. “Passei de carro e vi a igreja lacrada”, revelou. Segundo ele, a paróquia mantém a limpeza, a higienização e os cuidados para valorização das obras de arte, mas o templo pertence à Ordem Terceira de São Francisco de Assis. Uma das preocupações do pároco é criar uma alternativa para as cerimônias da semana santa, que têm na igreja um importante ponto de apoio.
*Fonte: "Estado de Minas", de 03.04.2009, caderno Gerais. Foto:Beto Novais/EM/D.A.Press

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