sábado, 4 de abril de 2009

Mariana tenta liberar igreja*

Mauricio Lara - Enviado especial

Nova perícia é realizada na estrutura, interditada por decisão judicial depois de pedido do Iphan e intervenção do Ministério Público. Laudo será divulgado na segunda-feira
Perito Adriano Moreira avalia peças do templo histórico, que sofre com a umidade e intenso ataque de cupins. Ordem responsável pelo conjunto considera fechamento um exagero.
Mariana – O vice-ministro da Ordem Terceira de São Francisco de Assis, José Geraldo Gamarano, reconheceu ontem que a Igreja de São Francisco de Assis, um dos cartões-postais da histórica Mariana, na Região Central do Estado, a 115 quilômetros de Belo Horizonte, tem problemas e necessita de intervenções, apesar de considerar “um exagero” a interdição do templo, determinada por ordem judicial. Representantes da ordem, responsável pelo templo do século 18, acompanharam nova perícia realizada ontem, em comum acordo com o Ministério Público, na tentativa de liberar a igreja para as solenidades da Semana Santa, mas a decisão só será tomada após análise de laudo que será apresentado no início da semana.
Duas das celebrações mais importantes, a Procissão do Encontro, na terça-feira, e o descendimento da cruz, na sexta, têm como palco o templo, que guarda rico acervo de obras do mestre Ataíde, que está enterrado em sua nave. O perito Adriano Rodolfo Martins Moreira, engenheiro de segurança do trabalho, constatou que a igreja tem problemas como acúmulo de entulho e material inflamável em vários lugares, além de questões apontadas pelo Iphan, como infestação de cupins e umidade, mesmo que não apresente riscos imediatos de desabamento. “Aqui tem material altamente inflamável. Ajuntam muito lixo e isso aumenta muito o risco de incêndio”, avaliou o perito, que é mestrando em turismo e meio ambiente.
Uma peça usada como “mão francesa” na sustentação do telhado, que estava totalmente corroída pela ação de cupins, foi exibida pelos representantes da ordem para mostrar que iniciativas estão sendo tomadas, após as vistorias do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), do Corpo de Bombeiros e da Defesa Civil Municipal. Mas, segundo a chefe do escritório técnico do Iphan em Mariana, Maria Cristina Seabra de Miranda, nenhuma intervenção em imóvel tombado pode ser realizada sem acompanhamento do instituto, que foi o autor da representação ao Ministério Público solicitando a interdição. “A medida pode parecer drástica, mas é acauteladora, como prevenção, para evitar um dano maior. Se executaram um serviço sem conhecimento do Iphan, também não está correto”, diz a arquiteta.
Degradação: Ao pedir a interdição, o Iphan encaminhou cópia do ofício que enviara à Ordem de São Francisco de Assis apontando os problemas encontrados na vistoria: degradação da cobertura, da estrutura dos forros, dos revestimentos, da alvenaria e das abóbadas no setor do coro e corredores laterais. Tudo, conclui o Iphan, causado por excesso de umidade proveniente das infiltrações pela cobertura e do ataque intenso de insetos. “O altar-mor está comprometido pela ação dos cupins”, afirma a técnica do Iphan. Ela argumenta ter pedido a interdição porque os problemas não são recentes e estão se acumulando.
Na vistoria de ontem, o perito observou que a estrutura do telhado parece em boas condições, mas há telhas que saíram do lugar, como descrito no laudo da Defesa Civil. Ao determinar a interdição da igreja, uma das mais visitadas de Mariana, a juíza Lúcia de Fátima Magalhães Albuquerque Silva justificou: “Não há dúvidas quanto à presença dos requisitos para a concessão dos pedidos liminares de interdição do templo e realização de obras emergenciais”.
De posse dos três laudos existentes (do Iphan, da Defesa Civil Municipal e do Corpo de Bombeiros) e com as observações que fez ontem no local, o perito Adriano Moreira vai apresentar, segunda-feira, novo laudo considerando a possibilidade de suspender a interdição mediante assinatura de um termo de ajustamento de conduta (TAC) e de instalação imediata de equipamentos de proteção aos visitantes, especialmente por causa das festividades da semana santa. “Não vejo problemas, já que as cerimônias são realizadas do lado externo da igreja”, afirma a arquiteta Maria Cristina Seabra.
*Fonte: “Estado de Minas”, de 04.04.2009, caderno Gerais.

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