sexta-feira, 12 de julho de 2013

O neobarroco de Hélio Petrus



Hoje, dia 12 de julho, sexta-feira, às 20h30, no salão nobre da Casa de Cultura - Academia  Marianense de Letras, rua Frei Durão, 84, Centro Histórico de Mariana, será aberta a exposição “O NEOBARROCO DE HÉLIO PETRUS”. Embora tardia a vocação de Hélio Petrus para a arte do entalhe, ele se consagrou como grande ícone na arte sacra. Seu trabalho é reconhecido como neobarroco, além de ser professor e descobridor de talentos.
Homem culto, amável e de muita fé, assim é conhecido o mestre do entalhe de Mariana, Hélio Petrus Viana, 70 anos.  Nasceu em Felipe dos Santos, povoado distante 50 Km de Mariana, para onde foi ainda criança residir, fazer o curso primário e depois o seminário. Ele se inspira em obras dos mestres Aleijadinho, Vieira Servas e Manoel da Costa Ataíde para produzir seus trabalhos, cujo tema preferido é a Arte Sacra.
Petrus já esculpiu obras famosas como a Madona de Cedro, que a Rede Globo de Televisão usou para filmar a minissérie de mesmo nome em 1994. Tem realizado obras para a ornamentação de capelas e igrejas e para acervo de colecionadores particulares como a capela do padre cantor, Fábio de Melo.
Sua mais nova alegria é saber que o Papa Francisco que virá ao Brasil neste mês, receberá como presente, um São Francisco esculpido por ele, Petrus. É mais um coroamento do seu grande êxito. Para o presidente da Casa de Cultura-Academia Marianense de Letras, Roque Camêllo, “Hélio imprime em suas obras o caráter espiritual de sua própria vida plasmada em suas raízes familiares e entre as paredes do tradicional Seminário de Mariana, ícone da sabedoria e da religiosidade. É fruto também deste cenário vivo da cultura que são nossas cidades Históricas. Agora, Hélio vai para o Vaticano com seu São Francisco como já foi para o mundo com suas mãos abençoadas”.
Quando se deu, em 1999, o incêndio do Santuário do Carmo de Mariana, foi contratado para produzir réplicas de imagens consumidas pelo fogo. Seus trabalhos se encontram em vários estados brasileiros e em outros países como Portugal, França, Bélgica, Itália, Suíça, Japão e Estados Unidos.
A vocação artística se despertou somente aos 25 anos, quando cursava Letras. A partir deste momento, passou a estudar e conhecer o barroco com mais profundidade, principalmente a obra de Aleijadinho, Vieira Servas e Atayde, os grandes artistas mineiros do século XVIII.
 A descoberta da obra desses mestres inigualáveis, ali tão perto, fê-lo se encantar com a beleza barroca e se apaixonar pela arte. Sentiu-se motivado e começou a executar os primeiros trabalhos, os querubins, e a produzir certos detalhes que via nas igrejas marianenses. Anos mais tarde, aprofundou seu estudo sobre o barroco europeu, principalmente o italiano. Com isto, passou a utilizar tons mais claros denominados pátina. Petrus afirma que “procura tirar aquela densidade dramática e sofrida dos santos do barroco do século XVIII para torná-los mais alegres e joviais. Como por exemplo, os meus Sãos Franciscos trazem pássaros e não a caveira, algo comum, aliás bem usual, nas mãos do São Francisco das nossas igrejas setecentistas. Nas talhas, também as virgens e as madonas são geralmente jovens alegres. Por isto, meu trabalho é denominado neobarroco”.
Para a doutora em história Roselli Santaella, “o trabalho de Petrus é classificado como neobarroco, que apresenta um estilo genuíno com densa diversidade. Cada anjo tem o rosto próprio cujo entalhe traz uma encarnação sempre diferente”.
Hoje, Petrus tem um rico acervo de obras barrocas e o ateliê, no Centro de Mariana, onde trabalham com ele jovens artistas. Ao longo destes anos, procurou identificar talentos partilhando com estes sua arte, orientando-os no aprimoramento do estilo barroco na talha e na escultura em madeira. Seus seguidores fazem questão de chamá-lo de mestre. Em sua simplicidade afirma: “Foi uma gratificação muito grande esta inspiração que eu tive em associar a meu trabalho talentos jovens”. Sendo a obra na madeira demorada porque exige paciência e precisão no corte do entalhe, Petrus associou jovens habilidosos ao seu trabalho. Assim, conseguiu três coisas: primeiro o aprimoramento, depois uma produção suficiente para fazer exposições e uma terceira dar oportunidade e incentivar os aprendizes. Segundo o artista “não basta ter apenas habilidade, é necessário muita aplicação”.
O curador de arte e atual presidente do Instituto Brasileiro de Museus IBRAM, Ângelo Oswaldo, disse que “Hélio Petrus descende dos esplêndidos autores que tornaram a ornamentação dos retábulos e das naves do século do ouro a viagem delirante a um universo de formas encantadas. Sabe como acumular a riqueza dos detalhes e alcançar as nuanças que o cedro sugere. Madonas, anjos e arcanjos circunvolam em cirandas de nuvens. À frente de uma legião seráfica, Francisco de Assis conversa com os pássaros e se eleva, em êxtase, para o voo sublime”.
O turista que vai a Mariana se extasia diante de igrejas e monumentos do século XVIII, mas sua visita será mais completa se conhecer Hélio Petrus e seu ateliê ali na rua Dom Silvério, que o povo continua chamando rua Nova porque foi a última a ser construída quando Dom João V mandou planejar a cidade, em 1745. No meio desse ambiente de História e vizinho de nomes comuns da antiga Vila do Ribeirão do Carmo como Atayde, Aleijadinho, Servas e outros, é que vive Hélio Petrus, um nome do presente que o futuro incluirá entre aqueles. Já consagrado, não perde a simplicidade, o bom humor e a fidalguia em receber, com um sorriso constante e um coração generoso todos que o procuram.
Marlene Maia, presidente do Movimento Renovador de Mariana afirma: “O artista não tem pátria porque a arte é universal, mas Hélio Petrus não tem como negar sua obra revela a alma e o sentimento de Mariana”.
A acadêmica e especialista em História da Arte e especialmente em arte barroca professora. Regina Almeida afirma que: “A arte de Hélio Petrus transporta o céu para a terra e nos conduz, da terra, ao céu. É arte que enleva e eleva!
O evento integra as comemorações do cinquentenário da Casa de Cultura-Academia Marianense de Letras fundada em 1962 por intelectuais mineiros como Waldemar de Moura Santos, Pedro Aleixo, Alphonsus de Guimaraens Filho, Salomão de Vasconcelos, José Mesquita de Carvalho, Cristóvão Breyner, Wilson Chaves, Dom Oscar de Oliveira, Marly Moysés, Maria Teixeira e outros.
A exposição ficará aberta ao público de 13 a 31 de julho, diariamente, das 9h às 18h.
* Merania Oliveira: Curadora da exposição “Neobarroco de Hélio Petrus”.


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