quinta-feira, 10 de outubro de 2013

300 Anos de fé e história*

Catedral da Sé – Primeira sede de bispado do interior do Brasil, matriz de Mariana celebra o tricentenário com a presença de embaixador do Vaticano

Gustavo Werneck

Mariana, Primeira vila, diocese, cidade e capital de Minas. Batizada com nome de uma rainha – homenagem a Maria Ana d´Áustria, mulher de dom João V, que reinou em Portugal de 1706 a 1750 -, Mariana, na Região Central de Minas, guarda outro pioneirismo na sua história: tem a primeira catedral do interior do Brasil... Com início da construção em 1713, a Basílica de Nossa Senhora da Assunção, mais conhecida como Catedral da Sé, no Centro, vai comemorar o seu tricentenário do inicio de sua construção a partir do dia 20, com missas, apresentações culturais, vigílias, visitas guiadas de estudantes, exposições e outras atividades.
“Ela marca o início da evangelização em nossa arquidiocese, que engloba 79 municípios”, diz o titular da paróquia, padre Nedson Pereira de Assis.
Um ponto alto da celebração oficial dos 300 anos será dia 24, quando o arcebispo de Mariana, dom Geraldo Lyrio Rocha, ao lado de autoridades e fiéis, receberá o núncio apostólico (embaixador do Vaticano) dom Giovanni D`Aniello. Às 18,30, haverá celebração eucarística em ação de graças presidida pelo núncio e concelebrada por arcebispos, bispos e sacerdotes. No dia 27, às 17,30, terá início a procissão com a primitiva imagem de Nossa Senhora da Conceição, saindo da Capela de Santo Antonio em direção à Praça da Sé. Na chegada, haverá coroação de Nossa Senhora.
A catedral basílica é tombada desde 1939 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
Segundo estudiosos, o inicio da construção se deu em 1709, mas a comissão organizadora dos festejos se baseou nas pesquisas do historiador mineiro Diogo de Vasconcelos (1843-1927), para quem o ano correto é 17l3. Olhando o interior do templo, que será restaurado, a partir de 2014 – com verba de R$ 18 milhões do Programa de Aceleramento das Cidades Históricas para serviços na estrutura, cobertura, elementos artísticos, parte elétrica e outros – padre Nedson diz que as parede são de taipa e os pilares de madeira. São 11 altares, sendo o de Nossa Senhora da Conceição executado pelo português José Coelho Noronha (1704-1765), mestre de Antonio Francisco Lisboa, o aleijadinho (1730-1814). Já os dois retábulos do cruzeiro, consagrados a Nossa Senhora do Rosário e São Miguel, sofreram influência dos que foram executados, em 1746, para a Basílica de Nossa Senhora do Pilar, na vizinha Ouro Preto, pelo português Xavier de Brito, falecido em 1751.

Marco

Na sua casa, na rua Direita, o historiador e integrante do Coral Madrigal Mariana Rafael Arcanjo Santos guarda uma série de documentos sobre a igreja que fica a poucos metros. Com orgulho, ele cita momentos importantes dessa história, como o ano de 1906, quando Mariana se tornou arquidiocese, também a primeira do estado; e 16 de julho de 196ª, ao ser elevada a catedral, por determinação do papa João XXIII, à categoria de basílica menor. “Era criança, mas me lembro bem, pois a imagem original de Nossa Senhora Aparecida veio de Aparecida (SP) para a solenidade presidida pelo arcebispo de Mariana dom Oscar de Oliveira. Foi uma festa bonita”, recorda-se.
Rafael ressalta que, da Arquidiocese de Mariana, saíram dois ex-presidentes da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB): dom Luciano Mendes de Almeida (1930-2006) e o atual arcebispo, dom Geraldo Lyrio Rocha. “O presidente da CNBB e bispo de Aparecida, dom Raimundo Damasceno, estudou no seminário de Mariana”, afirma.

Outro marco é o órgão musical da catedral, construído no século 18, em Hamburgo (Alemanha), por Arp Schnitger (1648-1719). Enviado a uma igreja franciscana em Portugal, o instrumento chegou em 1753, como presente da Coroa portuguesa ao primeiro bispo da cidade, dom Frei Manoel da Cruz. Entre os exemplares sobreviventes da manufatura Schnitger, trata-se de um dos mais bem conservados e o único que se encontra fora da Europa. Os concertos ocorrem às sextas (11,30) e domingos (12,15) a cargo das organistas Josinéia Godinho e Elisa Freixo, que se revezam nas apresentações.
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Fonte: jornal “Estado de Minas”, de 10.10.2013.

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