sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Curiosidades políticas em Mariana

Memória política

Parceria entre prefeito e delegado de polícia
Certa ocasião houve um episódio curioso envolvendo um prefeito e um delegado de polícia. O delegado tinha um vistoso plantel de cavalos de raça e precisava de um local para tratá-los. O prefeito, muito amigo do delegado subserviente que fazia obedientemente tudo que ele mandava fazer, cedeu sua propriedade rural para a criação dos referidos cavalos.
Até aí nada de irregular. Entretanto, o delegado resolveu, arbitrariamente, se utilizar indevidamente dos presos da cadeia pública para tratar e dar banhos nos seus estimados cavalos lá na propriedade do prefeito...

Jeitinho brasileiro
Há tempos, o município de Mariana impetrou uma ação judicial contra um ex-prefeito pela prática de sonegação fiscal. Como a justiça brasileira é muito lenta para decidir, quando então o juiz da comarca resolveu dar a sentença, aconteceu um episódio inusitado e curioso. O ex-prefeito sonegador de impostos virou prefeito de novo. Consequência: o prefeito autor e réu da ação proposta, quando ainda ele não era prefeito, se tornaram a mesma pessoa.
Como descascar esse abacaxi jurídico?
O juiz usou um verdadeiro jeitinho brasileiro para resolver a pendenga tomando uma decisão muito engraçada. “Afastou” de mentirinha o prefeito do cargo e convocou a vice para virar prefeita por alguns minutos, o tempo suficiente para decretar a sentença condenando o prefeito-réu a pagar o prefeito autor (município) os impostos sonegados.
Acabada a audiência, o prefeito “voltou” ao cargo e a vice, depois de alguns minutos de fama, “voltou” a ser vice de novo. Se os impostos foram realmente recolhidos aos cofres públicos, só Deus sabe, pois naquela época, como hoje, a Câmara Municipal de Mariana já atuava como a rainha da Inglaterra: reinava sim, mas, como sempre, não fiscalizava nada!

Negócio da China
Certa vez, um prefeito resolveu comprar uma reluzente frota de veículos novos para a prefeitura municipal e que ficaram expostos para o povo ver durante vários dias ali na Praça Minas Gerais em frente à Câmara Municipal, onde, na época, funcionava também a prefeitura.
Quando a valiosa mercadoria automobilística chegou, o prefeito “constatou” que prefeitura não tinha dinheiro para pagar a fatura. Esperto, o prefeito, para não perder a excelente oportunidade de fazer um negócio da China, pediu e conseguiu uma providencial autorização legislativa para comprar os veículos para si mesmo, quase a metade do preço de mercado, pois, como se sabe, órgãos públicos não pagam impostos na aquisição de veículos automotores. Depois, o prefeito revendeu os veículos para seus amigos e correligionários pelo preço de mercado auferindo um lucro fabuloso na transação, um verdadeiro negócio da China!

Telhado de vidro
No final do século passado, usando as minhas fontes de informação, descobri que dois ex-prefeitos de Mariana, um desconfiando do outro, resolveram, durante seus respectivos mandatos, contratar duas auditorias independentes para descobrir eventuais irregularidades na administração pública municipal.
De posse de dois relatórios de auditoria, ambos feitos por empresas diferentes, eu constatei um fato curioso, interessante, bem sintomático, revelador de que dinheiro público em Mariana foi tratado como se fosse particular, uma ação entre amigos.
Pasmem: ambos os relatórios chegaram à conclusão de que os ex-prefeitos praticavam, rigorosamente, as mesmas bandalheiras. Apesar de terem gasto muito dinheiro público para fazer as referidas auditorias, prudentes e espertalhões, os dois prefeitos resolveram arquivar os respectivos relatórios, pois ambos tinham telhado de vidro...

Patriotada legislativa
Em 2001, um ainda até hoje vereador, acolhendo sugestão do então patriótico procurador do município, propôs que, a partir de maio daquele ano, os vereadores passassem a abrir as sessões legislativas cantando os hinos Nacional e também o de Mariana.
Se o genial Stanislaw Ponte Preta ainda estivesse vivo e tomasse conhecimento desse bizarro sentimento cívico-folclórico soprado pelo procurador ao então vereador oposicionista, certamente este fato iria enriquecer a galeria de honra do FEBEAPA, o famoso Festival de Besteira que Assola o País.
Se o FEBEAMA, o Festival de Besteira que Assola Mariana, tivesse pegado, você já pensou o Coral do Congresso Nacional composto de 513 deputados federais e 81 senadores cantando o hino nacional? Já imaginou a Assembleia Legislativa de Minas Gerais com 77 deputados estaduais cantando o Hino da Inconfidência Mineira?
Seria a institucionalização da patriotice, uma falsa pregação de civismo cínico no país!

Lema do Lemos
Crime contra a memória marianense
"O Monumento", órgão oficial do município, em sua edição nº 4, da primeira quinzena de setembro, divulga essa notícia.
- "Foi lavrada no Cartório do 2º Ofício da Comarca de Mariana, escritura do terreno obtido por doação da parte do Exmº sr. Prefeito João Ramos Filho, Projeto nº 060/84 aprovado pela egrégia Câmara Municipal, situado à rua Senador Bawden, medindo 320 m2, conforme Lei autorizativa sob nº 716/84, de 11.06.84. Dita área dá frente para a casa residencial do sr. José Paulo de Souza e se destina à construção da sede própria da Liga Esportiva de Mariana (LEMA). A escritura foi imediatamente registrada no Cartório de Registro de Imóveis da Comarca de Mariana..."

"Fato consumado. Para não chamar atenção dos observadores nem dos fiscais do Patrimônio Histórico, o autor da nota maliciosamente redigiu no jornal que o futuro prédio da LEMA do LEMOS iria ficar de frente para uma residência particular. Mas, na verdade, a lateral do prédio ficaria exatamente em frente à Igreja de Santana, tirando-lhe o belo visual de quem a aprecia de baixo e poluindo o natural e verde sopé da encosta que onde se ergue a formosa capela colonial. É mais uma agressão que o prefeito e seus obedientes vereadores praticam contra o patrimônio histórico da cidade. É incrivel que homens públicos despreparados cometam mais crimes contra a memória de Mariana".
Este texto acima foi publicado no jornal "Folha de Mariana", em 15.10.1984. Devido a essa denúncia o IPHAN embargou a obra.  Para compensar, o mesmo prefeito doou outra área do município onde está localizada a atual sede da Lema, ali em frente à Delegacia de Polícia.

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