segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Estação Ferroviária de Mariana - 100 Anos!


Memória ferroviária
Este ano a Estação ferroviária de Mariana, pioneiramente administrada durante muitos anos pela empresa estatal Estrada de Ferro Central do Brasil, comemora neste ano de 2014 o centenário de sua instalação ocorrida em 1914.
A revitalização da linha férrea entre Mariana e Ouro Preto, - solenemente reinaugurada em 2006 com a presença do presidente Lula e do saudoso arcebispo Dom Luciano Mendes de Almeida,- me suscitou saudosas recordações do tempo em que o transporte ferroviário teve influência sobre os costumes sociais, culturais e econômicos de Mariana, no período de 1950 a 1980.
Segundo conta a história, a inauguração da estação ferroviária em 1914 foi muito tumultuada por estudantes universitários de Ouro Preto que fizeram manifestações inexplicáveis contra a extensão da linha férrea até Mariana. Houve mortes e muita pancadaria e com estudantes deitando sobre a linha férrea para impedir a circulação do trem. Entre os baderneiros estava o então jovem estudante Getúlio Dorneles Vargas, futuro ditador e presidente da República.
A partir da década de 1950, ainda menino, fui testemunha ocular das atividades da Central do Brasil em Mariana. A ferrovia, na época, era o único meio de transportes coletivos. Os ônibus vieram depois. A Central do Brasil, posteriormente sucedida pela Estrada de Ferro Leopoldina, na nossa região, fazia diariamente o seguinte trecho: Belo Horizonte/Ponte Nova/Belo Horizonte, passando por Mariana, Ouro Preto e Itabirito. Outro trecho era Ponte Nova ao Rio de Janeiro, passando por Mariana, Ouro Preto e Miguel Burnier, distrito de Ouro Preto. Quando se fazia essa viagem para o Rio, os passageiros eram obrigados a fazer uma baldeação nesse distrito. Saíam de um trem de ferro bitola estreita para entrar num trem de bitola larga. Bitola, para quem não sabe,é a distancia que separa os trilhos de uma via férrea: a estreita tem 1,435 m e a larga 1,60 m.
A viagem durava mais de 12 horas. Daqui a Belo Horizonte perto de seis horas, pois havia muitas paradas, inclusive para almoço. Como a Maria Fumaça soltava muitas fagulhas e fuligem, para se proteger os passageiros usavam guarda-pó. Havia três espécies de vagões: de primeira classe com assentos acolchoados e o de segunda classe com assento duro de madeira e os vagões de carga. O “trem misto” era aquela composição  puxada por uma máquina a vapor, a Maria Fumaça, seguida de vagões para o transporte de passageiros e cargas.
Para continuar os estudos em Ouro Preto fazendo o curso cientifico no Colégio Alfredo Baêta ou Colégio Arquidiocesano ou o curso superior na Escola de Minas ou na Escola de Farmácia, os estudantes marianenses pegavam o trem de ferro às cinco da manhã, num trem misto. A viagem durava uma hora. Para voltar, os estudantes pegavam o trem das 11 horas e chegavam a Mariana ao meio dia. Como estudante, vivíamos numa tremenda pindaíba. Não tínhamos dinheiro para viajar nos vagões de primeira classe, só de segunda. Mas, trapaceiros, os estudantes esperavam o “chefe de trem” recolher as nossas passagens para que todos, clandestinamente, saíssem dos vagões de segunda para os de primeira. Travessuras de estudantes.
Todas correspondências, - exceção para telegramas que eram transmitidos pelo código de More (telégrafo), como encomendas, pacotes, jornais, revistas, folhinhas de Mariana, - postadas nos Correios eram transportadas pelos trens de ferro da Central do Brasil. Por causa desse único meio de transporte, o pessoal da região dos inconfidentes recebia jornais diários do Rio de Janeiro e São Paulo com dois ou três dias de atraso. Os jornais de Minas chegavam aqui com um dia de atraso. As revistas semanais como a “O Cruzeiro” chegavam com quase uma semana de atraso.
Quando amigos e familiares vindos do Rio de Janeiro chegavam aqui pelo trem da meia-noite, era difícil quase impossível arranjar um taxi, pois só havia, na época, dois taxistas na cidade: Walter Almeida e Joãozinho Vieira. A solução mais econômica e barata era contratar com antecedência os famosos e populares carregadores de malas. Com as ruas completamente desertas, as pessoas iam para estação ferroviária recepcionar seus parentes que vinham de uma longa e cansativa viagem do Rio ou de São Paulo.
Aos domingos, ao meio dia, era costume de muita gente ir à estação ferroviária para ver o trem passar em direção a Ponte Nova passando por vários distritos de Mariana. Aproveitava a ocasião para comprar jornais de Minas editados no sábado, mas lido aqui no domingo.

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