quinta-feira, 9 de julho de 2009

Ginásio fantasma

Memória cultural

Desde o começo da década de 1940, quando eu nasci, até 1953, quando concluí o curso primário, na Escola Estadual Dom Benevides, Mariana não tinha estabelecimento de ensino secundário destinado a jovens de sexo masculino. As Escolas que existiam em Mariana eram o Colégio Providência, na época, destinada apenas a pessoas do sexo feminino, e os Seminários Menor e Maior, ambos destinados à formação de jovens para a carreira eclesiástica.
O único estabelecimento de ensino secundário existente em Mariana era o Ginásio Arquidiocesano que foi transferido para Ouro Preto, em meados da década de 1930, pelo então Arcebispo de Mariana, Dom Helvécio Gomes de Oliveira. A transferência desse ginásio interrompeu o estudo de muitos jovens em Mariana.
Para suprir essa lacuna, em caráter precário, foi criado o Externato Marianense pelo benemérito Cônego Braga, estabelecimento de ensino que funcionava ali na Praça Gomes Freire e não expedia diplomas, pois não tinha reconhecimento oficial do Estado.
Para acabar com esse terrível dilema de jovens que não tinham condições sócio-econômicas para continuar seus estudos fora de Mariana, um grupo de marianenses ilustres residentes em Belo Horizonte criou o Grêmio Marianense, entidade liderada, entre muitos, pelos saudosos marianenses Wilson Chaves, na época deputado estadual, Professor José Mesquita de Carvalho e o Dr. Sylvestre Freire de Andrade, este último ainda vivo.
Essa associação, com o apoio decisivo do benemérito Dom Oscar de Oliveira, criou o Ginásio Dom Frei Manoel da Cruz, em 1954, que teve o patrocínio da Campanha Nacional dos Educandários Gratuitos (CNEG), posteriormente denominada Campanha Nacional dos Educandários da Comunidade (CNEC).
O primeiro diretor do ginásio foi o Cônego Oscar de Oliveira que, por ter sido sagrado e nomeado bispo auxiliar de Pouso Alegre (MG), ficou pouco tempo no cargo, quando teve a sorte de escolher como seu sucessor o Padre José Dias Avelar que ocupou o cargo até o seu falecimento. Depois do falecimento de Padre Avelar, o Dom Frei foi municipalizado e o município, em sua homenagem, deu-lhe o nome de Colégio Municipal Padre Avelar, hoje cedido em comodato à Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).
Quando o Ginásio Dom Frei já estava em pleno funcionamento, diplomando várias turmas e já com o reconhecimento do MEC, eis que surge um fato inusitado, tragicômico na história da educação em Mariana.
Dr. Celso Arinos Motta, advogado, líder da Esquerda marianense, deputado estadual, pediu e conseguiu com o então governador de Minas Gerais a criação de um ginásio estadual, com funcionários e professores nomeados pelo Estado e funcionou ficticiamente por algum tempo na sua casa ali na Rua Direita e, pasmem, tinha o mesmo nome do ginásio verdadeiro: Dom Frei Manoel da Cruz.
Descoberta a farsa do ginásio fantasma, o benemérito deputado Wilson Chaves e o Dr. Sylvestre Freire de Andrade, membros do Governo de Magalhães Pinto, tomaram providências para acabar com golpe do ginásio fantasma: ao invés de “estadualizar” o Dom Frei que já existia, foi então criado um novo estabelecimento de ensino que recebeu o nome de Escola Estadual Dom Silvério e tendo como seu primeiro diretor o Cônego Paulo Dilascio.
Incrível, mas como se vê, foi em decorrência da existência de um ginásio fantasma que surgiu então mais um estabelecimento de ensino secundário em Mariana!

2 comentários:

Marisa Moraes disse...

Ozanan,sou marianense,nasci na antiga rua dos Cortes.Estudei e me formei no Dom Frei,turma de 1963 (ginasial). Fui muitas vezes à casa de seus pais,o saudoso e ilustre Waldemar Moura Santos. Sou filha do Bengo,lembra-se? Saudade de minha terra e de meus conterrâneos.Excelente artigo!

Enock Gualberto Arcanjo disse...

Assim se passaram dez anos...
Pois é! revirando passado, encontramos pessoas como a Marizinha do Bengo, sobrinha do Sr. Lauro.
Onde andará Mariazinha? Da nossa turma muitos já nos deixaram, mas nem todos. Recentemente foi a Nilza Reis, que se casou no dia da formatura: 22 de dezembro de 1963.

Precisamos rever nossos camaradas, mesmo que à distância. Hoje há muita facilidade para isso.

Apesar do triste relato do Dr. Maromba (Celso Mota), um forte abraço para todos.
Enock Gualberto Arcanjo <> eg.arcanjo@uol.com.br <> 13 de fevereiro de 2022.