segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Dilma Rousseff reeleita

Resultado final Votos
Dilma Rousseff: 54.501.118
Aécio Neves : 51.041.155
Diferença: 3.459.063
Eleitorado: 142.822.046
Abstenção 30.137.479 (21,10%)
Não apurado: 688
VotosVálidos: 112.683.879
Brancos: 1.921.819 (1,71%)
Nulos: 5.219.787 (4,63%)

Minas petista, São Paulo antipetista
Minas falta ao encontro marcado e dá ao PT a quarta vitória consecutiva no país*

Minas não compareceu ao encontro marcado. A Minas que muitos imaginavam existir — e que só estaria à espera de um filho da terra para ungi-lo à Presidência da República, quem diria?, era São Paulo. Nas terras paulistas, sim, a vitória do PSDB foi acachapante: 64,31% contra 35,69%, com uma diferença de 6.807.906 votos. Nunca antes na história de São Paulo, nem mesmo quando os candidatos que enfrentavam o PT eram paulistas, algo semelhante se viu. Por que é assim? Ainda voltarei a este assunto, mas adianto: nem tanto é por Dilma, é pelo PT. O que cresce na capital paulista e no Estado é o repúdio ao partido e a seus métodos.
Faço um breve comentário a respeito e retomo o fio: os petistas voltaram a explorar a crise hídrica no Estado, buscando jogar a responsabilidade nas costas dos tucanos. Deu errado de novo. Mas voltemos a Minas.
Vejam que coisa: no Brasil, a petista obteve 51,64% dos votos válidos — em Minas, 52,41%; no país, Aécio ficou com 48,36%; no seu Estado, com 47,59%. Vale dizer: ela ficou acima de sua média, e ele abaixo. A diferença entre os dois, ali, foi de 550 mil votos; no Brasil como um todo, de 3.459.963. Se a diferença mineira de lado, ainda assim, ele perderia. Ocorre que a conta a se fazer é outra.
Em Minas, os votos válidos foram de quase 11,5 milhões. Se o Estado tivesse dado a Aécio a proporção que lhe deu São Paulo, a fatura estaria liquidada. É claro que, matematicamente, não faz sentido atribuir a derrota a um único estado. Ocorre que estamos diante de uma questão política. A expectativa era que Minas votasse esmagadoramente com Aécio.
É inescapável concluir que erros vários foram cometidos pelo PSDB no Estado — e a escolha do candidato do partido ao governo, Pimenta da Veiga, não foi o menor deles. Estava afastado havia tempos da linha de frente da política. Do outro lado, havia o petista Fernando Pimentel, uma brasa encoberta, político que pode ser notavelmente agressivo nos métodos.
A campanha petista de desconstrução da imagem de Aécio parece que acabou tendo mais eficácia em sua terra natal, coisa com qual, convenham, ninguém contava. E esse pode ter sido o grande acerto estratégico do PT. Se a gente observar no detalhe, por mais que os petistas tenham tentando fazer barulho em São Paulo, o objetivo, por aqui, era não sofrer uma derrota humilhante — mesmo assim, humilhante ela foi.
Os “companheiros” perceberam a tempo que a fronteira da vitória ou da derrota seria mesmo Minas. Não se trata, obviamente, de ficar caçando responsáveis. O fato é que, se o PSDB quiser se estruturar para as batalhas vindouras, parece que algo há de se fazer por ali. O Estado votou majoritariamente com o PT em 2002, 2006, 2010 e 2014. E contará agora com um governador do PT.
São Paulo foi o Estado que, individualmente, deu mais votos a Aécio e, percentualmente, ficou em segundo lugar, com 64,3%. Só perdeu para Santa Catarina, com 64,59%. Com seus magros 47,59%, Minas faltou ao encontro marcado e deu ao PT a quarta vitória consecutiva não apenas no Estado, mas também no país.
*Blog do Reinaldo Azevedo

Meu comentário: Minas jamais foi um grande estado, mas sim, um estado grande: só tem tamanho. É o estado que mais possui municípios no país: 853, a maioria constituída de municípios paupérrimos, que não têm renda própria, são sustentados pelo Fundo de Participação dos Municípios, alguns tão pequenos que são menores que alguns distritos e bairros de Mariana. Geograficamente, o estado de Minas Gerais está situado no sudeste, mas economicamente no nordeste. Tanto assim é verdade que, durante muitos anos, o norte e o Vale do Jequitinhonha, regiões paupérrimas, eram amparadas pela antiga SUDENE (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste e, atualmente, pelo Bolsa Família, o invencível cabo eleitoral dos petistas, programa assistencial que sustenta e aumenta os bolsões de miséria no país. São Paulo, ao contrário, é um estado rico, com a metade de municípios de Minas, com um eleitorado independente do Bolsa família. Por causa disso, São Paulo é um estado majoritariamente antipetista, enquanto Minas, com sua crônica pobreza, continuará sempre refém do bolsa família e do petismo. Foi assim em 2002, 2006, 2010 e agora em 2014.

4 comentários:

rodrigosouza disse...

Estimado Sr. Ozanan,

A título de informação, São Paulo é o segundo estado da Federação dom o maior número de beneficiários do bolsa família.
( http://correio.rac.com.br/_conteudo/2014/10/capa/campinas_e_rmc/218653-rmc-tem-10-da-populacao-inscrita-no-bolsa-familia.html )

Gostaria que o Sr. fizesse uma reflexão honesta a respeito de alguns pontos que acredito serem relevantes para avaliar os motivos da derrota do candidato Aécio Neves nas urnas nessas eleições:

a) o Sr. acredita que Minas tenha "faltado ao encontro" com Aécio Neves porque as pessoas que vivem e votam nesse Estado dependem, na sua maioria, de bolsa família?

b) o Sr. realmente acredita que o "choque de gestão" promovido pelo Sr. Aécio Neves tenha dado bons resultados para a economia do nosso estado?
( http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/10/1531207-choque-de-gestao-de-aecio-em-minas-tem-efeito-declinante.shtml )

c) O Sr. realmente acredita que Aécio Neves não tenha tido participação nenhuma em casos como o chamado "mensalão mineiro", lista de furnas, desvios de bilhões de reais da saúde, dentre outras tantas denúncias de corrupção? Acha correto que durante sua gestão como governador da MG tenha sido construído um aeroporto em terras de sua família e que as chaves desse aeroporto permaneça até hoje nas mãos de um tio do Sr. Aécio?(fora o caso do aeroporto de Montezuma)

d) o Sr. acha normal que a irmã do "impoluto" senador, a Sra. Andrea Neves, tenha chefiado o órgão estatal responsável por destinar recursos de publicidade do governo de Minas, aplicando milhões de reais nas rádios da sua própria família, sem que estes valores tenham sido, até o presente momento, divulgados?

e) O Sr. acha normal que os dados os relatórios técnicos do Tribunal de Contas de MG sobre as contas do Estado tenham sido retirados da internet após denúncia da presidente Dilma, de que o governo de Minas, durante a gestão de Aécio, não teria cumprido o mínimo exigido pela Constituição (12% da receita estadual) na aplicação de gastos na saúde? Saiba, Sr. Ozanan, que o Ministério Público protocolou em 17/10/14 ação contra Minas Gerais por fraude orçamentária na saúde durante a gestão Aécio Neves e que os promotores pedem ressarcimento de cerca de 5 bilhões de reais aos cofres públicos do Estado.

(continuo - 1)

rodrigosouza disse...

Diante disso, o Sr aceita de bom grado o fato de uma cidade como Mariana (riquíssima), não dispor de uma unidade sequer de UTI? Acha razoável que muitos municípios do Estado tenham que mandar pacientes para Belo Horizonte porque os hospitais espalhados pelo Estado estejam abandonados pelo poder público estadual?

f) O Sr. acha ético que o editor da revista Veja, o Sr. Otávio Cabral, tenha sido o coordenador da campanha de Aécio Neves à presidência?

g)O Sr. realmente acredita que a segurança pública de Minas Gerais seja exemplar? O Sr. conhece a situação dos policiais civis desse Estado? Veja o que eles têm a dizer sobre a situação de abandono à qual estão sujeitos: http://www.youtube.com/watch?v=d1ehVIywYTc

h) com relação à educação estadual: somos um exemplo para o país? http://www.revistaforum.com.br/blog/2014/08/sindicato-dos-professores-de-minas-denuncia-tragedia-da-educacao-estado/

i) O Sr. vê com bons olhos o fato de um primo do senador Aécio Neves, o Sr. Tancredo Tolentino, esteja envolvido em um esquema de venda de habeas corpus para traficantes de drogas? Pergunto: e se fosse um primo da presidente Dilma, como isso repercutiria na imprensa? Capa da Veja? Um Jornal Nacional exclusivo para o caso? Talvez, um especial do Fantástico? Prato cheio, não?
(isso sem contar o escândalo do helicóptero dos Perrela que, por sinal, fez um pouso em cláudio-mg, antes de ser apreendido no Espírito Santo com 450 kg de pasta base de cocaína!!!)

j)O Sr., como homem de letras, dono de um blog que aborda temas ligados à política, acha democrático e republicano que Aécio Neves tenha tentado (e por vezes conseguido) censurar pessoas que divulgavam coisas como essas que estou lhe relatando?

l) O Sr. sabia que na gestão de Aécio Neves como governador de Minas, seu pai, o Sr. Aécio Cunha, ex-deputado da Arena, foi nomeado para o conselho da Cemig? Acha ética essa atitude?(fora os inúmeros casos de nepotismo amplamente noticiados pela imprensa brasileira)

m) O Sr. não vê conflito entre o discurso e a prática do Sr. Aécio Neves ao pregar a meritocracia e o fato de que ele e sua família terem construído seu patrimônio às custas da política?

(continuo -2)

rodrigosouza disse...

(a título de curiosidade: Aécio aproveitou da influência do clã familiar para obter a carteira de polícia de número 8.248, emitida em 19 de abril de 1983 pela Secretaria de Segurança Pública de Minas Gerais (SSP-MG), que assegurava ao seu portador poderes de polícia. A carteira foi obtida por Aécio quando ele tinha 23 anos, na mesma época em que seu avô, Tancredo Neves, governava o Estado de Minas Gerais. Outro dado interessante: em 1985, Aécio Neves foi nomeado por José Sarney diretor da Caixa Econômica Federal, aos 25 anos).

Por esses e por muitos outros motivos, creio que a derrota do Sr. Aécio Neves à presidência da república não tenha sido motivada única e exclusivamente porque o povo brasileiro seja burro, desinformado, "bovino" (como disse de forma asquerosamente preconceituosa o Sr. Diogo Mainardi no programa Manhattan Conection deste domingo precedente), incapaz de perceber o que é melhor para si. Tampouco que a reeleição da presidente Dilma tenha se dado porque as pessoas dependem do Bolsa Família e temem perder esse benefício social.

Saiba Sr. Ozanan, que esse importante programa social demanda apenas 0,5% do PIB nacional e proporciona um injeção de milhões de reais na economia nacional, gerando emprego e renda no comércio e, por conseguinte, na indústria. Ademais, existem dados que provam que milhões de famílias, em todo o Brasil, deixaram o programa porque conseguiram emprego digno. Não tenha dúvida de que as pessoas preferem ganhar um salário digno do que receber um auxílio de algumas dezenas de reais.

Sr. Ozanan, creditar a derrota de Aécio Neves nas urnas ao Bolsa Família é uma visão míope, deturpada e desonesta. Pense melhor, analise os porquês dessa derrota sem premeditá-la dentro dessa lógica maniqueísta e preconceituosa de quem vota em Dilma dependa do Bolsa Família ou seja desinformado.
Se a oposição ao PT continuar a apostar em figuras como Aécio, Serra, Alckmin (ou se aproximar de figuras retrógradas e esdrúxulas como: Pastor Malafaia, Jair Bolsonaro, Marco Feliciano, Levi Fidélix, Pastor Everaldo, Cel. Telhada, Lobão, Reinaldo Azevedo, Diogo Mainardi, Danilo Gentilli, Rodrigo Constantino, Rachel Sherazade e congêneres), detentores de biografias manchadas por casos escabrosos de corrupção, cujas práticas e discursos políticos se mostram totalmente contraditórios com os princípios éticos e da boa gestão da coisa pública, creio que novas e seguidas derrotas serão inevitáveis.
A base para uma democracia sadia reside numa oposição consciente de seu papel, que consiga demonstrar para o povo que o seu projeto de nação seja melhor que o da situação e que é capaz de fazê-lo. Não acredito que essas premissas façam parte dos princípios que norteiam as concepções e práticas políticas do PSDB e de seus aliados, o que, na minha opinião, acaba por refletir no distanciamento desse grupo com as bases populares que vêm elegendo o PT à presidência da república (e aliados) desde 2002.

(continuo - 3)

rodrigosouza disse...

Não vou desfiar aqui minhas impressões em relação àquilo que considero avanços e problemas em relação ao governo do PT, mas sugiro que o Sr. faça reflexões a respeito de tudo isso que lhe ora lhe apresento, sem deixar de levar em consideração que a derrota do candidato Aécio Neves nessas eleições pode estar umbilicalmente ligada às questões que elenquei acima, bem como - e porque não - pela percepção de uma grande parcela da população brasileira de que o modelo de país defendido por ele e pelos seus aliados não é o melhor para o país nesse momento.

Atenciosamente,
Rodrigo Souza.