terça-feira, 28 de outubro de 2008

Estratégia política

Alguns tradicionais e históricos eleitores ramistas, também amigos meus, se queixam de que a Terezinha Ramos foi muito infeliz na escolha do seu candidato a vice-prefeito. Consideram que o candidato era antipático e não tinha nenhum prestigio eleitoral.
Concordo, em parte, com o raciocínio deles.
No entanto, no meu entendimento, acredito que a escolha do vice não partiu dela, mas sim, do próprio João Ramos Filho. Ela apenas respeitou a sua memória cumprindo assim os seus últimos desejos. Ao contrário do que pensa os ramistas, a parceria entre João Ramos e o empresário tinha uma lógica vantajosa para ambos os lados: um entraria com sua popularidade e o outro bancaria as despesas de campanha eleitoral. Depois de eleitos, ambos teriam reciprocamente também óbvios e amplos interesses político-eleitorais, empresariais, econômicos e comerciais lucrativos a preservar.
Segundo fontes bem fidedignas, rejeitar coligação com as demais forças políticas que disputaram as eleições municipais deste ano, como de fato aconteceu, já fazia parte do plano estratégico de João Ramos que acreditava muito na união dos ramistas em torno de seu nome, contando com a eventual dispersão de votos dos demais candidatos adversários.
Foi usando essa estratégia que João Ramos foi eleito nas eleições de 1992, quando disputou o cargo de prefeito com quatro candidatos: Nonô Miranda, Nonô Pimenta, Derly Pedro e Luiz Breyner. Naquela ocasião, teve mais votos que a soma dos quatro e ainda colocou 2.500 votos de frente.
Ele raciocinava que poderia vencer as eleições novamente repetindo a mesma estratégia de 1992. Em parte ele tinha razão, senão vejamos. A viúva candidata perdeu as eleições por apenas 2.633 votos. Os outros dois principais candidatos adversários dela foram muito prejudicados, pois tomaram muitos votos, reciprocamente, um do outro. Se, depois de morto, ele conseguiu transferir 11.305 votos, imagina se estivesse vivo.
Se fossem, apenas, dois candidatos, João Ramos não teria a menor chance de ganhar as eleições, como não ganhou ao disputar com Celso Cota. Pois, a partir do ano 2000, quando da eleição de Celso Cota e o rompimento dele com João Ramos, o antagonismo político em Mariana não era mais entre Direita e Esquerda, mas sim, entre ramistas e antiramistas. Tanto isso é verdade que, na reeleição de Celso Cota em 2004, a Direita coligou-se com ele e indicou Roque Camêllo como seu vice.
No colégio eleitoral de Mariana, o ramismo nunca foi maioria, mas possui um grupo bem unido de um terço do eleitorado, enquanto os antiramistas são dois terços, mas muito dispersos e desunidos. A tradicional união do ramismo é fruto do já folclórico fanatismo político de seus eleitores. Os antiramistas, mais escolarizados e politizados, se dispersam quando existem três ou mais partidos disputando eleições. Enquanto o ramismo só se concentra na Esquerda tradicional, hoje herdada pela Terezinha Ramos, o antiramismo pode está na Esquerda dissidente 1, liderada por Celso Cota, na Esquerda dissidente 2, liderada por Duarte Jr, na Direita tradicional, liderada por Roque Camêllo e onde se concentra o maior número de antiramistas e, finalmente, na Direita dissidente comandada pelo Cássio Brigolini Neme.
Afinal de contas, foram 1.704 votos nulos, 643 votos brancos e 21.485 eleitores que, dispersos, não votaram no ramismo, numa dispersão total de 23.832 de eleitores não ramistas, que lhe poderia dar, quem sabe, uma eventual vitória nas eleições municipais deste ano, caso estivesse vivo. Uma minoria ramista unida poderia perfeitamente ganhar a eleição de uma maioria não ramista desunida.
Como sabia que não poderia vencer seus adversários unidos, João Ramos Filho, como velha e experimentada raposa política, sempre contou com a crônica desunião de seus adversários políticos para ganhar eleições.
A estratégia quase deu certo!

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