Tem-se falado muito em José Alencar Gomes da Silva. As vozes são uníssonas testemunhando ter sido ele o empresário avalista da candidatura do torneiro mecânico que chegou à presidência da República. Ouvi esta afirmativa do próprio presidente Lula, em São Paulo, no teatro da FIESP, nas homenagens que, em 2010, foram prestadas ao Alencar. Continuam vivas sua luta contra os juros altos, sua fidelidade à pessoa do presidente sem jamais ultrapassar seus limites, sua tenacidade contra a morte demonstrando um desejo inabalável de viver. Não obstante, sua entrega total às mãos de Deus era o retrato do homem de fé.
Conheci-o, através do jornalista Maurício Pessoa, assessor de imprensa da FIEMG da qual Alencar era o vice do presidente Nansen Araújo. Pensávamos em fazer algo que homenageasse Mariana, a primeira capital de Minas, na data de sua fundação, 16 de julho. Seria a oportunidade de as classes produtoras do Estado reverenciarem aquela de cujo solo o Brasil do séc.18 retirara tanta riqueza para alimentar Portugal e ainda a Inglaterra.
Por inspiração de José Alencar, criou-se a Comenda Civismo e Consciência de Minas em ato conjunto da FIEMG e Academia Marianense de Letras. E não foi só. Assumindo Alencar a presidência da FIEMG, trouxe-lhe outra questão. Um prefeito da época, nada afeito à vocação cultural de Mariana, havia transformado o cine-teatro em depósito de material de construção, dando suas cadeiras simples, porém artisticamente decoradas, para os operários queimarem esquentando suas marmitas. Este ato aparentemente humanitário e a transformação do espaço em depósito foram de uma insensatez impensável. Era uma agressão ao Patrimônio Cultural. Relatei-lhe o fato e acrescentei outras necessidades do equipamento que não dispunha de plano inclinado, um palco mais profissional, camarins, etc.
Imediatamente assumiu o compromisso pela FIEMG de reconstruir o cine-teatro, tornando-o modelar, hoje administrado pelo SESIMINAS. Outra obra da qual me emociona falar, é a restauração da Matriz de Nossa Senhora da Conceição do Distrito de Camargos. Procurei-o, pedindo socorro ao empresariado mineiro no sentido de investimentos em restauração de diversas igrejas barrocas da cidade e dos distritos de Mariana, todas em lamentável estado de conservação. José Alencar convocou uma reunião com as lideranças empresariais com a presença do então Arcebispo Dom Luciano Mendes.
Dias após, visitou Mariana com sua esposa D. Mariza. Fomos a Camargos. Estrada de terra a 15 km da cidade, é um distrito que já teve sua importância por ter sido um forte entreposto comercial. No início do séc.18, ergueram-lhe a majestosa igreja, tendo, a alguns metros abaixo, um belíssimo cruzeiro em pedra. Tudo, porém, se transformara em ruínas. D. Mariza e José Alencar se apiedaram do quadro desolador e decidiram restaurar, às suas expensas, o patrimônio. É edificante não terem procurado uma obra a ser vista e aplaudida porque fora da vitrine turística, a cidade. Prevaleceram o sentimento pátrio e a profunda religiosidade de ambos. A morte de José Alencar não sepultará a memória do benfeitor de Mariana. A Cultura de Minas agradece.
*Presidente da Academia Marianense de Letras, Diretor Executivo da Fundação Cultural da Arquidiocese de Mariana e Membro do Instituto Histórico Geográfico de Minas Gerais. Artigo publicado no jornal “O Tempo”, de Belo Horizonte, em 07.04.2011.
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