Waldemar Faustino - exemplo de ética e amor a sua cidade – Mariana
Roque Camêllo, Presidente da Academia Marianense de Letras
Um homem elegante, afável, 96 anos, portando chapéu de feltro bem combinado com a cor do terno, era sempre visto em Mariana nos bons concertos realizados na Catedral ou no Santuário do Carmo. Aos domingos, quando não estava visitando as filhas em São Paulo, assentava-se na Praça Gomes Freire para ouvir a banda de música. Até reuniões da Academia Marianense de Letras, nunca deixava de comparecer. Acompanhava atento às palestras, declamações de poesias, discursos. Como gosto de estar aqui para aprender sempre mais, afirmava Waldemar Faustino dos Santos. Se você pensa que estaria diante de um intelectual ostentando formação acadêmica, está enganado. De fato, não passou pelos bancos universitários, hoje de alcance tão facilitado. Era, isto sim, alguém de bom gosto, com vocação cultural. Amava intensamente sua cidade. Falava, com conhecimento de causa, de escritores, historiadores e poetas marianenses como Cláudio Manoel da Costa, Alphonsus de Guimaraens, Moura Santos, Raimundo Trindade, Pedro Aleixo, Fernando Morais e tantos outros. Conhecia e admirava as obras dos artistas do passado e do presente como Athayde e Vieira Servas. Ganhou a vida como construtor de casas. Aos 48 anos, elegeu-se vereador na primaz de Minas. Entre seus pares na Câmara Municipal, havia comerciante, fazendeiro, farmacêutico, médico e dois estudantes universitários, dos quais um fora emancipado pelo pai após as eleições. Os edis universitários faziam parte da Terceira Força Política, orientada por outro já vereador em Belo Horizonte, Henrique Novais. Foi um movimento da juventude marianense para acabar com a rivalidade dos componentes da UDN (chamados de Direita) e do PSD (esquerda). Na cidade, aconteciam perseguições políticas, jogo de interesse de ambos os lados e o município não se desenvolvia. Os vereadores não eram remunerados e as reuniões aconteciam aos sábados, pela manhã e à tarde. Naqueles anos 60, os jovens, também alcunhados de comunistas, passaram a ser temidos. Tinham idéias avançadas e desejavam o desenvolvimento da cidade que não dispunha ainda da energia da CEMIG. Era iluminada por uma usina particular, implantada para a fábrica de tecido São José. À noite, após as 22h, quando conseguia funcionar, era desligado aquele fiapo de luz. Emancipado, empossei-me vereador. Meu currículo, aliás bem modesto, se compunha dos títulos de ex-engraxate na porta da Catedral e estudante de Direito em Belo Horizonte. Com total apoio do prefeito João Sampaio e do deputado prof. Wilson Chaves, propus a implantação da CEMIG. Abraçou a causa com toda ênfase o estudante, hoje falecido, Raymundo Tonidândel. Ambos éramos do PDC Partido Democrata Cristão. Foi um alvoroço porque a juventude e os mais adultos e conscientes apoiaram a iniciativa. O comerciante, antigo apoiador do Waldemar, embora naquele momento do lado do prefeito, era contra tal medida, pois seu núcleo familiar tinha o controle acionário da Companhia Força e Luz Marianense. Durante a sessão da Câmara, o voto de Waldemar Faustino foi decisivo. Sabia ele que, sendo favorável ao projeto da CEMIG, nunca mais seria eleito vereador, pois seria hostilizado pelos proprietários da Companhia. Além disto, era o líder do clube folclórico Maracatu, locatário de um galpão da família do comerciante, dependendo, pois, da boa vontade deste. Waldemar pensou bem. Tinha que optar entre ficar com os meninos, modo carinhoso com que se referia aos jovens companheiros, ou desistir da carreira política. Preferiu dar o seu tão disputado voto a favor do progresso de Mariana. Nunca mais se candidatou. O Maracatu perdeu o local para ensaiar e realizar suas festas. Ficou, porém, a alegria de ter a sua missão cumprida a favor do bem coletivo. Assim, pôde desfilar tranquilo e feliz pelas ruas tricentenárias da primeira capital de Minas. Continuará amado e respeitado por todos em que pese a saudade. Sua elegância será sempre lembrada, não pelo seu modo solene de vestir, mas, sobretudo, sua elegância moral, seu procedimento ético como político, um pai de família exemplar, um cristão convicto e fervoroso. Há poucos dias, antecipou-lhe o caminho da eternidade seu filho, o padre João Bosco que dedicou a vida aos povos da África onde realizou uma obra maravilhosa pelas crianças e jovens. São os desígnios de Deus. Cada um vai cumprindo sua missão e construindo sua morada junto do Pai. Hoje, 05 de junho, este Waldemar se encantou para sempre...
Meu comentário: ao lado de Roque Camêllo e Raimundo Tonidândel, ambos eleitos na época, vereadores pelo PDC, e do saudoso vereador Waldemar Faustino, participaram conosco da Terceira Força Política e lutaram também pela vitoriosa campanha em favor da instalação da Cemig em Mariana, na década de 1960, - não só os então jovens companheiros como eu, Antonio Martins Machado, José Geraldo Rocha, José Oswaldo Guimarães, Dirceu Brás Xavier Silame, Emanuel Mol Muzzi, Mauro Moysés Marque da Silva, Geraldo Basílio Pimenta, Danilo Carlos Gomes, José Feliciano Mendes, José Maurílio Coelho e muitos outros jovens idealistas, - como também, no exercício do cargo de presidente da União Estudantil Marianense (UEM), mobilizei os estudantes secundários para participar de passeatas em favor da entrada da Cemig e a retirada imediata da antiga Companhia Força e Luz Marianense pelo péssimo serviço de energia elétrica prestado à população de Mariana.
Roque Camêllo, Presidente da Academia Marianense de Letras
Um homem elegante, afável, 96 anos, portando chapéu de feltro bem combinado com a cor do terno, era sempre visto em Mariana nos bons concertos realizados na Catedral ou no Santuário do Carmo. Aos domingos, quando não estava visitando as filhas em São Paulo, assentava-se na Praça Gomes Freire para ouvir a banda de música. Até reuniões da Academia Marianense de Letras, nunca deixava de comparecer. Acompanhava atento às palestras, declamações de poesias, discursos. Como gosto de estar aqui para aprender sempre mais, afirmava Waldemar Faustino dos Santos. Se você pensa que estaria diante de um intelectual ostentando formação acadêmica, está enganado. De fato, não passou pelos bancos universitários, hoje de alcance tão facilitado. Era, isto sim, alguém de bom gosto, com vocação cultural. Amava intensamente sua cidade. Falava, com conhecimento de causa, de escritores, historiadores e poetas marianenses como Cláudio Manoel da Costa, Alphonsus de Guimaraens, Moura Santos, Raimundo Trindade, Pedro Aleixo, Fernando Morais e tantos outros. Conhecia e admirava as obras dos artistas do passado e do presente como Athayde e Vieira Servas. Ganhou a vida como construtor de casas. Aos 48 anos, elegeu-se vereador na primaz de Minas. Entre seus pares na Câmara Municipal, havia comerciante, fazendeiro, farmacêutico, médico e dois estudantes universitários, dos quais um fora emancipado pelo pai após as eleições. Os edis universitários faziam parte da Terceira Força Política, orientada por outro já vereador em Belo Horizonte, Henrique Novais. Foi um movimento da juventude marianense para acabar com a rivalidade dos componentes da UDN (chamados de Direita) e do PSD (esquerda). Na cidade, aconteciam perseguições políticas, jogo de interesse de ambos os lados e o município não se desenvolvia. Os vereadores não eram remunerados e as reuniões aconteciam aos sábados, pela manhã e à tarde. Naqueles anos 60, os jovens, também alcunhados de comunistas, passaram a ser temidos. Tinham idéias avançadas e desejavam o desenvolvimento da cidade que não dispunha ainda da energia da CEMIG. Era iluminada por uma usina particular, implantada para a fábrica de tecido São José. À noite, após as 22h, quando conseguia funcionar, era desligado aquele fiapo de luz. Emancipado, empossei-me vereador. Meu currículo, aliás bem modesto, se compunha dos títulos de ex-engraxate na porta da Catedral e estudante de Direito em Belo Horizonte. Com total apoio do prefeito João Sampaio e do deputado prof. Wilson Chaves, propus a implantação da CEMIG. Abraçou a causa com toda ênfase o estudante, hoje falecido, Raymundo Tonidândel. Ambos éramos do PDC Partido Democrata Cristão. Foi um alvoroço porque a juventude e os mais adultos e conscientes apoiaram a iniciativa. O comerciante, antigo apoiador do Waldemar, embora naquele momento do lado do prefeito, era contra tal medida, pois seu núcleo familiar tinha o controle acionário da Companhia Força e Luz Marianense. Durante a sessão da Câmara, o voto de Waldemar Faustino foi decisivo. Sabia ele que, sendo favorável ao projeto da CEMIG, nunca mais seria eleito vereador, pois seria hostilizado pelos proprietários da Companhia. Além disto, era o líder do clube folclórico Maracatu, locatário de um galpão da família do comerciante, dependendo, pois, da boa vontade deste. Waldemar pensou bem. Tinha que optar entre ficar com os meninos, modo carinhoso com que se referia aos jovens companheiros, ou desistir da carreira política. Preferiu dar o seu tão disputado voto a favor do progresso de Mariana. Nunca mais se candidatou. O Maracatu perdeu o local para ensaiar e realizar suas festas. Ficou, porém, a alegria de ter a sua missão cumprida a favor do bem coletivo. Assim, pôde desfilar tranquilo e feliz pelas ruas tricentenárias da primeira capital de Minas. Continuará amado e respeitado por todos em que pese a saudade. Sua elegância será sempre lembrada, não pelo seu modo solene de vestir, mas, sobretudo, sua elegância moral, seu procedimento ético como político, um pai de família exemplar, um cristão convicto e fervoroso. Há poucos dias, antecipou-lhe o caminho da eternidade seu filho, o padre João Bosco que dedicou a vida aos povos da África onde realizou uma obra maravilhosa pelas crianças e jovens. São os desígnios de Deus. Cada um vai cumprindo sua missão e construindo sua morada junto do Pai. Hoje, 05 de junho, este Waldemar se encantou para sempre...
Meu comentário: ao lado de Roque Camêllo e Raimundo Tonidândel, ambos eleitos na época, vereadores pelo PDC, e do saudoso vereador Waldemar Faustino, participaram conosco da Terceira Força Política e lutaram também pela vitoriosa campanha em favor da instalação da Cemig em Mariana, na década de 1960, - não só os então jovens companheiros como eu, Antonio Martins Machado, José Geraldo Rocha, José Oswaldo Guimarães, Dirceu Brás Xavier Silame, Emanuel Mol Muzzi, Mauro Moysés Marque da Silva, Geraldo Basílio Pimenta, Danilo Carlos Gomes, José Feliciano Mendes, José Maurílio Coelho e muitos outros jovens idealistas, - como também, no exercício do cargo de presidente da União Estudantil Marianense (UEM), mobilizei os estudantes secundários para participar de passeatas em favor da entrada da Cemig e a retirada imediata da antiga Companhia Força e Luz Marianense pelo péssimo serviço de energia elétrica prestado à população de Mariana.
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