segunda-feira, 2 de abril de 2012

Biocremação*

Tu És Água e à Água Voltarás
Um novo processo de cremação dissolve o corpo numa solução química e é promovido como sustentável
A humanidade já criou diversas formas de se desfazer dos restos mortais dos que vão embora – e agora surgiu mais uma. Chama-se biocremação e consiste em, com a ajuda de uma máquina, dissolver o cadáver numa solução química à base de hidróxido de potássio, substância similar à soda cáustica, usada em produtos de limpeza. Tecnicamente, o método chama-se hidrólise alcalina. No processo, como na cremação convencional, restam apenas os ossos, que são lavados, secados e triturados. O corpo, já em estado líquido, não contém mais do que aminoácidos e proteínas. O líquido é filtrado, tratado e reaproveitado na irrigação de jardins, por exemplo. A técnica da biocremação é empregada desde meados dos anos 90 para decompor animais de fazenda e cadáveres usados em pesquisa. Começou a ser utilizada com seres humanos nos Estados Unidos, em setembro do ano passado, por uma funerária de São Petersburgo, na Flórida. A firma projetava realizar 100 biocremações nos primeiros doze meses.
Na semana passada, essa projeção já havia subido para 200. A técnica já foi adotada em outros oito estados americanos, e, no Canadá e na Inglaterra, seu uso só depende de trâmites legais.
Os entusiastas da biocremação alegam que sua grande vantagem é a sustentabilidade. Na cremação convencional, o corpo é queimado à temperatura de 1000 graus num forno a gás. Do processo resultam 400 quilos de dióxido de carbono – o equivalente à emissão gerada por cinco viagens de avião entre São Paulo e Goiânia. Outros componentes tóxicos, como mercúrio, utilizados em preenchimentos dentários, também podem ser liberados. Na biocremação, o impacto ambiental é bem menor. O processo consome apenas 15% do gás usado na cremação a calor e reduz em 35% a emissão de dióxido de carbono e em 30% a de outros gases que contribuem para o efeito estufa.
Como muitos dos produtos e procedimentos sustentáveis, a técnica, por enquanto, custa caro: 2.100 dólares, contra 1.500 dólares, em média, da cremação tradicional. A biocremação completa em apenas em apenas três horas o processo que as bactérias, no caso dos corpos sepultados, podem levar anos para concluir.
*Fonte: revista Veja – Edição 2258, de 29.02.2012. Autor: Gustavo Simon.

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