domingo, 27 de maio de 2012

Patrimônio destruído*

Depredação: Dois alunos da UFOP derrubam pelourinho de Mariana. Um deles diz que foi ajudar o amigo, que estava pendurado na peça.
Gustavo Werneck – Enviado especial
Mariana – Um golpe cruel e certeiro no patrimônio cultural da primeira vila, cidade, diocese e capital de Minas. Na madrugada de ontem, dois estudantes de jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) depredaram o pelourinho de pedra sabão do século 19, com luminárias e 3,5 metros de altura que fica Praça Cláudio Manoel, em frente à tricentenária Catedral da Sé, na praça de mesmo nome, no Centro Histórico.
Segundo a comandante da Guarda Municipal, Letícia Maria Delgado, o ato de vandalismo ocorreu à 0h40 e foi denunciado à policia por pessoas que estavam no espaço público mais importante de Mariana. Quebrado na base, o monumento foi recolhido na tarde de ontem e levado para o Centro de Atendimento ao Turista (CAT), onde ficará até ser restaurado.
De acordo com o boletim de ocorrência da Polícia Militar, os acusados são Rolder Wangler Santana Martins, de 21 anos, e Gabriel Campbel, morador do Bairro Galego, em Mariana. Rolder foi ouvido na delegacia ainda de madrugada e depois liberado, mas os policiais não conseguiram localizar Gabriel, que correu em direção à Praça Gomes Freire. De acordo com o documento da PM, os dois teriam se pendurado na luminária, quando ela se quebrou e caiu no chão da praça, também conhecida como “da Sé”. Rolder machucou o pé e foi levado para um hospital, indo depois para a delegacia prestar depoimento. O Ministério Público Estadual vai instaurar inquérito para apurar as responsabilidades. Gabriel foi reconhecido por um homem de 30 anos, que estava na praça.
Na tarde de ontem, a secretária municipal de Cultura e Turismo, Walkiria Carvalho, mostrou a situação do monumento, que fica em área tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) há sete décadas. Ele apresenta rachaduras e tem os vidros das luminárias quebrados. “É um absurdo ocorrer um fato desse tipo. Trata-se de uma perda muito grande para Mariana e para o estado”, afirmou a secretária, que já chamou o mestre em pedra de cantaria Edniz José Reis para os consertos. Os gastos com o serviço, segundo a comandante da Guarda Municipal, ficarão a cargo dos estudantes, que, pelo Código Penal, também  podem pegar de seis meses a três anos de detenção, além de pagar multa.
Indignação   
O pelourinho, que compõe um dos cartões-postais mais conhecidos de Mariana, está agora com apenas a base aparente. Na tarde de ontem, um festival de música para crianças montou um tenda de circo sobre o monumento, mas muita gente foi à praça a fim de ver o estrago. E o clima era de revolta e indignação.
“Dois universitários fazendo isso contra o patrimônio da cidade. É o fim”, lamentou o músico Aloísio Fonseca, de 31. A professora de  biologia da Escola Estadual Dom Silvério, Cedyr Prado Maia, também foi conferir a situação e ficou impressionada:  “Fiquei sabendo de manhã e pensei que fosse um raio o causador desse absurdo. Uma cidade com mais de 300 anos de história e sujeita ao vandalismo”.
O Estado de Minas conversou por telefone com Rolder e ele disse que estava passando pelo local, vindo de um show da cantora Preta Gil, na Praça dos Ferroviários, quando viu Gabriel, que tem em torno de 20 anos, pendurado na luminária. Ele disse que tentou evitar “o pior” e subiu para impedir que o rapaz se machucasse ou depredasse o monumento. “Fiquei com o pé  machucado”, disse Rolder, explicando que estava indo ao hospital quando o9s policiais passaram e o levaram de viatura para que recebesse atendimento médico. 
Fonte: jornal "Estado de Minas", de 27.05.2012.
  

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