quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Memória político-cultural

Velha disputa entre UDN e PSD volta à tona nas últimas semanas em Mariana*
Ex-prefeita teria transferido biblioteca que ficava na casa onde morou Pedro Aleixo, fundador da UDN, como represália aos opositores do seu ex-marido, que pertencia ao extinto PSD.
Marcelo da Fonseca
A velha disputa entre UDN e PSD, que marcou a política brasileira até meados dos anos 1960, voltou à tona nas últimas semanas no município de Mariana, na Região Central do Estado. Tudo porque a biblioteca pública municipal, que funcionava na casa onde morou Pedro Aleixo (1901-1975) – estadista mineiro que participou da fundação da UDN –, foi retirada do lugar no início deste mês por determinação da prefeitura e transferida para o Centro de Convenções da cidade. No imóvel desapropriado vai funcionar um cursinho pré-vestibular. A mudança desagradou a parte da população, que questionou as razões da decisão e levantou a possibilidade de a troca ter sido motivada por uma rixa entre antigos rivais. Isso porque João Ramos Filho, ex-prefeito que foi assassinado em maio de 2008, e marido de Terezinha Ramos (PTB), prefeita cassada na semana passada, era integrante do antigo PSD.
O ex-prefeito do município e responsável pela criação da biblioteca pública em homenagem a Pedro Aleixo, Celso Cota (PSDB), lamentou a decisão da prefeitura, que, segundo ele, passaria a usar um espaço destinado inicialmente para eventos de negócio e turismo para outra finalidade. “A biblioteca ficava bem localizada na área central e prestava homenagem ao ex-presidente Pedro Aleixo, com um acervo rico em exemplares únicos que retratam a história de Minas. Levá-la para o centro de convenções é um erro, já que o espaço foi criado para receber eventos maiores da cidade e está virando uma extensão da prefeitura”, afirma Cota.
Para o ex-vereador Luciano Rolla, a mudança de lugar da biblioteca pode sim ter sido uma retaliação de Terezinha Ramos aos adversários de seu marido – e hoje seus adversários. Quem fica no prejuízo, em sua opinião, são os moradores, que perdem um espaço público que fazia referência a uma figura ilustre da cidade.
Já a vereadora Aida Anacleto (PT) criticou a falta de diálogo entre a prefeitura e a Câmara Municipal na hora de definir mudanças que afetam a população da cidade. “Só tomei conhecimento quando passei por aqui e vi a mudança. Mas a proposta não foi discutida com ninguém. A casa de Pedro Aleixo atendia muito bem a cidade, já que estava em um lugar tranquilo e perto de tudo. Foi um espaço projetado pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e atendia muito bem aos usuários. É mais uma mudança absurda a que assistimos sem poder participar”, disse a parlamentar.
O secretário de Educação de Mariana, Rinaldo Urzedo, negou qualquer motivação política para a troca e afirmou que a polêmica foi criada por pessoas que não concordaram com a mudança. “Essa questão política envolvendo UDN e PSD foi inventada por mentirosos para criar uma justificativa sobre a mudança, mas não teve nada disso”, explica. Segundo ele, a intenção é aumentar o número de usuários e o novo curso pré-vestibular vai ser coordenado pela própria prefeitura, para atender alunos das escolas públicas do município. “Queremos colocar a biblioteca em um espaço mais próximo da população e dinamizar seu uso. O lugar em que ela funcionava era destinado ao lazer e não ao setor cultural, o que fazia com que ela virasse um depósito de livros”, afirmou.
(...)
Fonte: jornal “Estado de Minas”, de 22.02.2012.
Meu comentário: que a transferência do acervo sobre Pedro Aleixo da Casa que leva o seu nome para o Centro de Convenções foi uma atitude infeliz, isso ninguém discute. Mas caracterizar essa transferência esdrúxula como se fosse uma velha disputa entre UDN e PSD é brincadeira!
É uma versão descabida típica de quem não conhece a atual política marianense. Quando havia essa briga antiga entre a Direita (UDN) e a Esquerda (PSD), esses atuais políticos marianense nem sequer tinham ainda nascido. A verdadeira história é outra.
Na verdade, a briga política começou em 2003, quando a Câmara Municipal de Mariana aprovou a mudança do nome da escola municipal Benjamin Lemos, homem de confiança e correligionário de João Ramos, para se chamar Dom Oscar de Oliveira. A proposta de mudança ocorreu no governo de Celso Cota por proposta do vereador Raimundo Horta. Como compensação, o poder público deu o nome de Benjamin Lemos a uma biblioteca municipal localizada durante muitos anos no Centro Educacional Municipal Padre Avelar (CEMPA), mas sem a placa indicativa de seu nome.
Depois a biblioteca foi transferida para o então Colégio Padre Avelar já agora com placa indicativa de seu nome. Em seguida a biblioteca mudou de lugar. Foi parar na Casa Pedro Aleixo. Finalmente, a ex-prefeita Terezinha Ramos instalou a biblioteca no Centro de Convenções.
Como se vê, é apenas mais uma briga agora político-cultural de ramistas contra ex-ramistas
Razões para mudnça de nome
Na ocasião, o jornal Ponto Final, de 26 de março a 03 de abril de 2003, há nove anos, deu a seguinte noticia, com o título abaixo:
“Vereadores aprovaram mudança do nome de escola municipal
Foi aprovada pelos vereadores da Câmara Municipal de Mariana, na última segunda-feira, 24, a mudança do nome da escola municipal localizada no Bairro Santa Rita de Cássia, mais conhecida como Cabanas II.
A aprovação do projeto fará com que a escola, hoje chamada Benjamin Lemos, passe a se chamar Dom Oscar de Oliveira. Segundo o presidente da Câmara, Raimundo Horta, a mudança se deve ao fato de Dom Oscar ter estado mais envolvido nas questões culturais da cidade, já que sua participação na área educacional trouxe grandes benefícios para Mariana, como a vinda do ICHS e a fundação do Museu Arquidiocesano, entre outros.
O vereador Geraldo Sales (Bambu), apesar de aprovar o projeto, questionou a mudança do nome da escola, já que Benjamin teve uma importante participação na área esportiva de Mariana. Raimundo completou dizendo que o nome de Benjamin será lembrado em outros projetos”.

Nenhum comentário: